Jornal Correio Braziliense

7 de Setembro

Manifestações do Sete de Setembro ficam marcadas por discursos inflamados de Bolsonaro

Em discurso inflamado para apoiadores no feriado da Independência, Bolsonaro afirma que o presidente do STF, Luiz Fux, tem de enquadrar seus pares ou pode sofrer consequências. Atos favoráveis ao governo ocorrem em todas as capitais

O Sete de Setembro, data cívica para celebrar a independência da nação brasileira, será lembrada este ano como o dia em que o chefe de governo federal insuflou milhares de apoiadores para aprofundar a crise institucional que acomete a República. Em busca de apoio popular para sustentar os ataques contra integrantes do Judiciário, o presidente Jair Bolsonaro liderou pessoalmente duas manifestações – em Brasília e em São Paulo – para intimidar ministros de tribunais superiores e defender bandeiras como “liberdade” e “Supremo é o povo”. Nas 26 capitais e no Distrito Federal, houve protestos de apoio a Bolsonaro. Nas ruas, manifestantes defendiam o impeachment de integrantes do Supremo, intervenção militar e voto impresso.

As manifestações do Dia da Independência foram marcadas por discursos inflamados do chefe do Executivo. Pela manhã, logo após o desfile de 7 de Setembro, o presidente discursou em cima de um carro de som. Estava acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, do vice-presidente Hamilton Mourão, do ministro da Defesa, Braga Netto e de Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho e Previdência.

“Nós não aceitaremos mais que qualquer autoridade, usando a força do poder, passe por cima da nossa Constituição. Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer sentença que venha de fora das quatro linhas da Constituição”, disse aos seus apoiadores. O presidente ainda defendeu seus aliados políticos, presos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), e ameaçou a Corte de Justiça. “Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil. Ou o chefe desse Poder enquadra o seu, ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, disse.

Bolsonaro afirmou que as imagens das manifestações em Brasília e São Paulo servirão de ultimato aos Poderes da República. “Esse retrato que estamos tendo nesse dia não é de mim, nem de quem está em cima desse carro de som. Esse retrato é de vocês. É um comunicado, é um ultimato para todos que estão nos três poderes”, exclamou.

Durante os protestos na Esplanada, o Correio encontrou o ministro da Defesa, Braga Netto. Sem máscara, o general da reserva cumprimentava apoiadores do presidente e tirava selfies em meio à aglomeração. Ao ser questionado sobre as manifestações, ele se limitou a dizer que não falaria sobre o assunto.

Após permanecer na capital federal durante toda a manhã, o presidente seguiu para São Paulo, onde desembarcou às 15h30. Na Avenida Paulista, onde milhares se concentravam, Bolsonaro discursou novamente. Desta vez, em tom ainda mais inflamado e direcionado aos seus apoiadores. “Enquanto estiverem ao meu lado, eu irei representar vocês. Só Deus me tira de Brasilia”, disse Bolsonaro.
Em seu discurso na Paulista, o chefe do Executivo atacou diretamente o ministro do STF, Alexandre de Moraes. “Não vamos admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar nossa democracia e açoitar nossa Constituição”, disse, sem mencionar sobre quais atitudes do ministro se referia. Para Bolsonaro só existem três finais possíveis para ele em 2022. “Só saio preso, morto ou com vitória. Direi aos canalhas que eu nunca serei preso”, reforçou.

O presidente voltou a defender e exigir o voto impresso em 2022, pauta arquivada pela Câmara dos Deputados em agosto, após a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição (PEC)135/2019. Desde a tramitação da matéria, o presidente acusa fraudes no sistema eleitoral por meio da urna eletrônica, sem apresentar provas, fazendo acusações a ministros do STF e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança e não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável", afirmou Bolsonaro, em referência ao presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

Popularidade

As pesquisas mais recentes acerca do cenário eleitoral para o ano que vem apontam a popularidade do presidente Jair Bolsonaro cada vez mais em baixa. Esta semana, o Atlas Político mostrou que entre os dias 30 de agosto e 4 de setembro houve mais uma queda na avaliação positiva do governo, de 37% para 35%. A rejeição atingiu 64% — há um mês, era de 63%. Outra pesquisa, do PoderData/Band, demonstra que Bolsonaro não fica na frente de ninguém no segundo turno da disputa presidencial em 2022. Na última segunda-feira, um dia antes das manifestações, o Instituto Atlas divulgou seu estudo mais recente, que aponta que o percentual de brasileiros que consideram o atual governo ruim ou péssimo chegou a 61%, o maior índice registrado até o momento.