O 7 de Setembro não foi apenas o momento da apoteose antidemocrática do presidente Jair Bolsonaro e de seus seguidores. Foi também a data em que se realizou a 27ª edição do Grito dos Excluídos, mas, desta vez, de forma mais discreta, bem diferente dos tempos de visibilidade nos governos do PT. Em Brasília, o ato foi realizado na Torre de TV, a poucos quilômetros da Esplanada dos Ministérios, onde os governistas se concentraram. A organização esperava milhares de pessoas, mas a presença ficou bem longe disso.
Flauzino Antunes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Distrito Federal (CTB), culpou os altos preços de alimentos e dos combustíveis pela baixa adesão ao Grito. “Nós viemos ao movimento de forma pacífica, até porque o nosso lema é mais feijão e arroz e menos fuzil. Essa é uma alusão de que nosso desejo não é mais armas, mas, sim, comida, emprego, saúde, vacina contra a covid-19. Esperávamos mais pessoas, contudo, temos consciência de que a situação do povo é complicada. Isso prejudicou muito a vontade dos mais vulneráveis em se integrarem”, lamentou.
Gabriel Sales, 24 anos, estudante de teologia e membro da juventude e revolução do PT, afirmou que o medo das agressões dos bolsonaristas desanimou muitos que pretendiam participar. “Sabemos que bolsonaristas colocaram armas para fora nas carreatas, que conseguiram passar pelo cordão dos policiais com facilidade. Você acha que, se fossem da esquerda, agiriam assim? Eles jogam spray de pimenta na nossa cara por muito menos, descem o cassetete na gente. Mas, ontem (segunda-feira), pela primeira vez vi a polícia paz e amor. Deve ter gente armada e , sim, isso reduziu bastante o número de pessoas aqui”, criticou.
Segundo o distrital Fábio Félix (PSol-DF), o Grito tem um caráter simbólico: “Estamos fazendo hoje uma manifestação para dizer que a rua em Brasília não é só dos autoritários. A gente marca uma posição em defesa da democracia e da ocupação do espaço público. Sabemos que existe hoje 68% de rejeição ao governo da gasolina a R$ 7”, explicou.
Ainda assim, os presentes foram para defender seus ideais. “Viemos para mostrar a nossa indignação com esse governo. Estamos para a luta e a briga, mas de forma politizada. O movimento de hoje (ontem) é o início de novos atos que estão sendo preparados”, disse o professor aposentado Isley Marth.
Para Thiago Ávila, organizador do movimento Bem Viver, o Grito é para quem “sonha com um país totalmente diferente desse que a gente vê hoje. É tudo o oposto do projeto dessa pessoa que ocupa a cadeira da Presidência, o oposto das pessoas que estão reivindicando ditadura militar”.
Já Madalena Rodrigues, do grupo Geração 68, a presença no Grito é uma forma de deixar claro que o período do autoritarismo no Brasil passou. “Somos a geração que viu, que sofreu, que vivenciou os horrores e a repressão da ditadura militar de 1964. O país está com a saúde, a educação e o meio ambiente se deteriorando diariamente e, por meios legais, é preciso afastar esse presidente para que o país possa respirar”, observou.