N o contexto de instabilidade política e crise institucional, o feriado de 7 de Setembro deixará de lado as comemorações pela Independência do Brasil para dar lugar a manifestações populares lideradas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e por opositores ao chefe do Executivo. Capitais de todo o país devem registrar atos na próxima terça-feira, e, em Brasília, apenas 3 quilômetros separarão os protestos a favor e contra o governo federal.
No Legislativo, no Judiciário e até mesmo entre setores do Executivo, a preocupação com ações mais radicais é grande e houve até um pedido para segurança a nível de posse presidencial para impedir que manifestantes mais inflamados tentem invadir o Congresso Nacional ou o Supremo Tribunal Federal (STF).
As manifestações bolsonaristas, especialmente, são as que mais geram motivo de inquietação, visto que a Esplanada dos Ministérios foi reservada para os apoiadores do presidente. Nos últimos meses, os organizadores do ato em Brasília falaram em depredar o prédio do STF e expulsar os ministros da Corte, o que levou à prisão o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, e motivou uma investigação contra o cantor Sérgio Reis.
O fato de Bolsonaro insuflar os apoiadores a não recuar nas críticas ao STF é outro motivo de apreensão. Segundo o presidente, as manifestações serão um “ultimato” ao Supremo. “Não podemos admitir uma ou duas pessoas querendo dar um outro rumo ao país. Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar”, disse, na última sexta-feira.
Lideram o movimento a favor do presidente setores mais conservadores, em especial evangélicos, católicos e representantes do agronegócio. No entanto, o apoio tem sido mais pessoal, sem a anuência de entidades. A avaliação é de que algumas instituições não querem dar respaldo a um protesto que tem sido pautado por protestos contra Poderes, mesmo com alguns organizadores tendo baixado o tom e passado a dizer que as manifestações serão pela “liberdade de expressão”.
“Evangélicos e católicos são sensíveis a esse chamamento. Não será uma manifestação de cunho religioso, mas sim político, que terá a participação de cidadãos conservadores que vão se manifestar em prol da agenda e vão expor seu compromisso com as liberdades e a Constituição. Mas não percebo uma mobilização institucional”, comenta o deputado Roberto de Lucena (Podemos-SP), membro das frentes parlamentares Evangélica e da Família.
Policiais militares também se movimentavam para estar no protesto, mas o Comando-Geral da Polícia Militar do DF Federal recebeu uma orientação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para que nenhum PM participe dos atos bolsonaristas na capital. Segundo o promotor Flávio Milhomem, a orientação é para que “a participação de militares da ativa seja explicitamente proibida e que a violação desta determinação seja apurada em procedimento próprio”. “O Ministério Público estará presente no dia da manifestação realizando o controle externo da atividade policial, que é sua missão institucional”, garante. A PMDF anunciou que cumprirá as recomendações do Ministério Público.
Afastamento
O tom intimidatório das manifestações, no entanto, afastou algumas categorias que participariam do ato bolsonarista. Caminhoneiros passaram a não aderir depois que Marcos Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, incentivou a classe a parar o Brasil e fechar rodovias — ele teve a prisão decretada na última sexta-feira por ameaças ao STF. Presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o Chorão, critica que líderes do agronegócio tentem usar caminhoneiros como “massa de manobra” e garante que não há uma mobilização para apoiar manifestações favoráveis ao presidente.
“Eu luto pelo nosso segmento. A gente não se envolve em pauta política. A categoria está sofrendo muito. O combustível e o gás de cozinha estão muito caros. Mesmo assim, tentamos orientar a categoria a não se posicionar politicamente. Nem contra ou a favor ao presidente ou contra ou a favor ao STF. O que eu vejo nessa manifestação do 7 de setembro é um movimento político, e, inclusive, quem está apoiando isso é quem está contra os caminhoneiros. Todo cidadão tem direito de se manifestar, mas não concordo de pegar um movimento e usar de bandeira”, critica.
Segundo Chorão, não há por que apoiar um ato pró-Bolsonaro no momento e os caminhoneiros deveriam lutar por melhorias para a classe, como a diminuição no preço dos combustíveis. “O que a gente ganhou na greve dos caminhoneiros, nós ganhamos, mas não levamos. Hoje, a gente vê no presidente uma narrativa de transferência de responsabilidade. Quando você fala para o governo que o combustível está alto, ele põe a culpa nos governadores. Ele precisa falar com os governadores, reunir para tentar achar uma solução.”
A Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) diz que também não apoia os atos. A Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA) diz que faz coro às manifestações, mas destaca que “a eventual participação de um caminhoneiro representará a vontade pessoal deste cidadão de manifestar sua liberdade de expressão”.
Segurança
A preocupação com eventuais episódios de depredação ou de conflito dos bolsonaristas com os manifestantes de oposição fez com que a Polícia Militar do DF anunciasse que o efetivo total da corporação estará de serviço durante o feriado. “A conduta de atuação será pautada, como sempre, nos parâmetros da legalidade e da legitimidade, corroborando conjuntamente com os Órgãos e Entes de Estado para o desempenho das ações necessárias ao exercício da cidadania e do Estado Democrático de Direito, tudo focado no objetivo de bem servir a comunidade”, frisou a PM.