O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), enfatizou, ontem, que “não se negocia a democracia” e destacou a importância de frear a crise entre Executivo e Judiciário, provocada pelas críticas do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “É muito importante que estejamos todos unidos, respeitando as divergências, na busca de consensos, na busca de convergências, mas com um aspecto que é, para todos nós, inegociável: não se negocia a democracia”, frisou, após reunião com governadores, na residência oficial. “A democracia é uma realidade, o Estado de direito é uma realidade. A sociedade já assimilou esses conceitos e valores, de modo que estaremos sempre, todos unidos, nesse propósito de preservação da democracia.”
De acordo com Pacheco, “não é possível interromper o diálogo com nenhum dos Poderes, com nenhuma das instituições”. “E não é possível não ouvir governadores dos estados. Um diálogo se constrói na busca de convergências e consensos, mas respeita divergências. É um exercício democrático.” Para o senador, “não há melhor ambiente do que a democracia.”
Da reunião, participaram gestores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha; de Minas Gerais, Romeu Zema; do Pará, Helder Barbalho; de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja; do Espírito Santos, Renato Casagrande; e do Piauí, Wellington Dias, também coordenador do Fórum dos Governadores.
Ibaneis ressaltou existir unanimidade “no sentido de que temos que caminhar juntos pela democracia”. “Isso foi pauta da última reunião e, reafirmado aqui hoje (ontem), com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no sentido de que a gente possa distensionar o país.”
A preocupação de governadores é de que as manifestações do 7 de Setembro, convocadas por apoiadores de Bolsonaro, se transformem numa ameaça à democracia. Eles também acreditam que a crise entre Poderes impacta a economia e afasta do país potenciais investidores. “Nós temos um reflexo muito ruim na economia, no encarecimento do preço de produtos. Buscamos, agora, dissipar esse ambiente, trazendo para a serenidade da política o Estado democrático de direito”, disse Ibaneis.
Renato Casagrande foi na mesma linha. “É o preço e o custo da instabilidade. Quanto mais instáveis são as relações políticas e institucionais, há um preço que, sem dúvida, é repassado para os alimentos e para o combustível. Por isso, o pacto feito pelos governadores com o Senado, em defesa da democracia e da Constituição, é fundamental para a gente estabilizar a economia”, afirmou.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro culpa governadores pelo aumento da taxa de desemprego e pela carestia. Ele argumenta que as medidas restritivas, adotadas pelos gestores para tentar frear a disseminação da covid-19, entre as quais o fechamento do comércio e o isolamento social, contribuíram para a redução dos postos de trabalho. O chefe do Executivo também os responsabiliza pela elevação dos preços dos alimentos e dos combustíveis.
Pacheco se comprometeu a dialogar com a equipe econômica do governo para tentar buscar soluções de combate à inflação. “Nosso inimigo é o preço do feijão, da gasolina, da luz elétrica. Temos de discutir isso no Brasil, e não perdermos tempo com aquilo que não convém”, sustentou.
Vacinas
No encontro, foi avaliada, também, a situação da pandemia e das vacinas contra a covid-19. A preocupação dos governadores com a imunização se deve ao fim de contratos para o Plano Nacional de Imunização (PNI), como o do Instituto Butantan, que se encerram neste mês.
“Precisamos de mais vacinas para garantir o controle do coronavírus no Brasil. Há a necessidade de ampliar a vacinação para quem não tomou nenhuma dose, para quem não completou a vacinação tomar a segunda dose, para pessoas entre 12 e 18 anos e para quem precisa de uma terceira dose”, afirmou Wellington Dias.
Pedido dos gestores
O encontro com Rodrigo Pacheco foi pedido pelos governadores, por meio de requerimento enviado ao presidente do Senado. A solicitação foi feita, também, aos presidentes da República, Jair Bolsonaro; do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux; e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O chefe do Planalto, porém, não deve aceitar. Ele não avalia de forma positiva uma reunião com os gestores, pois entende que serviria apenas para desgastá-lo.