A menos de uma semana para as manifestações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, no 7 de Setembro, o discurso dos participantes mantém o tom agressivo contra o Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo pedidos de deposição dos ministros da Corte. Sob a alegação de defender a liberdade de expressão e a adoção do voto impresso, eles pretendem defender uma pauta antidemocrática nos atos.
Manifestantes de todas as regiões do país se preparam para os protestos, cujos pontos mais importantes serão a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e a Avenida Paulista. Inspirados pelos discursos do presidente Jair Bolsonaro contra o Judiciário, participantes vão criticar as prisões de apoiadores do governo, ordenadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, em inquéritos que investigam a propagação de discursos de ódio nas redes sociais. Eles também vão levantar a bandeira do voto impresso, que levou o chefe do Executivo a ameaçar a realização das eleições de 2022 e se tornar alvo de inquéritos no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em vários estados estão sendo preparadas caravanas para Brasília e São Paulo. Uma delas é organizada pelo cabo da reserva da PM de Santa Catarina Leonardo Cabral, que vende por R$ 400 passagens de ida e volta para os atos na capital federal. “Eu tenho dois ônibus de um total de 40 que sairão daqui”, disse o militar ao Correio. Morador do município de Barra Velha, ele anuncia a caravana nas redes sociais. O texto é bem curto, mas deixa clara a tônica dos protestos. “O Brasil precisa de você, dia 7 de setembro, iremos a Brasília nos manifestar em defesa da democracia e lutar contra o julgo (sic) comunista do STF”, escreveu o PM.
Em redes sociais, organizadores de um dos grupos dizem que a mobilização é “contra corrupção, pela liberdade e contra as arbitrariedades do STF”.
De São Paulo, o empresário do ramo de fretamento Fábio Luis Cardoso, morador de Lins, disse que a previsão é de que mais de 300 ônibus deixem o interior para se dirigir à Avenida Paulista, na capital. O bolsonarista reclamou da situação do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), preso depois de gravar um vídeo com ameaças ao STF. “Nossa manifestação é contra o Supremo. Prender um deputado federal? Eu votei nele, e ele não pode falar por mim? É com essa indignação que estamos indo para as ruas”, afirmou à reportagem.
O Correio teve acesso a uma lista de caravanas organizadas para os atos. A orientação geral é de que os manifestantes levem faixas em outros idiomas, como inglês, espanhol ou francês. Segundo o comunicado, “as fotos dos cartazes vão para os jornais de todo o mundo”.
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Oposição
Além da manifestação organizada por apoiadores de Bolsonaro, movimentos populares que criticam o governo federal se preparam para um ato em Brasília no feriado da Independência. O tradicional Grito dos Excluídos vai concentrar o protesto contra o chefe do Executivo, mas partidos políticos, grupos estudantis e centrais sindicais também se mobilizam.
Entre as entidades que lideram a organização do ato, estão a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. PT, PSol e outros partidos de oposição também participam da mobilização. A tendência é de que eles se reúnam nos arredores da Torre de TV.
Algumas das principais pautas do protesto são os preços dos combustíveis, do gás de cozinha, dos alimentos e da conta de luz. A atuação do chefe do governo na condução da pandemia também será criticada, em especial pela demora na compra de vacinas e pela quantidade de mortos no país, que se aproxima de 600 mil.
“Neste momento, não tem tarefa mais importante para a classe trabalhadora brasileira do que derrotar o governo Bolsonaro. Por isso, todos nós temos uma tarefa muito importante: de ocupar as ruas e dizer para o Brasil e para o mundo que nós não queremos Bolsonaro. Queremos um país com democracia e desenvolvimento. E, para isso, o Bolsonaro tem que sair”, afirmou o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre. Integrante da Frente Povo Sem Medo, Edson Carneiro fez coro: “O Brasil não pode continuar com esse desgoverno da violência, da miséria, da fome, do desemprego e do caos social”.
O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Julio Danilo, confirmou, nesta semana, que a área ao redor da Torre de TV deve ser reservada para o protesto contra Bolsonaro. A pasta, no entanto, ainda não definiu como funcionará o esquema de segurança para impedir confrontos. “O planejamento para as manifestações previstas para o próximo dia 7 de Setembro está sendo elaborado. As forças de segurança do Distrito Federal atuarão de forma integrada, de acordo com a legislação vigente no país”, informou a secretaria, em nota.