COLUNA

Alexandre Garcia: '7 de setembro, o dia da Independência'

"A liberdade de expressão tem sido atingida, embora garantida pela Constituição. A pandemia foi pretexto para muita restrição às liberdades"

Já assisti a quatro 14 Juillet — a Data Nacional da França — em Paris. Estive num 4th July em Boston, onde começou a independência dos Estados Unidos. São festas cívicas, comemorando a pátria. Aqui no Brasil, a data nacional, em geral, se resume a paradas militares. Como em 2020, neste ano não haverá parada, por causa da pandemia. Mas, pelas expectativas e pelo fato de estar toda a mídia falando, tudo indica que na próxima terça-feira vai acontecer um 7 de Setembro com um público como nunca se viu — mesmo sem parada.

São Paulo é o lugar que mais chama a atenção. Apoiadores do presidente e contrários ao presidente mostrarão suas gentes na Avenida Paulista, uns, e no Anhangabaú, outros. As capitais, que têm mais exposição, vão atrair manifestantes do interior. Há gente de um novo “fique em casa”, que teme confrontos, o que equivale a temer manifestações e a temer o contraditório — tão saudáveis à democracia. Manifestações democráticas são aquelas que aceitam a diversidade de pensamento. Óbvio que fogo, destruição, paus e pedras, agressões nada têm a ver com democracia, mas com violência, fanatismo e brutalidade.

Que não se resuma o 7 de Setembro em um fora Supremo x fora Bolsonaro. As liberdades estão sendo feridas pouco a pouco, como sempre aconteceu em avanços do totalitarismo. E liberdade, todos são a favor, menos os totalitários. A liberdade de expressão tem sido atingida, embora garantida pela Constituição. A pandemia foi pretexto para muita restrição às liberdades, e é significativo que se vá pedir respeito às liberdades na comemoração do dia em que o príncipe Pedro gritou independência!, provocando a libertação de Portugal. Imitando a voz do príncipe, talvez seja a hora de romper o silêncio sobre as exceções frequentes no cumprimento da Constituição.

O encontro nas ruas tem recebido cada vez mais atenção da mídia. Os estrategistas políticos já devem estar considerando este 7 de Setembro um marcador. Será um divisor de águas, transformando um antes num depois? Como todo poder emana do povo, as ruas poderão ter um poder dissuasório mais que todos os canhões, tanques e soldados que desfilariam nas paradas canceladas.