CPI DA COVID

Flávio Bolsonaro viajou aos EUA com diretor da Precisa Medicamentos

Segundo documentos apresentados à comissão nesta quinta-feira (23/9) pelo senador Eduardo Girão, viagem teve relação com lobby pela legalização dos cassinos no Brasil

Jorge Vasconcellos
postado em 23/09/2021 18:10 / atualizado em 23/09/2021 19:44
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 descobriu que o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, viajou a Las Vegas (EUA), em janeiro de 2020, com Danilo Berndt Trento, diretor institucional da Precisa Medicamentos, que prestou depoimento nesta quinta-feira (23/9) à comissão. A empresa atuou como intermediária do contrato de compra da vacina Covaxin entre o Ministério da Saúde e o laboratório indiano Bharat Biotech — o negócio foi suspenso pela pasta por suspeitas de irregularidades.

Documentos relacionados à viagem foram entregues à comissão pelo senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE), o que surpreendeu parlamentares independentes e de oposição. Segundo ele, uma comitiva de senadores viajou à cidade americana entre os dias 23 e 24 de janeiro do ano passado. O senador disse também que a agenda teve relação com um lobby favorável à legalização dos cassinos no Brasil.

O deslocamento a Las Vegas, custeado pelo Senado, foi solicitado formalmente por Flávio Bolsonaro em dezembro de 2019 e autorizado pelo então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Segundo afirmou Girão, o ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, também integrou o grupo que fez a viagem.

O empresário Danilo Trento foi apontado como o verdadeiro dono da Precisa Medicamentos por Marconny Albernaz Faria, que fez essa afirmação durante depoimento prestado à CPI na semana passada. Faria é acusado de atuar como lobista dessa mesma empresa, que tentou vender ao Ministério da Saúde 20 milhões de doses da Covaxin ao custo de R$ 1,6 bilhão — durante as negociações, o valor de cada dose subiu de 10 dólares para 15 dólares.

Danilo Trento chegou à CPI munido de um habeas corpus concedido pelo ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o eximia da obrigação de responder a perguntas que pudessem incriminá-lo. Ele se negou a firmar o compromisso de só falar a verdade e não respondeu à maioria dos questionamentos, durante pouco mais de seis horas de depoimento. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) alertou que o empresário poderia ser preso, acusando-o de abusar das garantias asseguradas pelo habeas corpus.

Sobre a viagem a Las Vegas, Trento confirmou ter ido à cidade americana, mas se negou a revelar à CPI o nome do senador que o acompanhou na ocasião. Durante coletiva de imprensa, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), respondeu afirmativamente quando questionado sobre a possibilidade de Flávio Bolsonaro ser o parlamentar que acompanhou o empresário nos Estados Unidos.

"Não há possibilidade. Foi (Flávio Bolsonaro). Há um requerimento oficial do Senado com autorização para deslocamento às custas do Senado para essa viagem. Isso aconteceu em dezembro de 2019, e a viagem aconteceu em janeiro (de 2020). Não há possibilidade. Isso é fato. Essa informação foi trazida para a CPI pelo senador Eduardo Girão", disse Randolfe. Para reforçar a confiança nas informações, o vice-presidente do colegiado frisou que elas foram apresentadas por um parlamentar governista.

Investigação

O senador Humberto Costa (PT-PE) defendeu que a CPI investigue a fundo as relações entre Flávio Bolsonaro e o diretor institucional da Precisa Medicamentos. "Essa viagem demonstra a proximidade entre um determinado senador e esse cidadão. Aliás, a investigação que vai ser feita pode demonstrar que essa viagem se prolongou", afirmou o parlamentar.

Segundo Costa, "o depoente negou qualquer intimidade com políticos, com senadores, ou às vezes conhecia de ouvir falar, a, b ou c, mas não é comum um lobista, o dono de uma empresa que tem negócios com o governo, viajar com um senador e, mais ainda, para fazer tratativas que dizem respeito à tentativa de trazer para o Brasil a prática dos jogos de azar. Então eu acho que isso tem uma gravidade muito grande, e isso precisa ser aprofundado".

A CPI já havia descoberto anteriormente que Flávio Bolsonaro levou o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, para uma reunião com o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Flávio Bolsonaro se manifestou em nota. Leia a íntegra:

Alguns poucos senadores irresponsáveis da CPI, mais uma vez, distorcem fatos e criam narrativas para atacar o senador Flávio Bolsonaro e sua família. O senador nunca se reuniu com o Sr. Danilo Berndt Trento em Las Vegas, nem possui vínculo de qualquer espécie com o mesmo. O senador esteve na referida cidade em missão oficial e suas agendas estão publicadas no site do Senado Federal.

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