Cenas do ex-presidente Michel Temer rindo de uma imitação do presidente Jair Bolsonaro em um jantar viralizaram nesta terça-feira (14/9), apenas alguns dias após Temer ajudar seu sucessor a escrever uma "declaração à nação", carta divulgada pelo Planalto.
O atual presidente pediu ajuda ao antecessor para fazer um recuo e lidar com a crise institucional agravada por sua postura nas manifestações de 7 de setembro. Na data, Bolsonaro inflou seguidores fazendo ataques à democracia e ao STF.
Bolsonaro chegou a mandar um avião a São Paulo para buscar Temer para conversar sobre a crise. Temer depois confirmou à rede Globo que foi ele quem escreveu a carta.
A imitação de Bolsonaro que fez Temer rir é jantar é justamente do presidente em uma conversa fictícia reclamando do conteúdo da carta. "Cadê a parte que eu combinei contigo de queimar o STF?", diz o humorista André Marinho em imitação de Bolsonaro.
O encontro estava repleto de outros homens conhecidos no cenário político e empresarial brasileiro, entenda quem são eles.
Amigos e rivais
A imitação é feita pelo humorista André Marinho, apresentador do programa Pânico, na rádio Jovem Pan, e que já teve um contato muito próximo com Bolsonaro.
Autointitulado "liberal conservador", André não tem parentesco com a família Marinho, dona da Rede Globo - na verdade é filho do político e empresário Paulo Marinho e irmão da cantora Giulia Be.
Ele já era conhecido por imitar personalidades do meio político - de Sergio Moro e Henrique Meirelles a João Doria - quando foi convidado pelo CEO do grupo Jovem Pan, o Tutinha (Antônio Amaral de Carvalho), para apresentar o Pânico, em 2019.
A família Marinho já foi bastante próxima a Bolsonaro - a ponto de a casa de Paulo Marinho no Rio de Janeiro ser usada para gravar vídeos da campanha presidencial de 2018. Até hoje Paulo é suplente do senador Flávio Bolsonaro, ou seja, assumiria sua vaga caso Flávio deixasse o cargo. Os Marinho também eram próximos ao ex-ministro Gustavo Bebianno, que rompeu com Bolsonaro em 2019 e morreu em 2020 após passar mal em sua fazenda.
Os Marinho eventualmente também acabaram rompendo com os Bolsonaro. Em meados de 2020, veio à tona que Paulo Marinho revelou ao Ministério Público Federal detalhes sobre a relação de Flávio com seu ex-assessor Fabrício Queiroz, envolvido com o caso das "rachadinhas". Paulo revelou à Folha de S.Paulo também que Flávio Bolsonaro obteve informações privilegiadas da Polícia Federal sobre o caso.
Desde então Paulo Marinho passou a ser desafeto de Bolsonaro e até se engajou na pré-campanha do governador de São Paulo, João Doria, à Presidência da República.
André também passou a fazer um leve contraponto ao bolsonarismo na Jovem Pan, que nos últimos anos cresceu se voltando a um público conservador. Chegou a protagonizar um episódio de pancadaria neste ano, quando chamou o empresário bolsonarista Tom Abduch de "chorão" no Pânico e foi atacado por ele. O apresentador Emílio Surita chegou a ir parar no hospital por causa da briga.
O articulador
Além de Marinho e Temer, outro político pode ser visto no vídeo feito durante o jantar, o ex-ministro e presidente do PSD Gilberto Kassab.
Conhecido por ser um articulador e circular entre diversos campos do espectro político, Kassab foi ministro da Ciência no governo Temer entre 2016 e 2018 e ministro das Cidades de Dilma Rousseff entre 2015 e 2016.
Também foi prefeito de São Paulo entre 2006 e 2012, assumindo após o então prefeito José Serra sair para concorrer ao governo do Estado, e secretário do ex-prefeito Celso Pitta nos anos 1990, época em que seu patrimônio aumentou várias vezes de tamanho. Kassab chegou a enfrentar acusações de corrupção por causa do aumento de patrimônio, mas o processo acabou arquivado.
Próximos do poder
O jantar organizado por Temer aconteceu no apartamento de Naji Nahas, empresário e investidor que sempre foi próximo ao establishment político brasileiro.
Nahas foi acusado diversas vezes de atos ilegais em suas operações de especulação financeira, como uso de informações privilegiadas. Ele sofreu processo após a quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e chegou a ser preso em 2008 ao lado de Daniel Dantas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta na operação Satiagraha, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, mas foi solto pouco tempo depois.
Ele sempre negou as acusações e nunca foi condenado.
Também podem ser vistos no vídeo os jornalistas Roberto D'Ávila, apresentador e diretor da GloboNews, e João Carlos Saad, conhecido como Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes.
Saad é neto do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros e está na lista dos brasileiros cujo patrimônio chega na casa dos bilhões.
Também estava à mesa do jornalista Antonio Carlos Pereira, que foi diretor de opinião do jornal O Estado de S. Paulo até o início de setembro, quando anunciou sua aposentadoria.
No jantar também estava o advogado José Yunes, amigo do ex-presidente Michel Temer desde que ambos estudaram juntos na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) - Yunes chegou a ser preso pel PF acusado de ser intermediário de propina, mas foi solto logo depois.
Outras pessoas que podem ser vistas no vídeo são o médico Raul Cutait, cirurgião respeitado do hospital Sírio Libânes, e José Rogério Cruz e Tucci, advogado professor de Direito na USP e nome que já foi cotado para ser indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal).
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