MANIFESTAÇÕES

Atos previstos para feriado da Independência perdem força

Inteligência das Forças Armadas identifica sinais de enfraquecimento na adesão de civis e militares às manifestações pró-governo. PMDF faz diagnóstico semelhante

Jorge Vasconcellos
postado em 01/09/2021 06:00
 (crédito: EVARISTO SA / AFP)
(crédito: EVARISTO SA / AFP)

Os sistemas de inteligência das Forças Armadas — em especial, o do Exército — e da Polícia Militar do Distrito Federal identificaram sinais de arrefecimento no engajamento para os atos em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e contra o Supremo Tribunal Federal (STF), no 7 de Setembro. A informação foi passada ao Correio por um alto oficial militar. Ele disse que somente no domingo será possível conhecer o real tamanho dos protestos programados pelo país. Mesmo com essa avaliação, em Brasília, um forte esquema de segurança está sendo montado para proteger as sedes dos Poderes na Esplanada dos Ministérios.

“Já foi maior. A poeira está baixando”, afirmou o oficial, sob condição de anonimato, a respeito da adesão de civis e militares aos atos do feriado. Segundo ele, cresceu na cúpula das Forças Armadas a percepção de que não há a menor possibilidade de rompimento com a democracia, mesmo ante as pressões do presidente para que elas atuem como moderadoras da crise entre o Executivo e o Judiciário — o que é inconstitucional.

A fonte acrescentou que, para os militares de altas patentes, o país tem muitas prioridades, sobretudo o combate à pobreza, à inflação e ao desemprego. “Eles, inclusive, endossam as manifestações feitas pelo PIB em favor da democracia”, enfatizou, referindo-se a um manifesto organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com a adesão de mais de 200 entidades empresariais.

Os protestos do 7 de Setembro foram convocados por apoiadores do governo, em meio às ofensivas de Bolsonaro contra o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente passou a ser investigado em inquéritos nas duas Cortes depois de dizer que não haverá eleições em 2022 sem a adoção do voto impresso. Organizadores dos atos, como o cantor sertanejo Sérgio Reis, se tornaram alvo de investigações da Polícia Federal após prometerem “invadir” e “quebrar” a sede do Supremo para retirar os ministros à força.

O Governo do Distrito Federal vai mobilizar cerca de 5 mil agentes das forças de segurança locais e federais para atuarem durante as manifestações. Sem detalhar o efetivo de cada uma, o secretário de Segurança do DF, Júlio Danilo Souza Ferreira, disse, em coletiva de imprensa, que participarão polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros; policiais legislativos do Congresso; Força Nacional de Segurança Pública; militares do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) e seguranças do STF.

Ferreira informou, também, que haverá revista contra armas e o fechamento total da Praça dos Três Poderes. Segundo o secretário, o acesso à Esplanada, local onde os protestos devem se concentrar, será aberto apenas para pedestres.

Rebeliões

O secretário ainda descartou a possibilidade de haver rebeliões entre policiais durante o 7 de Setembro. Em todas as regiões do país, aumentou a preocupação das autoridades com eventuais atos de indisciplina depois de PMs irem às redes sociais convocar os colegas a participar dos atos em apoio a Bolsonaro.

“Não há detecção de levante ou movimentos por parte da Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros, que venham utilizar da manifestação para levantes. A corporação está bem tranquila. Estamos acompanhando a atuação das forças de segurança de forma coesa”, declarou. “O Ministério Público do DF também acompanha. Foi emitida solicitação, e temos agenda, devemos nos reunir com promotores da área da auditoria militar. Eles estão atentos à situação. E, junto às forças militares, acompanham de perto essa movimentação.”

Ferreira destacou que, apesar da expectativa de que os protestos sejam pacíficos, foram planejadas ações para coibir “pessoas que queiram se utilizar das manifestações para se impor de forma violenta”. Segundo ele, estão agendados 13 atos de grupos de direita, na Esplanada, e três de esquerda, ainda sem local definido. A previsão é de que os atos contra Bolsonaro ocorram na altura da Funarte. A Secretaria de Segurança Pública estuda bloquear o acesso à Esplanada a partir de segunda-feira.


Controvérsia

A Fiesp preparou um manifesto no qual pede harmonia entre os Poderes, mas adiou a divulgação, sob a alegação de ampliar o prazo para novas adesões ao documento. O manifesto, no entanto, causou reação negativa da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, que ameaçam deixar a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) — uma das signatárias — se o documento for divulgado.

 

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Bolsonaro incita apoiadores

 (crédito: Alan Santos/PR)
crédito: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro voltou a convocar simpatizantes a participarem de manifestações em apoio ao governo no 7 de Setembro. “Nós não podemos chegar lá na frente e olharmos para trás e falar ‘por que nós não fizemos ali atrás, por que nos omitimos naquele momento?’. A vida se faz de desafios. Sem desafios, a vida não tem graça. As oportunidades aparecem. Nunca uma outra oportunidade para o povo brasileiro foi tão importante ou será tão importante quanto esse nosso próximo 7 de Setembro”, discursou, em inauguração do Complexo de Captação e Tratamento de Água em Uberlândia (MG).

Bolsonaro também disse que a mobilização é para mudar o destino do Brasil, sem empunhar uma espada”. “Muitos querem que eu tome certas medidas. Creio que nós vamos mudar o destino do Brasil e, tenho certeza, dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Não será levantando uma espada para cima e proclamando algumas palavras. No passado foi assim. Hoje, pela complexidade, pelo que está em jogo na nossa nação, será um pouco diferente”, destacou. “Mas temos um outro 7 de Setembro pela frente. (...) O homem ou a mulher sem liberdade não é ninguém. A liberdade é origem para tudo, é a certeza que nós podemos crescer.”

Após motociata na cidade, Bolsonaro voltou a frisar que o 7 de Setembro “será a hora de o país se tornar independente para valer”. Ele atacou indiretamente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizendo não aceitar que “uma ou outra pessoa imponha sua vontade”.

“Chegou a hora de, no dia 7, nos tornarmos independentes para valer. E dizer que não aceitamos que uma ou outra pessoa em Brasília queira impor a sua vontade. A vontade que vale é a vontade de todos vocês”, discursou, seguido por coro de apoiadores com o grito de “eu autorizo”. “Vocês estarão mostrando, no próximo dia 7, que quem manda no Brasil são vocês, e temos a missão de fazer aquilo que vocês determinam. Assim sendo, até o dia 7, se Deus quiser. É um momento ímpar para o futuro do nosso Brasil.”

O chefe do Planalto disse que, desde sua chegada ao Congresso, em 1991, sonha com “este momento de colaborar, de mostrar para este povo o tamanho do Brasil, as suas riquezas, e onde nós poderemos chegar”. “Vivemos momentos um tanto quanto difíceis. Querem roubar aquilo que de mais sagrado nós temos, que é a nossa liberdade. Mas tenho certeza que, ao lado de vocês, vocês demonstrando o que querem para o Brasil, nós mudaremos o destino desta grande pátria maravilhosa”, acrescentou.

Ele repetiu que as manifestações darão o “norte” do governo. “E esse norte será dado com muito mais ênfase, com muito mais força no próximo dia 7. Pela manhã, estarei na Esplanada e, por volta das 15h30, na Avenida Paulista, em São Paulo. Lá, mandaremos um retrato para o Brasil e para o mundo, dizendo para onde este Brasil irá. Irá pra onde vocês apontarem”, destacou. “Todos nós do Executivo, Legislativo e do Judiciário temos a obrigação de estar ao lado do povo brasileiro.”

 

“Sinalização”

A frase “eu autorizo” começou a ser usada por bolsonaristas após o presidente pedir, em abril, “uma sinalização” do povo para agir. Ao comentar sobre o avanço da fome durante a pandemia, o chefe do Executivo, que culpa as medidas restritivas pelo agravamento da crise econômica, afirmou: “O Brasil está no limite. Pessoal fala que eu devo tomar providências. Estou aguardando o povo dar uma sinalização”.

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