O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antonio Galvan, repudiou a decisão tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, que permitiu a busca e a apreensão de documentos e aparelhos eletrônicos dele e de mais nove apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que estariam envolvidos na organização de uma manifestação em Brasília no 7 de Setembro em que uma das principais reivindicações seria a destituição dos 11 ministros da Corte.
Galvan e os demais envolvidos, dentre eles o cantor Sérgio Reis e o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), passaram a ser investigados pelo Supremo devido às ameaças que fizeram de invadir e depredar o prédio do STF durante o feriado da Independência. De acordo com Moraes, a mobilização pelo protesto, marcada pela incitação de atos violentos, aparenta a atividade de uma organização de empreitada criminosa.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (26/8), o produtor rural classificou a atitude de Moraes como “totalmente arbitrária”. “Eu estou sendo alvo do poder da caneta do ministro do STF, assim como de outros ministros, que estão impedindo a liberdade de expressão de sites e de apoiadores do Bolsonaro”, reclamou Galvan.
Ele prestou depoimento à Polícia Federal na quarta-feira (25/8) e disse que ninguém soube explicar por qual motivo estava sendo investigado. “O delegado me disse que eu estava sendo investigado por crimes. Eu perguntei que crimes, e ele disse que ‘incitação’. Mas incitação de que? Ele disse não tinha nada especificado, só incitação. Deixamos registrado que não tínhamos na mão esse inquérito. Os advogados estão entrando com uma cautelar para derrubar essa decisão totalmente arbitrária”, ponderou.
“O que nos deixa indignado é que não temos acesso ao inquérito. Não fizemos nada de ilícito, ou foi falado qualquer coisa que não seja dentro da legalidade. O ato de 7 de Setembro será como foi o manifesto de 15 de maio, que à época teve mais de 100 mil pessoas”, acrescentou.
Participação em protesto
Outra medida cautelar adotada por Moraes contra Galvan foi a proibição de ele se aproximar da Praça dos Três Poderes dentro de um raio de 1km. Mesmo assim, o produtor rural afirmou que virá a Brasília no feriado da Independência para manifestar contra o STF.
“Eu não estou impedido de estar Brasília, o que não posso é estar em mil metros próximo à praça. Eu vou estar em Brasília no dia 7 de Setembro. Agora, se estarei em outro movimento não sei falar”, declarou Galvan.
Para o presidente da Aprosoja, a decisão de Moraes apenas fortaleceu o movimento. “Se o objetivo era inibir ou coibir o movimento, o tiro saiu pela culatra. O ministro Alexandre de Moraes só fortaleceu. Muitos que estavam indecisos agora já afirmam que estarão na capital federal para os protestos.”
Galvan voltou a defender a destituição dos ministros do Supremo e reclamou da atuação da Corte. “Vocês acham que o Judiciário está jogando dentro das quatro linhas da Constituição? Querem que nosso presidente fique omisso? Eu defendo o direito de ir, vir e falar. Mas a responsabilidade da fala é de responsabilidade de cada um. E tudo precisa ser feito respeitando a Constituição”, opinou.
“A gente sempre pregou que todos os poderes tenham harmonia. O Supremo está lá para julgar o que está dentro da lei. Ninguém quer intervenção de A ou B, mas cada um que fique em seu quadrado, como cidadão apoio o impeachment do ministro”, completou Galvan.
Financiamento da manifestação
O presidente da Aprosoja negou que tenha contribuído financeiramente para o ato que acontecerá em 7 de Setembro, como acusa a Procuradoria-Geral da República (PGR) na petição que embasou a decisão de Moraes, mas reconheceu que muitos produtores rurais faziam doações para os organizadores do protesto.
“As arrecadações são espontâneas por parte dos produtores e demais pessoas que querem ajudar a manifestação. Eu poderia colocar algum dinheiro do meu bolso, mas nunca foi preciso e eu já presto outro serviço. Quem me conhece sabe que sou mão-de-vaca. Já presto um trabalho voluntário para o setor como dirigente e não tem sentido colocar a mão no bolso.”
Segundo Galvan, ele foi incluído na investigação apenas por ter recebido Sérgio Reis na sede da associação, em Brasília, há quase duas semanas. “Acabaram me envolvendo dentro dela só pelo fato do cantor Sérgio Reis fazer uma visita a nossa sede da Aprosoja Brasil, enquanto estávamos em assembleia. A gente recebeu (o Sérgio Reis), falamos sobre diversos assuntos durante nossa assembleia. Nada relevante no sentido de 7 de setembro. Foi um surgimento que acabaram me jogando dentro disso”, lamentou.
A petição da PGR, contudo, revelou que, durante o encontro, Sérgio Reis falou em “parar o país por 72 horas” caso o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), não tomasse alguma providência para destituir os ministros do STF. Ele ainda ameaçou os magistrados da Corte. “Se eles não atenderem ao pedido, a cobra vai fumar”, disse o cantor.