Recém-empossado como ministro da Casa Civil, numa estratégia do Planalto para melhorar a relação com o Congresso, Ciro Nogueira (PP-PI) passou a viver sob forte pressão desde que recebeu, também, a missão de atuar como bombeiro na crise entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro não tem conseguido conter os ataques do chefe do Executivo, o que o leva a enfrentar desgastes com membros da Corte.
Ontem (19/8), um dia depois de Nogueira ter se encontrado com o presidente do STF, Luiz Fux, e pedido a remarcação da reunião de chefes dos Poderes, Bolsonaro voltou a atacar o tribunal. Durante viagem a Cuiabá (MT), o presidente chamou de “ditadura” o fato de a Corte ter instaurado o inquérito das fake news, do qual ele é um dos alvos, sem ouvir o Ministério Público Federal.
Entrave
Essa investigação, aberta pelo então presidente do STF, Dias Toffoli, em março de 2019, foi validada por ampla maioria do plenário do tribunal, no ano passado, após ser questionada pela Rede Sustentabilidade. “Não se pode abrir um processo contra o presidente da República sem ouvir o Ministério Público, isso é ditadura”, acusou.
A avaliação, no meio político, é de que o comportamento de Bolsonaro atrapalha o esforço de Ciro Nogueira para melhorar a relação com o Congresso e, a partir daí, garantir uma sustentação partidária para o projeto de reeleição do presidente em 2022.
Em meio a essa desarticulação, adversários de Bolsonaro tentam atrair o apoio dos partidos do Centrão, bloco que dá sustentação ao governo e do qual Nogueira é um dos principais líderes.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, tem conversado com representantes de várias siglas, incluindo o PP do ministro da Casa Civil, de olho em possíveis alianças no ano que vem. Durante coletiva de imprensa em Teresina (PI), na quarta-feira, o petista disse que “o casamento entre Ciro Nogueira e Bolsonaro será mais curto do que imaginam”.
Licenciado do mandato de senador para assumir a Casa Civil, Ciro Nogueira tem entre os projetos políticos se candidatar ao governo do Piauí no próximo ano. Se for esse o caminho escolhido, terá de se desincompatibilizar do cargo de ministro até abril de 2022.
Cancelamento
No início deste mês, Luiz Fux cancelou um encontro previsto entre os chefes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário depois que o presidente Jair Bolsonaro insultou Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo, e ofendeu, também, Alexandre de Moraes, integrante da Corte e relator do inquérito das fake news.