O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, Omar Aziz (PSD-AM), suspendeu o depoimento do deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) sob a justificativa de reavaliar o convite. Ao dizer isso, sinaliza que poderia voltar a alterar de convite para convocação — neste caso, o depoente tem obrigação de comparecer, e é um requerimento visto como mais duro. A ação de Aziz se deu após uma fala do parlamentar que gerou ampla insatisfação entre os senadores de oposição e independentes ao governo.
O deputado, líder do governo na Câmara, criticou os trabalhos da CPI, dizendo que a comissão gerou um efeito negativo no país, afastando empresas interessadas em vender vacinas ao governo brasileiro. A questão gerou reação imediata da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que afirmou que isso não é verdade. O presidente Omar Aziz afirmou em seguida: "O senhor está mentindo aqui. Afastamos as vacinas que vocês do governo queriam tirar proveito, rapaz".
Aziz apenas suspendeu a sessão, o que possibilita o seu retorno ainda nesta quinta-feira. Entretanto, dentro da sala da CPI, a sinalização foi de que a sessão não retornaria hoje. Os senadores de oposição e independentes ao governo saíram para se reunir e deliberar sobre questão, enquanto os governistas deixaram o local ao lado do deputado Ricardo Barros.
Barros havia sido convocado pela CPI por suspeitas de envolvimento em negociação de vacinas que tiveram atuação de intermediários no Brasil: a Covaxin, da Bharat Biotech, então representada pela empresa Precisa Medicamentos; e a vacina chinesa da CanSino. No caso da primeira, a suspeita é que o deputado tenha atuado para facilitar o negócio com o governo brasileiro.
O nome dele foi levantado depois que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse em depoimento à comissão que, junto com o seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para denunciar suspeitas de irregularidades envolvendo a vacina indiana Covaxin. Bolsonaro, então, segundo Miranda, disse que a situação parecia ser “rolo” de Barros.
Em relação à vacina Convidecia, do laboratório CanSino, Flávio Pansieri, que já foi advogado de Barros, atuou como representante legal do imunizante em uma reunião da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O deputado afirmou nesta quinta-feira que Flávio também foi sócio do seu genro em um escritório de advocacia.
Outras relações
Além disso, a Belcher Farmacêutica, com sede em Maringá (PR), atuou como representante do laboratório chinês no Brasil, também tem relação com o deputado. Isso porque um dos sócios da Belcher é filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, amigo pessoal do parlamentar. A empresa foi alvo da Operação Falso Negativo, no Distrito Federal, do Ministério Público e da Polícia Civil do DF, deflagrada em março deste ano. A operação apurava o grupo por suspeita de fraude na compra de testes rápidos para covid-19.
O governo chegou a assinar uma intenção de compra de 60 milhões de doses da vacina em junho, a R$ 5 bilhões. Em meio às apurações da CPI, a CanSino rompeu contrato com a Belcher e, em seguida, a Anvisa encerrou o processo de análise da autorização temporária de uso emergencial, em caráter experimental, da vacina após perda de legitimidade da Belcher e do Instituto Vital Brazil S.A. por atuarem como interessados no presente processo administrativo.
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