A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 escuta, nesta quinta-feira (5/8), o empresário Airton Antonio Soligo, mais conhecido como Airton Cascavel. O depoente trabalhou como assessor do ex-ministro da Saúde, o general do Exército Eduardo Pazuello. Cascavel conseguiu um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) para não responder perguntas que possam incriminá-lo, mas começou a sessão se comprometendo ao falar a verdade sobre o que presenciou no Amazonas durante a primeira onda da covid-19 e pedir à população que se vacine.
O empresário disse aos senadores que conheceu Pazuello durante a operação acolhida e que foi chamado, posteriormente, para assessorá-lo quando o general assumiu a secretaria executiva do Ministério da Saúde. Afirmou que foi convidado por telefone e que o militar queria alguém com capacidade de articulação política, e que compareceu ao ministério ainda na gestão de Nelson Teich, que ficou à frente da pasta por menos de um mês. A convocação à CPI ocorreu por um requerimento do vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Segundo o parlamentar, o empresário seria o verdadeiro ministro da Saúde, e trabalhou na pasta, justamente, no período em que o número de mortes mais cresceu. Cascavel apresentou um currículo que inclui, também, um carreira política (já foi prefeito de Mucajaí-RO), vice-prefeito de Boa Vista e deputado federal), e contou que foi para o ministério após o convite por recursos próprios. "Cito o exemplo da doutora Luana Araújo, que também no Ministério da Saúde, doou um pouco do seu tempo em prol de combater a pandemia. E aceitei a perspectiva de que fosse algo transitório e de curto prazo", afirmou.
A médica infectologista Luana Araújo foi chamada pelo atual ministro, Marcelo Queiroga, para assumir uma secretaria de combate à covid na pasta, mas não pôde assumir devido à sua postura científica em discordância com a reiterada prática negacionista do governo federal.
Cascavel afirmou nesta quinta-feira que percebeu, ao acompanhar Teich em conversa com secretários de saúde, um desconhecimento da função do Sistema Único de Saúde (SUS). O depoente começou a sessão descrevendo brevemente a chegada ao Ministério da Saúde.
Disse, também, que os filhos e netos moram em Manaus, e que recebeu a ligação de um filho contando do descontrole da pandemia na capital amazonense à época e pedindo que ele fosse para casa. E Teich decide levar o ministério para Manaus. "Eu presenciei as cenas mais chocantes que vão impactar o resto da minha vida. No hospital Delfina Aziz, eu vi corpos e corpos sendo embarcados para o cemitério. Fui visitar o cemitério e vi a escavadeira cavando covas coletivas na rua, com mais de 120 pessoas enterradas por dia", disse.
O relato é o da primeira onda da covid-19. O número de mortos chegou a 200 na segunda onda, em janeiro último. E a CPI investiga a atuação da gestão Pazuello no estado por suposta negligência. O governo teria tentado transformar o Amazonas em um laboratório para o uso de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a doença. Cascavel relatou que quando da demissão de Teich e nomeação do general, ele não pode assumir como assessor, pois ainda não tinha se desvinculado das próprias empresas.