Durante o depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta terça-feira (3/8), o reverendo Amilton Gomes de Paula, apontado como intermediador pelo governo federal na compra de vacinas junto à Davati Medical Supply, negou ter se reunido com o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Rodrigo Dias e disse desconhecê-lo. A versão diverge da admitida por Dias, que, em 7 de julho, disse aos senadores ter se encontrado com o religioso.
Relator da CPI, Renan Calheiros (MDB/AL) questionou Amilton, presidente da Secretária Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), se ele conhecia Roberto Dias. A resposta foi: “não”, tendo sido complementada com a afirmação de que o ex-diretor também não estava presente em reunião para negociação de imunizantes. Garantiu, ainda, não conhecer o então número 2 da secretaria, coronel Marcelo Blanco.
Segundo o reverendo, não houve influência política para que as portas do ministério fossem abertas à Davati, empresa que garantia oferta de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, mesmo sem aval do fabricante para isso. “Eu não conhecia pessoas que pudessem conduzir ou abrir agenda em ministérios em relação a vacinas”, disse, completando que as demandas chegaram “via e-mails e plataformas digitais”.
Há, no entanto, mensagens extraídas do celular do policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresentava como vendedor autônomo de vacinas pela empresa Davati, que mostram conversa com o reverendo Amilton, na qual o religioso diz estar “na sala de Roberto Dias”.
O próprio ex-diretor, apontado por Dominghetti como responsável em fazer o pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina e que terminou preso durante depoimento na CPI, disse ter se reunido com Amilton uma única vez. “Eu lembro de tê-lo recebido em agenda oficial, na minha sala”, disse Dias, aos senadores. “A retórica era a mesma: possuía 'x' doses disponíveis e não possuía a carta de representação do fabricante. E aquilo acabou ali”, completou na ocasião.
A negativa de Amilton foi criticada pelos parlamentares membros do G7, grupo formado por membros da oposição e independentes que formam maioria na comissão. O presidente Omar Aziz (PSD/AM) estranhou o fato de o reverendo ter acesso ao Ministério da Saúde mesmo desconhecendo as figuras centrais da pasta. “A primeira coisa que uma pessoa pergunta é para onde você vai, com quem vai falar, e eles telefonam para poder deixar subir. Não creio, sinceramente, que o senhor foi lá acompanhado de outras pessoas sem ninguém ter dado um telefonema”.