O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília. O tucano chamou o chefe do Executivo de “pior presidente do Brasil” e afirmou que o governo é ridículo. Disse, ainda, que a população precisa ir às ruas para protestar contra a gestão do mandatário.
Doria também comentou a rejeição, pela Câmara, da proposta de emenda à Constituição (PEC) 135/2019, do voto impresso. Ele classificou o projeto como retrocesso e uma afronta à democracia e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também lamentou o fato de 14 deputados do PSDB terem contrariado a orientação do partido e votado a favor do texto.
O CB.Poder foi transmitido ao vivo, ontem, está disponível nas redes sociais do Correio e será reprisado na TV Brasília às 13h20 de hoje. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Tivemos nesta semana, além da votação do voto impresso, um desfile de blindados na Esplanada. Como avalia isso? Como se resolve isso?
Resolve com a eleição em 2022. E com o povo na rua. Bolsonaro está se apresentando como o pior presidente da história da República. E pior que ser um mau presidente, é um psicopata na Presidência da República. Esse ato de desfilar tanques na frente do Planalto, dos Poderes, o Poder Legislativo, Supremo, é de um ridículo atroz. Só na cabeça de Bolsonaro, e dos que pensam pequeno como ele, promover um desfile ridículo. O Brasil ficou ainda mais exposto ao ridículo internacional. Foi motivo de chacota nos grandes jornais internacionais, mostrando tanques ultrapassados, expelindo monóxido de carbono, e um deles virou. Foi uma incompetência tão grande, tanques velhos, inoperantes e, ainda, um capota. É de um ridículo atroz. Tão ridículo quanto o governo Bolsonaro.
Mas existe um governo que, mal ou bem, deve ficar aí até o fim de 2022, isso se não houver reeleição. Não dá para desprezar um presidente da República no exercício do cargo. É preciso uma relação entre os Poderes. Como o PSDB pode ajudar nessa construção?
É preciso olhar o país e seu povo desde já. Ter competência e responsabilidade, como estamos tendo. Inclusive, os governadores. Temos três governadores que atuam com respeito na defesa do povo e do Brasil. O governador Azambuja, do Mato Grosso do Sul; Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul; e nós, em São Paulo. E o PSDB tem uma boa bancada federal, tem voz, tem o ex-presidente da República FHC, que é um símbolo da democracia, do bom pensamento, da liberdade, da defesa da Constituição. Estamos agindo e continuaremos a agir em defesa do Brasil. Mas temos um governo medíocre, incapaz, inoperante e negacionista. Temos de defender o Judiciário, o Legislativo e o povo, para que o desastre não aumente. Precisamos ter atenção.
O presidente revela sua vocação autoritária ameaçando a Suprema Corte; ameaçou o Legislativo em tempos em que o deputado Rodrigo Maia era presidente da Câmara e (Davi) Alcolumbre, do Senado; ameaça governadores; quis retirar a PM dos governos estaduais com um PL (projeto de lei) estapafúrdio rejeitado na Câmara. Ele, constantemente, flerta com o autoritarismo. Temos de estar atentos. Os meios de comunicação estão atentos. O Brasil é observado de perto, dadas as ameaças constantes à democracia, e o povo brasileiro, que tem ido às ruas e irá com mais intensidade nas próximas semanas para dizer “democracia sim, Bolsonaro, não”.
No Congresso, está claro não haver espaço para o impeachment, e os partidos também não querem. O impedimento seria uma saída, ou é preciso que ele termine o mandato?
É uma decisão do Congresso Nacional. Cabe ao Congresso debater e votar, ou não, o impedimento do presidente. Mas isso nasce, evidentemente, do clamor das ruas, que impulsiona, e o desrespeito à lei. A desordem e a desobediência à Constituição também podem levar ao impedimento de um mandato de um presidente da República. O que todos nós nos entristecemos é o desastre de uma gestão pública que abandonou o país, o seu povo, diante de uma pandemia que já levou a vida mais de 565 mil brasileiros e que levou a uma desordem econômica sem tamanho, com mais de 20 milhões de desempregados. O Brasil vive sua pior fase de qualquer tempo na área social e econômica.
Nesta semana, Brasília está muito movimentada. A Câmara rejeitou o voto impresso, mas uma parte votou a favor da PEC 135/2019. Foi uma determinação partidária? O senhor é entusiasta do voto impresso?
Sou contrário ao voto impresso. Ele afronta a democracia e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A posição do meu partido, sob liderança do ex-deputado Bruno Araújo, foi de votar contra, como os sete deputados federais de São Paulo votaram. Votaram corretamente, a favor da democracia e contra Bolsonaro. Infelizmente, alguns outros tomaram decisões diferentes, mas vamos considerar isso como parte da democracia.
Esses deputados estão aliados a Bolsonaro? Tem uma parte do PSDB que está apoiando o presidente?
Essa é uma boa pergunta para você dirigir ao deputado Aécio Neves, que comandou a bancada dos adesistas, que votaram com o governo e com Bolsonaro. Prefiro ficar com os que votaram ao lado de Bruno Araújo e do meu partido, contra a PEC.
Muita gente do PSDB diz que um dos grandes erros que o senhor cometeu, ao longo de todo esse processo, foi a disputa com Aécio Neves. Até quando vai essa briga?
Não há briga. Eu procuro me ater ao que é importante e significativo para o meu partido, para o Brasil e para o governo que exerço em São Paulo. Meu foco é a boa gestão de um governo democrático, classificado como eficiente, transformador e inovador, e com a liderança do meu partido, o ex-deputado Bruno Araújo, que pensa como eu penso, tem uma visão democrática do país, de transparência, de transformação. E nas prévias do meu partido, que são significativas, importantes, democráticas. Temos quatro bons candidatos e bons temas.
Bruno Araújo já disse que, dependendo do que for construído em relação a uma terceira via para concorrer à presidência contra Lula, ou alguém do PT, e Bolsonaro, o PSDB poderia até deixar de ter candidato. Isso é possível?
Eu não tenho procuração do Bruno Araújo, mas tenho a informação do Bruno Araújo. Houve uma má interpretação em uma entrevista que ele deu a um grande jornal no Rio de Janeiro. A posição é pela defesa de um candidato e, por isso, estamos fazendo as prévias. No dia 21 de novembro, teremos o candidato vencedor das prévias, democráticas, com debate, entendimento, visão de cada candidato, para defender suas posições para o Brasil. A definição é pela candidatura desse que será o vitorioso, que não será a terceira via, mas a melhor via para 2022.
Teremos a cúpula do clima em Glasgow, Escócia, em novembro. Como o Brasil vai chegar, uma vez que nossa imagem, lá fora, está meio derrubada?
Nossa imagem está bem derrubada. Na área climática, é um desastre completo. O que se fez foi a negação à proteção ambiental, o distanciamento do Brasil dos programas de carbono zero, desrespeito pela floresta, pela selva amazônica, pelos princípios de proteção ambiental, caboclos, indígenas, quilombolas. Serei palestrante na COP, convidado pela Cúpula do Clima. Em São Paulo, aumentamos a cobertura vegetal em 3%, a floresta da Mata Atlântica. Estamos com o maior projeto ambiental do país, a despoluição e limpeza do Rio Pinheiros, com R$ 4 bilhões investidos e, ano que vem, o rio estará limpo depois de 70 anos poluído. E a primeira rodovia carbono zero construída, rodovia Piracicaba-Panorama, R$ 16 bilhões e carbono zero, um exemplo de que é possível um empreendimento em infraestrutura com 3,2 mil trabalhadores, a carbono zero. São Paulo assinou com a ONU (Organização das Nações Unidas) e a Cúpula do Clima para, em 2050, termos emissão zero de monóxido de carbono no estado.
Isso faz parte de um portfólio que o senhor pretende apresentar na prévia do partido, em novembro? O ex-governador Geraldo Alckmin disse que está saindo do PSDB. Como o senhor vê a saída dele e como será esse portfólio para a prévia tucana?
O portfólio para a prévia tucana é um projeto para o Brasil. Não é ataque a ninguém. Nem faria sentido. E a questão ambiental é parte desse portfólio. Educação, saúde, segurança pública, habitação social, proteção social, meio ambiente, cultura e desenvolvimento de relações internacionais para mais desenvolvimento. O governador Geraldo Alckmin tem o meu respeito. Ele é fundador do PSDB. Há 33 anos, integra o PSDB. Espero que ele mude de opinião e permaneça no partido. Quem sabe, para disputar a vaga no Senado, já que o nosso senador José Serra anuncia que não disputará a eleição. Vamos dar tempo ao tempo.
Assista a entrevista completa:
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