Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta quarta-feira (11/8), o diretor executivo da Vitamedic, Jailton Batista, informou que a empresa, produtora de ivermectina no Brasil, não realizou estudos sobre a eficácia do medicamento contra o novo coronavírus. Ainda assim, financiou um anúncio publicado nos principais jornais do país da Associação Médicos pela Vida em defesa do chamado "tratamento precoce" contra a covid-19, com uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.
No total, segundo Batista, a empresa pagou R$ 717 mil nos anúncios, publicados em fevereiro. De acordo com ele, o financiamento foi feito a pedido da associação e atendido pela empresa. No anúncio, o grupo de médicos se manifesta de forma favorável "à intervenção precoce no tratamento da covid-19", afirmando que "outras notas e cartas assinadas por médicos e sociedades médicas se posicionando contra o tratamento precoce" não os representavam.
"Destacamos que a abordagem precoce não se trata apenas do uso de uma ou outra droga, mas da correta combinação de medicações como a hidroxicloroquina, a ivermectina, a bromexina, a azitromicina, o zinco, a vitamina D, anti-coagulantes entre outras, além dos corticoides que têm um momento certo para sua utilização nas fases inflamatórias da doença, sempre observando-se a adequação das combinações ao estado e evolução de cada paciente, que será acompanhado extensivamente inclusive com a realização de exames conforme necessários, e a recomendação de intervenções não farmacológicas, como a fisioterapia", diz trecho do manifesto.
O faturamento da Vitamedic em 2020 cresceu 170% em relação ao ano anterior, segundo o diretor executivo da empresa. Especificamente em relação à ivermectina, houve um aumento de 29 vezes na venda do medicamento comercializado pela empresa em 2020.
Em fevereiro deste ano, a farmacêutica Merck, inventora da ivermectina, afirmou que não existem dados para apontar a eficácia da medicação contra o novo coronavírus. Um dia depois, a Vitamedic divulgou uma nota dizendo que, desde o início da pandemia, “a ivermectina passou a ser uma das alternativas para tratamento precoce da doença, especialmente quando estudos clínicos in vitro realizados pela University Monash, de Melbourne, Austrália, apontaram a ação antiviral do medicamento”.
A previsão inicial da comissão era ouvir o empresário, José Alves Filho, representante da empresa, que já teve sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário quebrados pela comissão. Em ofício enviado à CPI, contudo, ele sugeriu que Jailton fosse ouvido por entender melhor sobre a administração da empresa, enquanto José Alves saberia falar sobre as questões financeiras.
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