FORÇAS ARMADAS

Marinha: ida de blindados a Brasília não tem relação com PEC do voto impresso

Militares vão passar pela capital federal a caminho de um treinamento em Formosa. É a primeira vez que exercício ocorre em conjunto com Exército e Aeronáutica e que militares vão a Brasília em veículos blindados para convidar presidente a assistir treinamento

Sarah Teófilo
postado em 09/08/2021 22:06

A Marinha divulgou uma nota, na noite desta segunda-feira (9/8), dizendo que a ida de veículos blindados do militares a Brasília, sob a justificativa de entregar um convite ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Braga Netto, a um treinamento, não tem relação com a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso auditável, na Câmara dos Deputados. A votação está prevista para esta semana no plenário da Casa. 

"Cabe destacar que essa entrega simbólica foi planejada antes da agenda para a votação da PEC 135/2019 no Plenário da Câmara dos Deputados, não possuindo relação com a mesma, ou qualquer outro ato em curso nos Poderes da República", informou a Marinha. A instituição anunciou que, a caminho para um treinamento anual em Formosa (GO), vai passar em Brasília na próxima terça-feira (10) em veículos blindados e com armamento, sob a justificativa de que irá levar um convite ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Braga Netto para que assistam ao exercício militar no próximo dia 16 (começou no último dia 2 e vai até o dia 18).

O treinamento ocorre todo ano, desde 1988, mas, pela primeira vez, será em conjunto com o Exército e a Força Aérea Brasileira (FAB). Também é a primeira vez que os militares vão em veículos blindados fazer o convite, o que eles chamam de ato "promocional" ou simbólico.

A questão, entretanto, gerou ampla repercussão, em especial entre parlamentares, que apontaram que a ação seria uma tentativa de intimidação por parte de Bolsonaro, devido à iminência de derrota da PEC na Câmara.

O atos dos militares ocorrem em um cenário maior, de profunda crise institucional entre poderes encabeçada por Bolsonaro, que constantemente faz ameaças às eleições de 2022. O mandatário já afirmou que não haverá pleito no próximo ano se a PEC não for aprovada. Ele também faz reiteradas críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Recentemente, chegou a xingar o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

A Marinha, entretanto, afirmou que a entrega foi "planejada para contemplar um comboio composto por algumas das principais viaturas". No total, a operação tem 150 viaturas, e desse comboio, 14 ficarão em exposição em frente ao prédio da Marinha, na Esplanada dos Ministérios. "Os eventos buscam valorizar e apresentar, à sociedade brasileira, o aprestamento dos meios operativos da nossa Marinha", pontuou em nota. A viaturas saíram do Rio de Janeiro no dia 8 de julho.

Ao Correio, o ex-ministro da Defesa Celso Amorim disse que o ato só pode ser interpretado como uma ameaça. "Para fazer uma analogia com o direito internacional, a demonstração de força já pode ser considerada de um ato de guerra, dependendo da circunstância. É muito preocupante. Acho que a gente não pode ficar tranquilo. Tanque na rua é uma coisa muito preocupante", disse. Amorim atuou n governo da ex-presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2015.

Já o ex-ministro Aldo Rebelo, que chefiou a pasta da Defesa entre 2015 e 2016, disse ao Correio ter confiança de que as Forças Armadas não embarcariam em uma "aventura" proposta pelo presidente Jair Bolsonaro que viole a Constituição Federal, e que as ameaças do mandatário à realização das eleições não são levadas a sério.

Cenário

A ação dos militares ocorre em um contexto maior. Recentemente, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma reportagem na qual dizia que o ministro Braga Netto mandou um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por meio de um interlocutor político, de que se a PEC do voto impresso auditável não fosse aprovada, não haveria eleições em 2022. Lira não desmentiu a reportagem. Braga Netto afirmou que não fala por meio de interlocutores, chamou o episódio de desinformação e defendeu, ao final da nota divulgada, o voto impresso.

Antes disso, os comandantes das três Forças e o ministro Braga Netto divulgaram uma dura nota contra o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, senador Omar Aziz (PSD-AM,), depois que ele disse que os bons militares estavam envergonhados com o "lado podre" das Forças. Nela, a cúpula militar disse que "as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às Instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro".

Depois disso, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, disse em entrevista ao O Globo que as Forças não emitiriam 50 notas, que seria apenas aquela. “Homem armado não ameaça”, enfatizou. O comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, apoiou a postura, ao publicar a entrevista em seu Twitter.

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