CPI da Covid

Blanco diz que buscou Dominghetti para negociar vacinas em nome de empresas

Ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde é responsável por ter levado Dominghetti para se encontrar com o ex-diretor de Logística Roberto Dias em restaurante de Brasília

Sarah Teófilo
postado em 04/08/2021 15:37 / atualizado em 04/08/2021 15:42
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

Ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, coronel Marcelo Blanco disse em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (4/8), que buscava o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti, apontado como vendedor autônomo de vacinas pela empresa americana Davati Medical Supply, apenas para negociar imunizantes para entidades privadas. Segundo o coronel, o PM sempre o procurava, mas que ele só entrava em contato com Dominghetti para tratar sobre assuntos privados.

A questão foi amplamente questionada pelos senadores, tendo em vista que na época em que ele alegava negociar vacinas, em fevereiro, não havia qualquer lei que permitisse a compra de imunizantes pela iniciativa privada — ou seja, não tinha respaldo legal já que a legislação foi sancionada em 11 de março. Blanco argumentou que naquela época já era público que o assunto era discutido, apesar de não haver ferramentas legais. Depois de sair do ministério, ele abriu uma empresa, que não é do mercado de Saúde, não firmou nenhum contrato até o momento, e, na conta, não transitaram nem R$ 10.

Além disso, Blanco foi quem levou Dominghetti para encontrar o ex-diretor de Logística Roberto Dias, em um restaurante em Brasília. Na ocasião, Dominghetti afirmou que ao falar sobre a venda de 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca, Dias pediu propina de US$ 1 por dose. Blanco afirmou que durante o período em que estava no encontro, não ouviu qualquer pedido de propina.

Blanco afirmou, ainda, que não intermediou agenda ou negociação de vacinas para Dominghetti. Ele disse que o levou ao restaurante porque sabia que Dias estaria lá. “Eu aproveitei e falei: ‘Dominguetti, vamos fazer o seguinte? Já que você se encontra próximo e eu também, quero continuar as tratativas com o setor privado. Vamos lá, eu te apresento o diretor e você pede a sua agenda’. Foi isso que aconteceu”, afirmou.

Marcelo Blanco frisou, em diversos momentos, que apenas orientou Dominghetti a enviar mensagens para os e-mails institucionais. O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apontou contradição, quando ele diz que orientou o cabo a buscar os meios oficiais, mas o chamou para ir atrás de Dias em um restaurante, fora do ministério. Blanco argumentou que no local não foi tratado de vacina.

Lobby

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que Blanco “começa a fazer lobby na perspectiva de ter uma parceria comercial”, ao que o depoente negou. “Eu prospectava, na figura do Dominguetti, até porque eu estava iniciando o conhecimento dele, eu prospectava que ele poderia ser um possível parceiro comercial na iniciativa privada. Está claro em várias mensagens que eu coloquei aí. Então, é uma coisa absolutamente estanque da outra”, disse.

Orientação

Marcelo Blanco disse que em fevereiro, uma pessoa identificada como “Odilon” entrou em contato com ele dizendo que tinha uma empresa disponibilizando 400 milhões de doses de vacinas. O ex-assessor pontuou que, em seguida, o cabo o procurou e que, em um primeiro momento, perguntou como levar uma proposta ao ministério. “E eu o orientei, de forma muito rasa, como se dava o rito processual, até porque ele não sabia nada, nada”, disse.

Ele garantiu ainda: “Foi a primeira vez que ele falou que era representante de empresa multinacional que tinha acesso a vacinas, foi no início de fevereiro. E, nesse primeiro momento, ele indicou o Cristiano (Carvalho) como sendo o CEO da multinacional no Brasil. Foi essa a explicação. Ele jamais se apresentou como cabo da Polícia Militar de Minas Gerais. O Dominghetti que se conhece hoje é absolutamente diferente do Dominghetti que se apresentou para mim no início de fevereiro. Para mim se apresentava como representante de uma multinacional americana”, disse.

Influência

Blanco afirmou que após sair do ministério, em janeiro deste ano, não continuou exercendo influência na pasta — apesar de ter viabilizado encontro de Dominghetti com Roberto Dias em restaurante em Brasília. Questionado por senadores, disse não entender que a ação foi de enviar o cabo ao ministério, e que só o orientou a enviar e-mails institucionais.

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