CPI DA COVID

Luis Miranda diz à PF que tem medo de Lira, Ciro Nogueira e Ricardo Barros

Perguntado em depoimento sobre o motivo pelo qual demorou a declinar o nome do líder do governo na Câmara em depoimento à CPI da Covid, Ricardo Barros, deputado justificou temer as lideranças do PP citadas por ele "pelos olhos do presidente"

Sarah Teófilo
postado em 04/08/2021 13:33 / atualizado em 04/08/2021 13:34
 (crédito: Pedro França)
(crédito: Pedro França)

O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), em depoimento à Polícia Federal no âmbito do inquérito que apura o caso da vacina Covaxin, disse ter medo de três lideranças do PP: o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL); o líder do governo na Casa, Ricardo Barros (PR); e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, senador licenciado. O deputado do DEM havia sido perguntado sobre o motivo pelo qual hesitou em citar o nome de Barros em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, o fazendo somente ao final da oitiva.

“Eu tenho medo deles. Eu tenho medo do Ricardo (Arthur) Lira, do Ciro Nogueira, e do Ricardo Barros, que são os nomes que naquela tarde apareceram. Eu tenho medo deles. Eu tenho medo de verdade. Eu não pedi segurança por medo de um maluco na internet, Não tenho medo dessas coisas, porque Deus protege a gente. Eu tenho medo dessas pessoas pelos olhos do presidente”, disse em vídeo do depoimento obtido pelo Correio.

Ao falar sobre “nomes que naquela tarde apareceram”, refere-se ao encontro que teve com o presidente Jair Bolsonaro, em março deste ano. Na ocasião, foi com o seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, levar informações sobre suspeitas em relação à importação da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, que era representado no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos. À CPI, Miranda disse que, no encontro, Bolsonaro teria dito que a situação parecia ser “rolo” de Barros.

As falas de Miranda à PF são diferentes de uma entrevista concedida por ele ao programa CB.Poder, no fim do mês de junho. Na ocasião, ele afirmou que demorou a falar o nome de Barros para preservar a imagem do deputado. “Para preservar, inclusive, a pessoa do Ricardo Barros, caso, porventura, não seja ele. Tentei evitar uma polêmica. Não tem prova de que é ele”, disse o parlamentar. 

De acordo com Miranda e o irmão, na ocasião, o presidente disse que levaria as informações à diretoria-geral da Polícia Federal, mas não o fez, e afirmou que encaminhou o caso ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que deixou a pasta no dia seguinte após ter sido informado por Bolsonaro. Pazuello, por sua vez, afirmou que levou as suspeitas ao ex-secretário-executivo Elcio Franco.

Miranda também disse em depoimento à PF que o ex-ministro Pazuello alega ter sofrido pressão de Lira. Em nota, o presidente da Câmara afirmou que “as declarações dadas pelo deputado Luis Miranda devem ser respondidas pelo ex-ministro Eduardo Pazuello”. “Sobre as demais informações propagadas, o deputado deverá responder no foro adequado, que é o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados”, pontuou.

A reportagem entrou em contato com a Casa Civil, mas ainda não obteve retorno. No caso de Barros, ele sempre negou qualquer tipo de atuação no âmbito da Covaxin, e disse que a investigação provará isso. Questionado sobre a afirmação de Miranda à PF, Barros citou uma publicação no Twitter do deputado do DEM. Nela, feita no dia 29 de junho, Miranda disse: "Todas as minhas conversas com Ricardo Barros foram republicanas". O tuíte foi apagado na época.

Além disso, em entrevista ao Antagonista, no fim de junho, o deputado do DEM confirmou não ter como provar que Ricardo Barros tenha envolvimento com nada. "Ele não foi hostil comigo, não me ameaçou, não tem nenhuma pessoa que disse 'é esse cara que fez isso, aquilo'".

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