A "live bomba" prometida por Jair Bolsonaro (sem partido) para a quinta-feira (29/7), na qual ele alegava que apresentaria provas de fraudes nas eleições — mas não apresentou —, atraiu volume excepcional de engajamento para as já movimentadas redes sociais do presidente, gerando milhares de novas inscrições em seu canal no YouTube.
Apesar do grande alcance do pronunciamento, o resultado para Bolsonaro foi negativo, com as críticas ao presidente superando as reações positivas. É o que mostra levantamentos realizados pelas consultorias Arquimedes e Bites a pedido da BBC News Brasil.
Conforme a Bites, no último mês, a média de visualizações no canal do presidente no YouTube foi de 154 mil por dia — ele geralmente posta mais de um vídeo por dia.
"Só a live de quinta-feira teve 873 mil visualizações até o início da tarde de sexta-feira. Ela ainda impulsionou o número de novos seguidores do canal, que ganhou 30 mil ontem e hoje", observa André Eler, diretor adjunto da Bites.
Bolsonaro também alcançou repercussão acima da média no Facebook: a média de interações dele no último mês foi de 254 mil interações por post. Na live, teve 432 mil interações, 70% acima da média.
Segundo a Arquimedes, o post no Facebook foi o de maior interação no Brasil e o 11º no mundo na quinta-feira.
No Twitter, a consultoria identificou 358 mil publicações sobre o tema entre a meia-noite do dia 29 e as 12h do dia 30. No entanto, as críticas de opositores superaram os comentários positivos a uma proporção de 53% contra 47%.
"O que se percebe é que a live serviu para alimentar a base dos apoiadores de Bolsonaro para a convocação de manifestação no próximo sábado (1/8) e houve clara coordenação das lideranças", destaca Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes.
Segundo a Bites, a hashtag com mais citações entre quinta e sexta foi #Dia01vaisergigante, com 112,8 mil menções. A segunda, com 51,9 mil, #votoimpressoauditáveljá. Hashtags críticas tiveram repercussão bem menor (como #bolsofraude, com 12,2 mil menções).
"A despeito do próprio presidente ter afirmado que não possui provas, apenas indícios, perfis de diferentes agrupamentos bolsonaristas, como deputados e olavistas, rapidamente se manifestaram em tom de celebração, como se o conteúdo trazido por Bolsonaro fosse de fato uma prova cabal", acrescenta Bruzzi.
"Mais uma vez, o bolsonarismo se isola no debate, falando para dentro, apenas para os seus, e unindo opositores de diferentes espectros. As críticas contemplaram da direita, com nomes como Kim Kataguiri (DEM-SP) e João Amoedo (NOVO-RJ), ao PSOL e políticos do PT, como o senador Humberto Costa e o deputado federal Paulo Pimenta."
Abaixo, alguns dos tuítes sobre a live presidencial desta quinta-feira.
Mais de 500 dias sem provas de fraude
"Não temos provas [de fraude eleitoral], vou deixar bem claro", disse Bolsonaro na live que convocou para expor provas de fraude eleitoral, 507 dias depois de sua primeira fala dizendo que tinha evidências disso.
A primeira vez em que o presidente mencionou as supostas provas foi em 9 de março de 2020, durante um evento com bolsonaristas em Miami, nos Estados Unidos.
"Eu acredito que, pelas provas que tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito em primeiro turno, mas, no meu entender, houve fraude, tá? E nós temos não apenas uma palavra, nós temos comprovado e brevemente quero mostrar, porque nós precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos", declarou então Bolsonaro.
Desafiado a apresentar as provas em três ações na Justiça, ele nunca trouxe as supostas evidências a público.
Diante da piora do desempenho do presidente nas pesquisas eleitorais para a disputa de 2022, Bolsonaro tem insistido na tese de fraude nas eleições, como uma forma de pressionar pela volta do voto impresso.
Na live desta quinta-feira, o presidente reuniu uma série de vídeos antigos que circulam na internet apontando supostas fraudes nunca confirmadas.
Na sexta-feira (30/7), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse não ver chances de a Proposta de Emenda à Constituição do voto impresso ser aprovada na comissão especial da Casa. Na avaliação de Lira, o texto não terá apoio suficiente para chegar ao plenário.
"A questão do voto impresso está tramitando na comissão especial, o resultado da comissão impactará se esse assunto vem ao plenário ou não. Na minha visão, tudo indica que não", afirmou durante evento virtual promovido pelo site jurídico Conjur, segundo o jornal Folha de S. Paulo.
No mesmo evento, Gilmar Mendes disse que a discussão do voto impresso é "uma falsa questão" que esconde outras intenções.
"Essa ideia de que, sem voto impresso, não podemos ter eleições ou não vamos ter eleições confiáveis, na verdade, esconde talvez algum tipo de intenção subjacente, uma intenção que não é boa", disse Mendes.
"Vamos parar de conversa fiada. Claro que todos nós somos favoráveis à auditabilidade da urna, queremos que seja auditável, e ela é auditável", completou.
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