A Secretaria de Comunicação Social da Presidência divulgou, ontem, nas redes sociais, uma propaganda para homenagear o Dia do Agricultor. Mas em vez de tratores, colheitadeiras, plantações e trabalhadores do campo, colocou na mensagem no Twitter que parabenizava os agricultores a imagem de um homem armado com um rifle. O “card”, porém, foi retirado da rede social horas depois, diante da péssima repercussão.
“Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”, escreveu a Secom sobre a foto da silhueta do homem com o rifle.
O texto da Comunicação do Planalto também ressaltava que o presidente Jair Bolsonaro “estendeu a posse de arma do proprietário rural a toda a sua propriedade”, em referência uma lei sancionada em setembro de 2019. A mudança na regra permite carregar tais artefatos por toda a propriedade, e não apenas na sede do imóvel rural, como era previsto antes da nova legislação.
A propaganda da Secom provocou reação imediata nas redes sociais. Os termos “agricultor”, “jagunço” e “Secom” ficaram entre os assuntos mais comentados do Twitter. O governador do Rio Grande do Sul e presidenciável, Eduardo Leite, escreveu: “Será essa a melhor ferramenta para representar o agricultor brasileiro? Será dessa forma que nosso agronegócio quer ser visto e respeitado no mundo?” O ex-ministro Ciro Gomes, também pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, declarou que o governo promove a “simbologia do ódio e da morte em todos os espaços”.
Rodrigo Afonso, diretor-executivo da ONG Ação da Cidadania, em nota disse: “Na ponta daquele rifle retratado na postagem estão os indígenas, os quilombolas, os ribeirinhas e os pequenos produtores que lutam dia a dia pela sua sobrevivência enquanto o agronegócio avança em cima de suas terras, com agrotóxicos e espingardas”.
A Oxfam Brasil, que integra uma rede internacional que atua no combate à pobreza e à desigualdade, afirmou que a publicação da Secom “desrespeita” os trabalhadores rurais. “Não se planta com armas, não se colhe com armas. A imagem mais parece celebrar aqueles semeiam a violência no campo”.
A Secom justificou-se sobre a retirada de publicação. “A imagem utilizada anteriormente, em referência à segurança no campo, deu margem a interpretações fora do contexto”, disse em nota. A imagem utilizada no “card” está disponível em bancos de imagens genéricas e pode ser comprada por R$ 45 a R$ 3 mil, a depender do tamanho e da resolução escolhida para download. A fotografia é identificada como “Silhueta de caçador carregando espingarda no ombro e observando”.