INVESTIGAÇÃO

Perícia no apartamento de Joice

Polícia Civil do Distrito Federal inspeciona a residência da deputada, que apareceu com uma série de lesões. Ministério Público devolve inquérito do caso à Polícia Legislativa por dados incompletos sobre as diligências

A Polícia Civil do Distrito Federal realizou, ontem, uma perícia no apartamento funcional da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), na Asa Norte. O objetivo é entender se o imóvel pode ter sido invadido, além de avaliar o local onde ela disse ter acordado lesionada e ensanguentada, apesar de o espaço já ter sido limpo. A congressista sofreu lesões durante a noite do último dia 18 e disse não ter certeza do que aconteceu, mas cita a possibilidade de um atentado.

“A Polícia Civil fez agora longa perícia no meu apto com o que há de mais moderno em investigação. Também recolheu materiais para análise. Essa investigação vai até o fim. A PC também viu as falhas de segurança do prédio. Não existem câmeras de segurança nas escadas e entradas dos apartamentos”, escreveu Hasselmann, nas redes sociais. “Já disse, com todas as letras, que isso não é coisa de amador, mas de profissional. Ninguém entraria na casa de uma parlamentar para agredi-la dando ‘tchauzinho’ para a câmera do térreo ou do elevador, tendo tantos pontos cegos no prédio. Não terei o mesmo destino de PC Farias.”

Enquanto a PCDF avança na investigação, a Polícia Legislativa teve o inquérito devolvido por ter enviado ao Ministério Público Federal (MPF) laudos periciais incompletos sobre as diligências. A corporação afirma ter periciado 16 câmeras de segurança e ouvido testemunhas que trabalham na região. No entanto, no MP, o material recebido foi considerado insuficiente para se chegar à conclusão sobre denúncia ou arquivamento do caso. Assim que novas diligências forem cumpridas, a Polícia Legislativa poderá enviar novo relatório conclusivo.

Na segunda-feira, a parlamentar prestou depoimento à Polícia Civil e fez um exame no Instituto Médico Legal (IML). À imprensa, contou ter encontrado um objeto, no último domingo, que não pertence a ela nem a ninguém de sua casa. Segundo afirmou, entregou o objeto à polícia do DF. A deputada não quis dizer o que é, mas frisou não ser um objeto cortante. A Polícia Civil de São Paulo também acompanha o caso, por já investigar ameaças de morte contra a congressista.

Hasselmann acredita que pode ter sido vítima de um atentado com fins políticos. A deputada acusou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de tentar forjar uma versão falsa do caso. O ministro da pasta, Augusto Heleno, nega o que chamou de “ilações”.

Desconforto
As críticas de Hasselmann à Polícia Federal provocaram incômodo na corporação. Em uma entrevista coletiva, no domingo, a parlamentar ressaltou não ter procurado a instituição, após identificar lesões pelo corpo, por não confiar na integridade do trabalho de investigação. “Eu confio na instituição PF. Eu não confio é em algumas pessoas específicas e na possível interferência do governo na PF. Eu tenho receio de que o Planalto faça uma interferência. O GSI já está envolvido em uma tramoia”, frisou, na ocasião.

A congressista destacou, na coletiva, que tem defendido a autonomia da instituição. “O pedido de impeachment que eu apresentei contra o presidente Jair Bolsonaro é justamente por interferência na PF. Todos sabem que ele interferiu”, completou.

Em nota pública, a Fenapef rebateu as declarações. “O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Luís Antônio Boudens, comenta que é lamentável e incompreensível a fala da deputada Joice Hasselmann sobre a Polícia Federal, entidade respeitada pela sociedade brasileira e que trabalha todos os dias pela segurança pública”, enfatizou o texto.

Suposta queima de arquivo

Paulo César Farias, o PC Farias, foi tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Mello, hoje senador. O empresário alagoano foi assassinado em 23 de junho de 1996, com a namorada, Suzana Marcolino. O duplo homicídio ocorreu dias antes da data prevista para PC Farias depor na CPI que investigava esquema de corrupção envolvendo o governo.


Sem imagens de suspeitos

A Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados (Depol) disse não ter identificado a entrada de nenhuma pessoa estranha no prédio em que mora a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) entre 15 e 20 de julho. A parlamentar sofreu um incidente, ainda sem explicação sobre a causa, na madrugada do dia 18. Ela acordou com fraturas e hematomas pelo corpo e sem memória do que aconteceu.

“A Depol realizou perícia em 16 câmeras do prédio onde se localiza o apartamento funcional da deputada Joice Hasselmann e concluiu que a parlamentar não saiu do imóvel de quinta (15) a terça-feira (20), momento em que teria saído para o hospital”, informou. “Além disso, foram realizadas oitivas de funcionários que trabalham no local. Também não foi identificada a entrada de nenhuma pessoa estranha nesse período.”

Joice Hasselmann divulgou uma nota comentando as informações da Polícia Legislativa. “A nota da Depol prova o que eu tinha dito desde o início sobre as datas do ocorrido e derruba a tese espalhada por governistas de suposto acidente de carro: eu não saí de casa, como, aliás, é de praxe nos finais de semana. Eu mesma pedi perícia à PCDF do meu automóvel para comprovar que não houve qualquer avaria”, frisou.

Ela ressaltou que não existem câmeras de segurança nas escadas nem nas entradas dos apartamentos funcionais. “Eu mesma chamei a atenção para o problema em meu depoimento à Depol, e agentes alegaram que seria para resguardar a ‘privacidade’ dos parlamentares. Comuniquei a falha de segurança, também, à Procuradoria da Mulher da Câmara e à Polícia Civil”, acrescentou.