INVESTIGAÇÃO

Marido nega ter agredido Joice

Neurocirurgião Daniel França refuta qualquer possibilidade de violência contra a deputada federal, que está com uma série de lesões. Ele reclama dos "comentários maldosos" que circulam na internet

Marido da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), o neurocirurgião Daniel França negou, em entrevista coletiva ontem, qualquer ato de violência contra a mulher. A parlamentar está com uma série de fraturas e hematomas pelo corpo, mas disse não saber o que aconteceu. Ela relatou ter acordado ensanguentada no apartamento funcional que ocupa na Asa Norte, no domingo da semana passada (leia Entenda o caso).

França afirmou ser vítima de comentários maldosos na internet. “Eu nunca agredi ninguém. Em nenhum momento da minha vida, nunca, nunca dei um murro e um tapa em ninguém. Eu não tenho nenhum motivo para fazer isso”, enfatizou. “Eu jamais faria, e é exatamente por essa razão que tudo que eu posso fazer para comprovar o contrário eu estou fazendo. Fui voluntariamente à polícia para prestar depoimento e me coloquei à disposição da imprensa.”

O médico contou que estava no imóvel no momento em que teriam ocorrido as lesões, mas que não percebeu nada de estranho. Ele repetiu a afirmação da deputada de que dorme em quarto separado da esposa por ter problemas de ronco. “Eu estava no apartamento e tenho um problema que muitos aqui têm: ronco muito. Por essa razão, durmo em outro quarto. Eu não ouvi nada, porque estava dormindo em outro quarto”, disse. “Não havia sinais de luta corporal, então, acredito que ou ela caiu e sofreu as lesões, ou alguém fez com que ela perdesse a consciência. Não houve grito, e a primeira coisa que pensei foi se tratar de acidente doméstico.”

Questionado se poderia ter ocorrido um caso de sonambulismo, França refutou. Segundo ele, o remédio que a parlamentar toma para dormir, há 20 anos, é passível de provocar o problema, mas destacou que nunca viu nenhum episódio do tipo acontecer com a esposa. “Uma certeza é que ela sofreu um traumatismo cranioencefálico e raquimedular, ou seja, da coluna cervical. Isso é um fato, constatado pelos médicos”, ressaltou. “Isso poderia ter algumas causas. Ela pode ter sido agredida. Agressões físicas podem provocar esse padrão de lesão. Uma queda, já inconsciente, também pode gerar esse tipo de lesão, essas são as duas hipóteses.”

O neurocirurgião contou que costuma passar os fins de semana em casa. “Era um final de semana padrão, como outro qualquer. Em relação a tomar remédio para dormir, tomo apenas eventualmente. Não é habitual, é eventual. Mesmo assim, quando tomo, é uma coisa muito leve. Mas naquela semana, eu não tinha tomado nem na anterior. É algo muito raro.”

Hasselmann voltou a negar que o marido seja o responsável pelas lesões e acredita em queda ou em atentado. “Eu seria a primeira pessoa a fazer todo o barulho, colocando polícia aqui para frente. Se pelo menos falasse alto comigo, eu colocaria para fora”, ressaltou. “Ontem (sábado), ele passou o dia inteiro na internet olhando comentários nojentos, asquerosos, maldosos. Hoje, minha preocupação emocional é mais com ele do que comigo.”


Entenda o caso

Apagão e lesões

A deputada Joice Hasselmann disse que, na noite de sábado para domingo da semana passada, tomou um remédio para adormecer, o mesmo que usa há 20 anos. Ela assistiu a uma série e, em seguida, foi dormir, por volta de 1h do domingo. Às 7h03, acordou no chão, de bruços, em volta de uma poça de sangue e com dente quebrado. A parlamentar contou que pensou ter sofrido um mal súbito. Ligou, então, para o marido, que dorme em quarto separado “porque ele ronca muito”. Foi o neurocirurgião que prestou os primeiros socorros.

A deputada disse que só começou a suspeitar de que tinha sido vítima de um atentado quando exames mostraram a série de lesões. Ela ressaltou que desconfia de duas pessoas, ambas da política, e passou os nomes para a Polícia Legislativa. Um dos suspeitos teria acesso fácil ao prédio, conforme a congressista. O casal, porém, não descarta a possibilidade de ter sido um acidente doméstico.

No sábado, ao Correio, Hasselmann se disse indignada com os comentários de que o marido teria sido o responsável pelas agressões. “O povo está achando que eu sou mulher de malandro, que vou apanhar e ficar quieta. Se houvesse pelo menos uma ameaça de violência doméstica, eu ia denunciar na polícia. Meu marido é um príncipe comigo, um lorde. Pode ter certeza de que é a sétima fratura, a que mais me dói”, frisou.


Polícia Civil do DF investigará caso

A Polícia Civil do Distrito Federal vai investigar as lesões sofridas pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Ela prestou depoimento à Polícia Legislativa e ao Ministério Público Federal. De acordo com a congressista, as informações serão compartilhadas com as instituições que fazem parte das diligências.

“Eu não sei bem o termo técnico, mas a Polícia Civil do DF vai investigar o que aconteceu. Amanhã (hoje) vou fazer o exame de corpo de delito”, disse Hasselmann. Uma equipe da Polícia Legislativa deve acompanhar a deputada até o Departamento de Polícia Especializada (DPE). De acordo com informações obtidas pelo Correio, uma das linhas de investigação é de que uma terceira pessoa tenha entrado no imóvel, onde estavam a parlamentar e o médico.

O exame de corpo de delito pode colaborar para entender a origem das lesões, se ocorreram por queda, agressão ou qualquer outro tipo de trauma. Hasselmann apresenta cinco fraturas no rosto, uma na costela e uma lesão superficial na parte de trás da cabeça. Além disso, tem hematoma na região da perna.

Também serão analisadas imagens das câmeras de segurança espalhadas pelo edifício. A segurança foi reforçada na região.

A deputada disse suspeitar de duas pessoas, inclusive um parlamentar. “Um deles tem acesso muito fácil ao prédio, e o outro, a qualquer lugar que ele queira. Um deles fez ameaça, inclusive públicas, e o outro é um desafeto que já me mandou recados pesados e, recentemente, eu dei uma entrevista fazendo críticas muito duras a essa pessoa”, destacou, ressaltando que tem muitos “desafetos” entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Além da Polícia Civil do DF, o caso corre na Polícia Legislativa, no Ministério Público Federal e, de acordo com a deputada, na Polícia Civil de São Paulo, que investiga ameaças de morte que ela diz ter sofrido na internet e por meio de recados indiretos.

A parlamentar afirmou não ter procurado a Polícia Federal por não confiar na independência da corporação em relação ao Poder Executivo. “Eu confio na Polícia Federal. O que eu não confio é na interferência do governo na Polícia Federal. O (pedido) impeachment que eu apresentei contra o presidente Jair Bolsonaro foi justamente por interferência na corporação, que todos sabem que ocorreu”, alegou. (RS)

"Eu confio na Polícia Federal. O que eu não confio é na interferência do governo na Polícia Federal. O (pedido) de impeachment que eu apresentei contra o presidente Jair Bolsonaro foi justamente por interferência na corporação, que todos sabem que ocorreu”
Joice Hasselmann, deputada (PSL-SP)