Encontros com deputada acusada de nazismo

A deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), criaram mais uma polêmica nas redes sociais, ontem, ao postarem fotos com Beatrix von Storch, deputada do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), investigada em seu país por propagar ideias neonazistas, xenófobas e extremistas. A parlamentar alemã é neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler, Johann Ludwig “Lutz” Graf Schwerin von Krosigk — julgado em 1949 pelo Tribunal de Nurenberg e condenado a 10 anos de prisão, mas anistiado e libertado dois anos depois.


“Hoje recebi a deputada Beatrix von Storch, do Partido Alternativa para a Alemanha, o maior partido conservador daquele país. Conservadores do mundo se unindo para defender valores cristãos e a família”, escreveu Kicis em sua conta no Twitter.


O filho 03 do presidente, por sua vez, anotou na mesma rede social: “Excelente encontro com a deputada federal alemã Beatrix von Storch, que também é vice-presidente do partido Alternativa para a Alemanha. Somos unidos por ideais de defesa da família, proteção das fronteiras e cultura nacional”.
As reações foram imediatas. O Museu do Holocausto lamentou a publicação de Kicis e lembrou que o avô de Breatrix “foi um dos poucos membros do gabinete do Terceiro Reich a servir continuamente desde a nomeação de Hitler como chanceler” — ainda nos tempos de Paul von Hindenburg e antes de Hitler dar o golpe que instalou o regime totalitário na Alemanha.


“É evidente a preocupação e a inquietude que esta aproximação entre tal figura parlamentar brasileira e Beatrix von Storch representam para os esforços de construção de uma memória coletiva do Holocausto no Brasil e para nossa própria democracia”, completou o Museu do Holocausto, em texto publicado também no Twitter.


Kicis, porém, negou que Beatrix seja ligada ao nazismo. “A deputada Beatrix von Storch é uma parlamentar conservadora, que denuncia política de imigração na Alemanha e ataques às liberdades individuais, como a liberdade de expressão. Nada desabona sua conduta, por tudo que pesquisei. É a mesma narrativa contra conservadores aqui e no mundo”, rebateu a deputada.


Não é a primeira vez que personagens ligados ao governo de Jair Bolsonaro se veem envolvidos com a simbologia nazista. O primeiro a chamar a atenção para isso foi o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, ao divulgar um vídeo em que emulava a pose as falas de Joseph Goebbels, ministro da propaganda do regime de Hitler. O outro foi o ex-secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, que ao divulgar medidas adotadas pelo governo no combate à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, utilizou a mensagem “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) divulgou nota lembrando que a frase “O trabalho liberta” (“Arbeit macht frei”, em alemão) está inscrita no pórtico do antigo campo de extermínio de Auschwitz.