O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, Omar Aziz (PSD-AM), disse ao Correio que a ida do senador Ciro Nogueira (PP-PI), integrante experiente do Centrão, à Casa Civil, não muda em nada os trabalhos da CPI. Em meio a crises no governo federal, com queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e desgastes diários gerados pelas apurações da CPI, o mandatário convidou Ciro para ser ministro no lugar do general Ramos.
“Como presidente, ele (Bolsonaro) pode nomear e exonerar quem ele quiser. Eu pessoalmente tenho uma boa relação com Ciro, mas nada que ele possa fazer vai interferir nas investigações dentro da CPI. Nada, nada, nada. Se o objetivo é esse, acho que isso não vai funcionar. Não creio que funcione”, disse.
O chefe da pasta é importante no âmbito das articulações do governo junto ao Congresso Nacional, algo com que até hoje o governo Bolsonaro tem dificuldades. Exemplo disso é a própria criação da CPI, que o governo tentou, mas não conseguiu impedir. Ciro também integra a comissão, e será substituto pelo senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), hoje suplente. A ida de Ciro à Casa Civil é mais uma tentativa do Palácio do Planalto de reverter o cenário de desgaste, quando se encontra em sua pior fase, e tão perto das eleições de 2022.
“Não muda nada, absolutamente nada. Nós temos uma linha (de investigação), não é uma pessoa. O PP tem demonstrado na prática que apoia o governo. Então, ele (Ciro) estava na CPI, tinha comportamento como outro membro, defendia aquilo que achava que tinha que defender, se calava sobre aquilo que achava que não tinha que se manifestar. E no ministério, muda muito pouco, do meu ponto de vista, em relação ao comportamento da CPI. Até porque não estamos atrás de pessoas, estamos atrás de fatos. Se os fatos levaram a pessoas, é outra coisa”, disse Aziz.
O presidente da CPI ressaltou que a comissão começou com o fato determinante que é investigar as ações e omissões do governo federal, sem citar nomes. E segundo ele, a CPI começou a tomar corpo com o depoimento de uma pessoa que havia acabado de deixar o governo, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten. Foi ele que relatou que a Pfizer enviou uma carta tentando negociar venda de vacinas contra covid-19 ao governo, e ficou dois meses sem resposta.
“Até então, nós tínhamos pouco ou quase nada. Quem muda o rumo da CPI é o Fábio Wajngarten, quando leva as informações da Pfizer. Não fomos nós que criamos esses fatos, eles chegaram a nós. Aí, depois, a gente foi descobrir coisas piores que a Pfizer, como a negociação da Covaxin (por exemplo), uma vacina 50% mais cara e sem comprovação científica nenhuma que era boa”, disse.
O governo assinou um contrato de R$ 1,6 bilhão em 25 de fevereiro com a empresa brasileira Precisa Medicamentos, que representa o laboratório indiano Bharat Biotech, da Índia, na negociação. A vacina conseguiu autorização de importação excepcional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) só em junho. Em março, a agência negou certificado de boas práticas ao laboratório.
“Por isso que às vezes esses devaneios que tem contra a CPI, contra membros da CPI, tem que ter contra quem fez esse tipo de coisa”, pontuou Aziz.