CPI DA COVID-19

Omar Aziz: 'Roberto Dias era o grande operador dentro do ministério'

CPI apura suspeitas de desvios de recursos envolvendo com pagamentos mensais a parlamentares e servidores do Ministério da Saúde

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, Omar Aziz (PSD-AM), disse, nesta segunda-feira (19/7), que o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias era o grande operador, dentro da pasta, de um possível esquema de propina pago mensalmente a servidores e que envolveria também parlamentares.

“Tenho certeza de que o Roberto Dias era o grande operador dentro do Ministério da Saúde, não só naquela famosa reunião na mesa de bar no shopping, como também em outros contratos que o Ministério da Saúde assinou nos últimos dois anos”, afirmou em entrevista ao UOL. Aziz se refere ao encontro relatado pelo cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, apontado como vendedor autônomo de vacinas contra covid-19 da empresa Davati Medical Supply. O caso veio à tona depois que Dominghetti disse ter recebido um pedido de propina de US$1 a dose de Dias quando tentou vender 400 milhões de doses ao governo.

A CPI suspeita de que havia, dentro do ministério, um possível esquema que envolvia pagamento mensal a parlamentares e servidores da pasta. Reportagem sobre o assunto foi publicada nesta segunda-feira no site do UOL. As suspeitas vêm sendo comentadas pelos senadores, nos bastidores, nos últimos dias, e envolveria recursos de contratos da empresa de logística VTCLOG.

Empresa de logística

Integrante da CPI, Humberto Costa (PT-PE) disse ao Correio que há uma forte suspeita de que haveria um grupo de parlamentares se beneficiando de recursos gerados em contratos da VTCLOG. Na última sexta-feira, o Correio publicou reportagem mostrando que a CPI pretende mirar na empresa com a retomada dos trabalhos, no dia 3 de agosto.

A VTCLOG tem contrato com o Ministério da Saúde pelo menos desde 2009, segundo informações do Portal da Transparência do governo federal, com contratos firmados recentemente, e ao menos dois vigentes. A CEO da empresa, Andreia Lima, já foi convocada e deve ser ouvida no próximo semestre.

Aziz pontuou que, por muito tempo, Dias ficou no comando de todas as licitações. Foi retirado durante a pandemia apenas no âmbito das vacinas contra covid-19 — nesse quesito, as negociações foram centralizadas na Secretaria-Executiva, chefiada pelo coronel Elcio Franco. A CPI suspeita de que havia disputa entre dois grupos no ministério pelas negociações dos imunizantes.

“Ele controlava todo o ministério, desde 2018 ele está ali atuando. Há fortes indícios, segundo está sendo apurado, de que haja esse tipo de comportamento (pagamentos mensais). Agora, vamos continuar investigando para que a gente possa em cima dos fatos chegar aos nomes, sem ter irresponsabilidade de acusar A ou B. Mas há um forte indício, sim, até porque o contrato, houve um aumento de 1800% do contrato”, afirmou.

Contratos federais

O site da transparência do governo aponta que a empresa firmou ao menos 16 contratos com o ministério. Sete foram assinados no período em que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), também alvo da CPI, era ministro da Saúde.

“A VTCLOG não está somente no Ministério da Saúde; ela está em outros órgãos que nós estamos investigando também. Temos indícios também que foi colocado também em outros órgãos através de indicação. Apesar da CPI ser da covid, é necessário saber que há uma rede em que a VTCLOG está dentro, atuando também em outros órgãos do governo federal", afirmou. Transparência mostra que a empresa tem contrato vigente, assinado no ano passado, também no Ministério da Defesa.

Aziz ressaltou que Roberto Dias foi mantido no cargo no ministério. Como já publicado, houve tentativa de demissão do homem em outubro do ano passado, mas a exoneração foi revertida após intervenção que teria partido do DEM. “Ele foi nomeado pelo Mandetta (ex-ministro Luiz Henrique Mandetta) e depois se manteve no cargo, não saiu. Houve mudanças em vários cargos. Ele foi sair depois que a CPI o denunciou. Até então ele era intocável”, afirmou.

Em nota, a VTCLOG disse que "repudia, com veemência, todos os fatos imputados a ela que tenham o condão de macular a sua imagem e reputação". "Essas acusações são irresponsáveis e, quanto a todas elas, a empresa adotará todas as medidas judiciais cabíveis", pontuou a empresa, em nota.