Com muitas frentes de investigação distintas, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 irá dividir forças entre os senadores já durante o recesso de 15 dias, divisão esta que deve continuar com a retomada dos trabalhos, no dia 3 de agosto. A ideia é que, com o volume de informações que se tem, a apuração seja “dividida” entre os parlamentares, para que no decorrer das oitivas, a CPI não acabe deixando assuntos para trás.
O presidente Omar Aziz (PSD-AM) disse ao Correio que irá se reunir neste sábado (17/7) com o grupo majoritário, formado por senadores da base e de oposição (chamado de G7, ou G6, após a saída de Eduardo Braga, do MDB do Amazonas), para definir com quem ficará cada frente de investigação.
A CPI tem como escopo principal a apuração de ações ou omissões do governo federal. Mas no decorrer da investigação, que já dura 12 semanas, os senadores se depararam com diferentes temas que exigem dedicação. Um deles é a existência de um gabinete paralelo de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro com informações negacionistas no âmbito da pandemia, como a chamada “imunidade de rebanho natural” e uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19.
Outra é relativa às omissões do governo quanto à negociação de vacinas com grandes laboratórios. E a última, que estava no foco da comissão nas últimas semanas, refere-se a suspeitas de irregularidades envolvendo a negociação de imunizantes, com possível beneficiamento financeiro de servidores públicos. Os senadores observam com suspeita o fato de o governo ter dado preferência a negociações de vacinas com intermediários, deixando de lado laboratórios reconhecidos, como Pfizer.
“Temos várias frentes, e vamos definir quem fica responsável pelo que”, disse Aziz, que descarta a criação de sub relatorias. Ele cita que é preciso apurar as denúncias feitas pelo governador cassado do Rio de Janeiro Wilson Witzel, relativo a hospitais federais no estado, assim como as questões já levantadas sobre a negociação da vacina indiana Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, representado no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos, alvo da CPI. Aziz também fala sobre a importância de manter as apurações relativas à Davati Medical Supply, que tentou vender 400 milhões de doses de vacina da AstraZeneca. A farmacêutica já negou que venda a empresas e afirmou que negocia diretamente com o governo.
O presidente Omar Aziz pontuou que as apurações sobre pessoas ou empresas que tenham lucrado com o incentivo ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como cloroquina e ivermectina, deve ficar com o senador Humberto Costa (PT-PE). O senador petista vinha falando sobre a ideia de dividir as apurações para que a comissão não deixe nenhuma ponta solta para trás.
Na última sexta-feira (16), Humberto disse ao Correio que diariamente, com tantos depoimentos, os integrantes da CPI acabam trabalhando “correndo para cima do fato do dia”. “Precisava ter uma divisão de trabalhos para que nós tivéssemos pessoas responsáveis por determinados temas, de modo que aquilo que surgisse não implicasse em deixar outros para trás”, afirmou.