ENTREVISTA

'Bolsonaro não será reeleito', afirma João Doria em entrevista exclusiva

Tucano sustenta que, se presidente resistir às pressões e continuar no cargo, vai ser derrotado nas urnas em outubro de 2022. Pretendente ao Planalto, o gestor paulista afirma que eleitores terão um nome forte como opção à polarização: "Nem horror, nem terror", diz

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), acredita que, se o presidente Jair Bolsonaro conseguir se manter no cargo — mesmo diante de manifestações nas ruas contra ele e de mais de uma centena de pedidos de impeachment —, será derrotado nas urnas em outubro de 2022. “Ele não será reeleito presidente do Brasil”, enfatizou, em entrevista a Denise Rothenburg, no programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.

O tucano destacou que Bolsonaro “gosta de flertar com o autoritarismo”, mas afirmou que o país se manterá resistente a um eventual “ímpeto golpista” do mandatário. O gestor de São Paulo também disse que, até o pleito de 2022 haverá tempo suficiente para surgir um nome alternativo à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula. “Nem direita nem esquerda. Nem horror nem terror”, frisou. O próprio Doria disputa, dentro do PSDB, a indicação a candidato ao Planalto. Veja os principais trechos da entrevista:

O país vive uma crise entre os Poderes há alguns meses. O presidente Bolsonaro vem aumentando suas declarações contra o Supremo Tribunal Federal. Qual é a sua avaliação?

Lamentavelmente, o presidente Bolsonaro gosta de flertar com o autoritarismo. Ele tem uma forte tendência a posar de ditador. Só falta subir uma espada, montar num cavalo e declarar que é o ditador do Brasil, porque vontade ele tem. E, muitas vezes, faz isso por meio de agressões ao Supremo Tribunal Federal, cortes, Legislativo, governadores, intelectuais, artistas, jornalistas e veículos de imprensa. Eu não me lembro, desde a ditadura militar e do golpe de 1964, de ameaças tão constantes à democracia e à Constituição como neste governo Bolsonaro, mas as forças democráticas e as instituições brasileiras serão maiores e mais fortes do que esse ímpeto golpista dele.

Acredita que há espaço para um processo de impeachment, ou é necessário deixar o presidente terminar o mandato?

Existem mais de 125 processos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro registrados e protocolados no Congresso. Aliás, é o maior número de solicitações de impeachments da história. Inúmeros crimes de fato foram cometidos, mas só cabe essa decisão ao Congresso e ao clamor das ruas, que não houve, dado a pandemia, e a necessidade de distanciamento, isolamento e uso de máscaras. Agora, com o avanço da vacinação, a população voltará às ruas e, pelo clamor das ruas, é que deverá decidir o Congresso Nacional. Se Bolsonaro resistir, será derrotado nas urnas em outubro de 2022. Ele não será reeleito presidente do Brasil.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que não dará início a um processo
de impeachment. Como se comportará o PSDB diante dessa situação?

Nessas circunstâncias, vamos derrotar Jair Bolsonaro nas eleições de outubro de 2022. Aliás, derrotaremos não só Bolsonaro como o ex-presidente Lula. Nem direita nem esquerda. Nem horror nem terror. Nós vamos seguir um caminho alternativo, do PSDB. Por isso, estamos fazendo as prévias de forma democrática, o único partido no país que está realizando primárias para definir o seu candidato. Temos quatro concorrentes, quatro pessoas de grande valor, me referindo a Tasso Jereissati, Arthur Vigílio e Eduardo Leite. O PSDB sairá fortalecido das prévias, porque o nome que vencer o sufrágio nas urnas digitais será, a partir de 21 de novembro, o candidato do PSDB às eleições de 2022 para a Presidência da República. Eu estou convicto de que esse candidato, ao vencer as prévias, estará fortalecido para o bom e construtivo diálogo com outros partidos, numa convergência do centro democrático, e estará validado pelas urnas das prévias a engrandecer esse debate e o diálogo com outros partidos. Eu entendo que o Brasil precisaria de paz, harmonia e esperança para vencer as próximas eleições em um campo diferente, que não seja o PT de Lula, ou do “não sei qual partido”, de Bolsonaro.

Todos dizem que o centro precisa estar unido para conseguir derrotar pelo menos um dos extremos e chegar ao segundo turno. Na reta, já temos um candidato do PDT, Ciro Gomes; e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, já lançou o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Como será essa disputa, uma vez que, com três nomes do centro, dificilmente, se conseguirá fazer frente aos dois candidatos dos extremos?

Há um longo tempo ainda pela frente. As eleições só serão em outubro do ano que vem. Temos praticamente 16 meses ainda. Tempo suficiente para destilar, cristalizar e consolidar nomes que poderão convergir para um candidato. Sem pressa, sem açodamento, sem pressão, mas com diálogo e com convergência. Os nomes que você mencionou são bons, portanto, passíveis de uma conversa, mas ainda é cedo para estabelecer o grau de convergência. Até o final do ano, eu acho que teremos melhores oportunidades e melhor condição eleitoral, de pesquisas, que podem induzir e estimular partidos que promovem o centro democrático no Brasil a convergirem e dialogarem em busca de uma única candidatura, que terá chances reais de vencer Lula no segundo turno das eleições. Se estivermos fracionados, perderemos as eleições.

Voltando à prévia do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se apresentou,ornou-se mais conhecido depois de ter revelado sua opção sexual. Ele não é tão conhecido e já borda um assunto tão polêmico no Brasil, não?

Principalmente, para um eleitorado mais conservador. Jovens de 37 anos que assumem a sua opção sexual é um ato de coragem, que merece o nosso respeito, mas também merece ter o nosso respeito a trajetória corajosa de Tasso Jereissati como senador, como ex-governador do estado do Ceará, e também do ex-prefeito e ex-senador da República que representa o estado do Amazonas e que, certamente, vai engrandecer. Eu diria que é uma boa disputa, disputa positiva onde Arthur Virgílio se insere também muito bem.

Muita gente diz que o senhor queimou a largada, porque se apresentou muito antes nessa disputa dentro do PSDB. Além disso, a entrada de um governador de São Paulo já não teria mais tanto peso desde que Geraldo Alckmin obteve 4% dos votos. Como avalia essas críticas?

Primeiro, com respeito, mas com respeito também quero dizer que Geraldo é Geraldo, João é João. Cada um é uma pessoa, cada pessoa faz a sua história, cada momento da história política do país, de um estado, de uma cidade representa aquele momento. O que ocorreu no ano passado não será necessariamente o que vai ocorrer no futuro. Portanto, essa lógica, na política, não existe. Eu agradeço pelo fato de que, em quatro anos de vida pública, me elegi prefeito da maior cidade do país, disputando contra o PT, contra o bom candidato que era Fernando Haddad, então prefeito da capital de São Paulo, com Lula fazendo campanha. Lula não estava preso e vinha bem avaliado. A presidente do Brasil era Dilma Rousseff, do PT, e lembrando que havia, ainda, bons competidores em 2016, Celso Russomanno, então o deputado federal mais votado do país; Marta Suplicy, ex-prefeita da capital de São Paulo; Luiza Erundina, ex-prefeita da capital de São Paulo; Major Olimpio. Mesmo com bons candidatos, nós vencemos as eleições.

A população já está meio cansada do abre e fecha e também de ficar trancafiada dentro de casa. Quando é que o senhor acha que teremos segurança para a retomada dos eventos, especialmente em São Paulo, que é um grande centro de eventos nacionais?

Antes do fato de abre e fecha, nós estamos tristes com 536 mil mortes, são 536 mil pessoas que perderam suas vidas. Certamente você, como eu, os que estão nos assistindo perderam parentes, amigos, vizinhos por causa da covid. Isso é o que nos entristece. O fato de governadores e prefeitos terem feito quarentenas e medidas restritivas foi para salvar vidas, e muitas vidas foram salvas por essas atitudes. Agora, em São Paulo, nós teremos, em agosto, 30 eventos testes, ao ar livre e em áreas fechadas também. Já dentro do programa de imunização, São Paulo concluirá a sua vacinação com pelo menos uma dose até 20 de agosto. E, na segunda quinzena de agosto, nós vamos realizar 30 eventos, de média e grande envergadura, internos e externos, evidentemente com todos os cuidados sanitários, para verificar a segurança a partir de setembro e outubro. Um grande evento será realizado aqui em São Paulo, em 14 de novembro: o GP de Fórmula 1, em Interlagos. Será, evidentemente, um evento controlado, as pessoas deverão usar máscaras, teremos medição de temperatura e álcool em gel na entrada das arquibancadas e das áreas que receberão públicos aqui em São Paulo. Tudo indica, evidentemente, essa é uma decisão de cada estado, de cada município, que poderiam ter festas de réveillon, que sempre foram uma grande marca do Brasil, do Brasil todo, e festas de carnaval. Obviamente, que eu estou falando diante de uma situação de normalidade. É o que nós estamos vivendo, neste momento, no caso de São Paulo, onde nós temos as informações com o decréscimo de casos, internações e óbitos. Sei que Brasília também está nessa trajetória.

O GP da Fórmula 1 já vai ser com o público total ou reduzido?

Público total. Aliás, quero dizer a vocês que abrimos as vendas de bilheteria da Fórmula 1, a primeira etapa de venda dos ingressos, na semana retrasada. Todos os ingressos foram vendidos nesta primeira etapa, que representa 40% da totalidade dos ingressos. Sabe quanto tempo? Em 48h. Agora, virá uma nova etapa de venda dos outros 60%. Vamos anunciar isso muito em breve.

Quando será possível público nos estádios?

Estamos analisando, mas um desses 30 eventos que vamos testar aqui será exatamente uma partida de futebol, com a presença de público, com máscaras, com álcool em gel, com medição de temperatura. Se isso ocorrer bem, nós já poderemos ter, em setembro, as partidas de futebol, não com 100% de ocupação ainda. Depois, em outubro, uma nova etapa; e, em novembro, com os estádios com o seu limite máximo. Passo a passo, de forma segura, retomando a normalidade.

O senhor está ampliando o número de escolas em tempo integral em São Paulo. Já tem muita gente dizendo que está imitando Leonel Brizola.

Nós estamos no maior impulso da história da educação em São Paulo. Quando chegamos, em janeiro de 2019, tínhamos aqui 363 escolas de tempo integral, o que já era feito dos governos anteriores, especialmente o governo Alckmin. Mas, hoje, nós vamos reabrir as escolas estaduais, no próximo dia 2 de agosto, com 1.855 escolas em tempo integral. Isso significa 505% de aumento de escolas em tempo integral em São Paulo. Escolas de tempo integral melhoram a qualidade do ensino; fortalecem as relações dos jovens com professores, com os seus colegas; melhoram a qualidade da alimentação, porque são cinco refeições que os jovens recebem nas escolas públicas aqui em São Paulo; e melhoram, também, a sua proteção, os pais podem trabalhar com tranquilidade, enquanto seus filhos estão numa escola de tempo integral. E vou dar uma notícia aqui em primeira mão para os leitores do Correio Braziliense: aqui em São Paulo, até o final deste ano, serão duas mil escolas estaduais de tempo integral. Sairemos de 1.855 para duas mil. É o maior número de escolas, professores, obviamente, alunos, em escolas de tempo integral, em todo o Brasil. Isso, justiça seja feita, foi iniciado lá por Leonel Brizola e a sua equipe na área de educação que, corretamente, iniciaram essa trajetória no estado do Rio de Janeiro. Infelizmente, depois isso foi interrompido, mas quem quer uma nação vibrante, inovadora, transformadora, precisa investir em escolas de tempo integral, como nós estamos fazendo aqui, em São Paulo.

*Estagiárias sob supervisão de Cida Barbosa