O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, convidou o presidente Jair Bolsonaro para uma reunião, ontem, no Salão Branco da Corte, onde os dois trataram de contornar a crise entre os Poderes. Na conversa privada no hall que antecede o plenário, Fux teria pedido que Bolsonaro “respeitasse os limites da Constituição”. O chefe do Executivo, por sua vez, teria se comprometido a moderar os ataques aos ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Convidei o presidente da República para uma conversa, diante dos últimos acontecimentos, quando nós debatemos o quão importante é para a democracia brasileira o respeito às instituições e os limites impostos pela Constituição Federal”, disse Fux. Segundo o magistrado, Bolsonaro recorreu a uma fábula evangélica sobre perdão para demonstrar que entendeu o movimento do presidente do STF em busca de estancar a crise.
O encontro, porém, não esgotou as tratativas de conciliação. Fux afirmou que uma nova reunião será realizada para tratar da relação institucional. O novo encontro, ainda sem data definida, contará com a presença do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O presidente do STF disse que a nova conversa tratará da tentativa de “fixar balizas sólidas para a democracia brasileira, tendo em vista a instabilidade do nosso regime político”.
Após o encontro na mais alta instância do Judiciário, Bolsonaro declarou em entrevista coletiva ser o “Jairzinho paz e amor”, em alusão à frase para se referir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos momentos que antecederam a eleição presidencial de 2002 — quando o petista se apresentou com discurso conciliatório e mais simpático ao centro político. A nova versão de Bolsonaro, no entanto, não demonstrou ter novo entendimento sobre uma pauta pacificada entre as lideranças dos outros poderes quanto a sua inconstitucionalidade: o voto impresso. E negou que estivesse atacando os ministros. “Quem está atacando quem? Olha só: eu não ataquei os ministros. Vocês estão se equivocando. Eu ataquei um ministro aqui, o que é normal. Pode acontecer. Eu estou tendo problema com um ministro. Ele está tendo um ativismo legislativo que não é concebível. A questão do voto impresso. Nada além disso”, afirmou.
E acrescentou: “Devemos mostrar para o mundo que o Brasil é país sério, tem eleições limpas, auditáveis. Acertado por minoria de técnicos, isso não é eleição. Aí vamos bater na tecla da contagem dos votos”.
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Procuradores
Por conta disso, aliás, um grupo de ex-procuradores-gerais emitiram nota, ontem, defendendo a lisura do sistema eleitoral brasileiro e da urna eletrônica. Entre os signatários estão os ex-procuradores-gerais da República Raquel Dodge, Rodrigo Janot, Roberto Gurgel e Aristides Junqueira. “Em todas as eleições brasileiras sob o sistema de urnas eletrônicas, jamais houve o mais mínimo indício comprovado de fraude. Tivesse havido, o Ministério Público Eleitoral e a Justiça Eleitoral teriam atuado prontamente, coerentes com a sua história de enfrentamento de qualquer ameaça à lisura dos pleitos”, diz o texto.
Quando questionado se estava arrependido por ter chamado o ministro Luís Roberto Barroso de “imbecil”, o presidente recorreu novamente aos preceitos religiosos e propôs que fosse rezada a oração Pai Nosso durante a coletiva. “Até falei para ele sobre minhas atividades de manhã, que era rezar Pai Nosso, em que, no final, diz que devemos perdoar quem nos tem ofendido. Basicamente foi essa a conversa, durou 20 minutos. Estamos perfeitamente alinhados e respeitosos para com a Constituição, e cada um se policiará dentro do seu poder, no tocante aos limites. E nós, do Poder Executivo, não pretendemos sair dos limites. Essa basicamente foi a linha de conversação com o senhor Fux”, relatou Bolsonaro. (Colaborou Ingrid Soares)