Apontado por ter sido informado previamente sobre supostas irregularidades cometidas em processos de compra de vacinas, o presidente Jair Bolsonaro se eximiu da responsabilidade de ter de tomar providências sobre denúncias levadas até ele, ao ser questionado sobre seu encontro com o deputado Luís Miranda (DEM-DF), no dia 20 de março.
"Ele (Miranda) pediu uma audiência pra conversar comigo sobre várias ações. Tenho reunião com mais de 100 pessoas por mês, dos mais variados assuntos. Eu não posso simplesmente, ao chegar qualquer coisa pra mim, tomar providência", respondeu Bolsonaro a um repórter da Rádio Gaúcha ao ser questionado sobre o encontro.
O deputado e seu irmão, o servidor público Luís Ricardo Fernandes Miranda, disseram à Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid que relataram a Bolsonaro, na reunião ocorrida no Palácio da Alvorada, em 20 de março, cobrança de propina e outras irregularidades na compra da Covaxin, vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. Há fotos publicadas nas redes sociais que comprovam que eles estiveram juntos nesse dia.
No depoimento, o deputado afirmou que Bolsonaro atribuiu os problemas a "mais um rolo" de Ricardo Barros (PP-PR), líder do seu governo na Câmara. Bolsonaro se tornou alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por causa dessa denúncia, sob suspeita de ter se omitido e cometido o crime de prevaricação. Desde a denúncia, Bolsonaro não desmentiu o deputado e evita falar sobre o caso.
A cúpula da CPI enviou na quinta-feira, 8, uma carta a Bolsonaro, cobrando dele que se manifeste sobre as denúncias. Na carta, os senadores Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI; Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente; e Renan Calheiros (MDB-AL), relator, dizem ter tomado a iniciativa de pedir ao chefe do Executivo, "de maneira formal", que se manifeste sobre as "graves acusações" porque, após mais de dez dias das declarações de Miranda, impera o silêncio no Palácio do Planalto.
Em visita ao Rio Grande do Sul neste sábado, 10, Bolsonaro foi questionado sobre as denúncias. "Gastei um centavo com a Covaxin? Me responda, gastei um centavo?", disse ao jornalista. "A compra seria 400 milhões de doses? A compra seria mil por cento sobre o faturamento? Não é a imprensa, é o que a CPI andou falando", disse. "Dose 15 dólares, passou para 150 dólares. Você multiplica 400 milhões de doses vezes 150 dólares, vezes 5 reais. Isso dá 300 bilhões de reais. Isso é uma coisa absurda, meu Deus do céu. Eu assinei uma MP de 20 bilhões para comprar vacina para todo mundo", afirmou.
Sobre a carta da cúpula da CPI, Bolsonaro disse não ter obrigação de responder. "Ainda mais carta pra bandido. Três bandidos", disse em uma referência aos senadores.