Um ‘sumiço’ do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) pode atrasar o processo de importunação sexual, crime do qual foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), após apalpar a deputada Isa Penna (PSOL), durante uma sessão da Assembleia Legislativa do estado paulista. Por quatro vezes, a Justiça de São Paulo não encontrou o parlamentar no endereço dado por ele, em Botucatu (SP), para notificá-lo da denúncia.
A ordem de notificação foi proferida pelo desembargador João Carlos Saletti, do Tribunal de Justiça de São Paulo, que também definiu que Cury terá, após ser notificado, 15 dias para apresentar uma resposta prévia. No entanto, sem a notificação, o processo será alongado.
Caso seja condenado pelo crime, Cury perderia o mandato na Assembleia. Segundo dados do processo, o oficial de Justiça esteve na residência do deputado em 2 e 24 de maio e 2 e 7 de junho, “às 15h55, 9h15, 16h10 e 16h35, respectivamente”, mas não o encontrou. O oficial ainda registrou no processo que tentou ligar para Cury, mas o telefone informado às autoridades “sequer completa a ligação”.
Nas redes sociais, o deputado age naturalmente. Um dia antes da última visita do oficial na casa de Cury, ele publicou uma foto com a esposa e os dois filhos em casa. Os quatro assistiram a final do Campeonato Paulista na noite de 23 de maio. Um dia depois, ele não foi encontrado pelo oficial. Nos dois meses, maio e junho, Cury foi ativo nas redes sociais, com a constante publicação de posts políticos.
Após o oficial de Justiça informar que não conseguiu contato, o desembargador Saletti pediu uma manifestação ao Ministério Público e o órgão sugeriu que a notificação fosse feita por meio da publicação de edital no Diário Oficial, um processo que pode levar meses. No entanto, Saletti ainda não determinou a ação.
A deputada Isa Penna disse, à Folha, que o deputado também não é encontrado por colegas da Assembleia, mas que continua a atuar politicamente. "Ele não atende ninguém, os deputados estão atrás dele. E ele continua suas atividades como se nada estivesse acontecendo. A Assembleia e o poder da Assembleia ficam questionados. Ele não está nem aí, está muito tranquilo", diz Isa.
O Ministério Público investiga, a pedido da deputada, se Cury manteve atuação parlamentar após a suspensão do mandato.