Bolsonaro dobra a aposta
As acusações que o presidente Jair Bolsonaro levantou contra o senador Omar Aziz (PSD-AM) em conversa com apoiadores, sem apresentar provas, serviram de motor para a carta enviada ao Palácio do Planalto, em que a CPI da Pandemia cobra uma posição do capitão em defesa do líder do governo, Ricardo Barros. Até aqui, o chefe do Planalto vinha sendo poupado de um pedido de explicação oficial. Agora, diante da carta, a CPI acreditava ter colocado o presidente numa sinuca de bico: se defendesse o líder e chamasse o deputado Luis Miranda de mentiroso, poderia ser confrontado com uma gravação da conversa entre ele e Miranda. Se atacasse o líder, brigaria com uma parcela expressiva do Centrão.
Ocorre que Bolsonaro chutou essa granada para fora do campo. A resposta do presidente, “caguei”, dita na live desta semana, indica que o presidente vai continuar tratando a CPI como algo feito apenas para desgastar o governo. Porém, diante dessa inflexibilidade e de ataques aos senadores, fica mais difícil para os governistas encontrarem algum espaço capaz de quebrar a hegemonia do G7 na CPI da Pandemia, chamados, inclusive, de patifes e picaretas pelo presidente. O problema é que, nesse cenário, quanto a Barros, o risco é essa granada que Bolsonaro atirou para fora cair no colo do líder. Barros, por sua vez, já percebeu e, ontem mesmo, foi à tribuna da Câmara se defender. Enquanto não for chamado à comissão, é ali que ele apresentará a sua defesa.
Em tempo: com o presidente irredutível, a estratégia da CPI, agora, é jogar Ricardo Barros contra Jair Bolsonaro. Daqui para a frente, serão muitas as declarações de integrantes da CPI no sentido de levar o líder a cobrar publicamente do presidente se é verdadeira ou falsa a versão do deputado Luis Miranda, de que Bolsonaro citou o nome do seu líder na Câmara quando recebeu de Miranda a denúncia de que havia esquema de corrupção em gestação na Saúde. É um jogo de truco de final, até aqui, imprevisível.
O jogo de Bolsonaro
A frase “ou fazemos eleições limpas ou não temos eleições” não foi dita por mero acaso. Faz parte de uma estratégia engendrada no Planalto para impor a vontade de aprovar o voto impresso, ou voto auditável, para as eleições do ano que vem. A proposta, porém, depende da aprovação de uma emenda constitucional em debate no Congresso e, hoje, não há 308 votos a favor.
Auxílio menor tira força da reeleição
O auxílio emergencial num valor menor do que a metade dos R$ 600 pagos no passado é visto até por apoiadores do presidente como o responsável pela queda da popularidade e o aumento da rejeição, como demonstram todas as pesquisas de opinião. Em especial, entre aqueles que recebem até dois salários mínimos, conforme registrou o DataFolha.
Dois fatores
Os ministros, porém, consideram que essa queda de popularidade entre os mais pobres será possível resolver com o novo Bolsa Família. A economia é o ponto nevrálgico para 2022 e, até aqui, avaliam alguns, não reagiu a contento. O outro fator é denúncia de corrupção.
Até aqui…
As denúncias de suspeita de corrupção no Ministério da Saúde estão nas costas da raia miúda que foi exonerada, Roberto Dias e Laurício Monteiro Cruz, respectivamente, diretores do Departamento de Logística e de Imunização e Doenças Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
Curtidas
O pacificador/ Aos poucos, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (foto), vai se colocando como alguém não tão afastado do governo, mas de outra cepa. Há quem diga que está preparado para herdar os votos dos decepcionados com o jeitão de Bolsonaro e avessos ao PT.
Nem tanto/ Alguns senadores têm dito que Pacheco, porém, ainda não está na pista, e foi o general Braga Netto quem ligou para o presidente do Senado, a fim de desfazer mal-estar entre os Poderes, e não Pacheco que procurou o ministro.
Na área dele/ Depois do Rio Grande do Sul, Bolsonaro irá, na semana que vem, ao Amazonas, estado do presidente da CPI, senador Omar Aziz. A ideia é mostrar que tem apoio no território do inimigo.
Enquanto isso, no Congresso.../ A corrida para aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ainda não está ganha. A tendência, por enquanto, é de recesso branco.