Com a CPI da Covid avançando sobre suspeitas de corrupção no governo, no âmbito de negociações de vacina contra o novo coronavírus, o clima tem se acirrado entre a comissão e o presidente Jair Bolsonaro. Ontem, o colegiado resolveu enviar carta ao chefe do Planalto pedindo que ele desminta ou confirme declarações do deputado Luis Miranda (DEM-DF) que colocaram no foco das suspeitas de irregularidades o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Ao saber da iniciativa da comissão, Bolsonaro rebateu com palavrões. “Sabe qual é a minha resposta? Caguei! Caguei para a CPI. Não vou responder nada. São sete pessoas que não estão preocupadas com a verdade”, disparou, em live, ontem, fazendo menção ao G7, grupo de senadores de oposição e independentes que integra o colegiado. “Que resposta posso ter para a CPI? Que não quer colaborar com nada, apenas desgastar o governo, criar o caos. De vez em quando, tem certa reverberação, mexe na Bolsa, faz aumentar o preço do petróleo, aumenta os combustíveis por tabela”, acrescentou.
A carta é assinada pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM); pelo vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP); e pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL). O texto, enviado ao Palácio do Planalto, diz: “Tomamos essa iniciativa de maneira formal, tendo em vista que no dia de hoje (ontem), após 13 dias, Vossa Excelência não emitiu qualquer manifestação afastando, de forma categórica, pontual e esclarecedora, as graves afirmações atribuídas à Vossa Excelência, que recaem sobre o líder do governo”.
Os senadores finalizam a carta mencionando versículo da Bíblia repetido com frequência por Bolsonaro: “Diante do exposto, rogamos a Vossa Excelência que se posicione, de maneira clara, cristalina, republicana e institucional, inspirando-se no Salmo tantas vezes citado em suas declarações em jornadas pelo país: ‘Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”.
O chefe do Executivo tem se mantido em silêncio sobre as afirmações de Miranda. O receio do Planalto é de que o parlamentar tenha gravado a conversa com o presidente. Nela, o mandatário teria sido alertado sobre suspeitas de corrupção na compra da vacina Covaxin pelo Ministério da Saúde e respondido que seria “rolo” de Ricardo Barros.
Ironia
O anúncio de que os senadores enviariam a carta foi feito durante a sessão de ontem. “Estamos mandando uma pequena carta para o senhor dizer se o Luis Miranda está falando a verdade ou não. É só uma resposta: diga para a gente que o deputado Luís Miranda é um mentiroso, diga à nação brasileira que o deputado Luis Miranda está mentindo, que seu líder na Câmara é um homem honesto”, destacou Aziz.
A reação do presidente da CPI ocorreu após ele ser alvo de críticas de Bolsonaro. Na quarta-feira, o mandatário disse que o senador desviou R$ 260 milhões do seu estado, o Amazonas, onde já foi governador. “Não sei de onde ele tirou isso, mas, infelizmente, como se informa com compadria, a gente releva”, afirmou o parlamentar sobre a acusação.
No último dia 1º, questionado pelo Correio, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) afirmou o pai não comentou as declarações de Miranda para “não dar visibilidade ao caso”. “Ele está muito tranquilo e seguro. Quem pode falar do encontro é ele, eu não estava lá para testemunhar. Ele já declarou que esteve com o deputado”, pontuou. Perguntado se o presidente falou em “rolo” de Barros, Flávio disse: “Não posso afirmar. Que eu saiba, o presidente não teria falado isso. Agora, ele que tem de responder, não eu. Não posso falar por ele”.