Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira (8/7), a ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) Francieli Fontana Fantinato afirmou que a área técnica fez uma nota indicando que o governo deveria contratar entre 140 milhões a 242 milhões de doses da vacina ofertada pelo consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). O governo, entretanto, optou por contratar 42 milhões de doses, 10% do que lhe foi ofertado, e cerca de 100 milhões a menos do que o indicado pelos técnicos.
“Nós fizemos uma nota inicial da Covax Facility pedindo já o quantitativo, diante daqueles cenários que eu já apontei aqui. Eram cenários ainda de incerteza”, disse Francieli. De acordo com ela, avaliação, em 19 de junho, era de que a quantidade deveria ser de 140 milhões a 242 milhões de doses, tendo em vista este cenário de incerteza, e avaliando que seria a aplicação em uma dose apenas, pois na ocasião ainda não havia estudos apontando que seriam duas doses.
“No melhor cenário, a gente precisaria em torno de 140 milhões de doses para tentar um controle da transmissão. Se não fosse possível trabalhar com o controle da transmissão, trabalhar com a redução da mortalidade e óbito, com um quantitativo tendo em vista a manutenção da força de trabalho no setor de saúde, risco de complicações e óbito, e a manutenção de funcionamento dos serviços essenciais”, explicou.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que fazia as perguntas, então pontuou: “Cerca de 100 milhões de doses abaixo do desenhado pela equipe técnica, mesmo considerando que fossem vacinas de dose única”.
Secretaria Executiva definiu o número de doses
Antes, quando era questionada pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), a ex-coordenadora explicou que, em relação ao consórcio Covax, ela já recebeu o contrato fechado, com adesão em 10%. De acordo com ela, em uma nota técnica inicial do Covax, a área apontou “que tinha necessidade de vacinar dentro dos cenários ou 55% da população até 95%, num cenário de incerteza”.
“Depois, veio o contrato fechado, para que a gente se manifestasse, por uma nota técnica, qual seria o grupo a ser atendido com aqueles 10%. Então, o Programa Nacional de Imunizações não participou da questão da escolha do percentual que tinha no mecanismo Covax”, disse. As contratações de vacinas, segundo ela, ficavam com a Secretaria Executiva, então chefiada pelo coronel Elcio Franco.
“Eu perguntei verbalmente se a gente ia aderir, porque, inicialmente, era para 20%, e o que me foi respondido é que não era para se investir todos os ovos na mesma cesta, um linguajar assim, que não poderia se investir em tudo isso, porque era um investimento de risco”, disse.