O presidente Jair Bolsonaro admitiu, ontem, que existem pessoas “com interesse” no Ministério da Saúde, diante de orçamento diário de R$ 550 milhões da pasta. O orçamento atrairia pessoas com a intenção de “entrar lá e fazer besteira”.
Bolsonaro, porém, voltou a afirmar que, apesar da propensão para malversação de recursos públicos e dos supostos esquemas envolvendo a pasta, seu governo não tem casos de corrupção. “Não compramos uma dose (da Covaxin), não pagamos um centavo. Estamos há dois anos e meio sem corrupção”, disse, em entrevista à rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul.
Segundo o presidente, uma vez que o governo não comprou doses da vacina Covaxin, contra a covid-19, nem fez o pagamento das reservas, não é possível afirmar que houve desvios de recursos públicos.
A CPI da Covid no Senado, no entanto, apura irregularidades no contrato de compra dos imunizantes, entre elas a disparidade de doses da vacina contratada e ausência de fiscalização, ainda que temporária.
Na entrevista, Bolsonaro frisou, também, que “nenhum lugar do Brasil recebeu vacina que não seja do governo federal”. A declaração vem na esteira de questionamento dele da eficácia da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, primeira vacina contra a covid-19 a ser aplicada no país e que integra a lista de imunizantes do Plano Nacional de Imunização (PNI).
O chefe do Planalto ainda responsabilizou jornalistas por reações intempestivas e pela associação entre o governo e supostos atos de corrupção na aquisição de vacinas. “De vez enquanto, eu dou uns coices mesmo. É lamentável o nível das pessoas que nos entrevistam.”
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Contradição
Ele já disse, mais de uma vez, não ter conhecimento de tudo o que ocorre no governo. “São vinte e dois ministros. Um orçamento enorme. Como é que tenho conhecimento de tudo o que acontece? Agora, quando acontece alguma coisa, toma providência. Pode haver corrupção? Pode. Sempre falei isso aí. Agora, acusar de corrupção... Não foi comprado nada, não foi gasto um centavo, não recebeu nada”, afirmou, na segunda-feira.
Com a crise e o avanço das investigações sobre irregularidades na compra de vacinas, a popularidade de Bolsonaro caiu, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada também no início da semana. A avaliação negativa do governo, que soma aqueles que consideram a administração do país ruim ou péssima, saltou de 35,5% em fevereiro para 48,2% neste mês.