O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, Omar Aziz (PSD-AM), mandou prender o depoente desta quarta-feira (7/7), o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. Ele foi indicado pelo cabo da Polícia Militar de Minas Gerais, Luis Dominghetti, como a figura de dentro do Ministério da Saúde que teria pedido propina U$ 1 por dose para para autorizar a negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. Dias saiu preso da sessão. A expectativa é de que, depois de lavrado o mandado e de ele ser ouvido, assine termo circunstanciado e seja liberado.
Durante a sessão, Dias negou a informação trazida por Dominghetti, bem como a aproximação dele com o representante da Davati. Apesar de admitir ter se encontrado com Dominghetti, em 26 de fevereiro, na presença do ex-diretor-substituto de Logística, Marcelo Blanco, Dias negou que o encontro foi previamente marcado, versão posta em xeque por meio de áudios apresentados pelos senadores.
Aziz chegou a anunciar o encerramento da sessão e chamar a Polícia Legislativa. Em seguida, senadores pediram para que, antes, a testemunha tivesse oportunidade de fazer novas declarações, com base nos áudios.
Se trata do material colhido a partir do celular de Dominghetti em que o PM conversa com um interlocutor, cujo primeiro nome é Rafael. “Acabei de sair aqui do ministério. Tudo redondinho. O Dias vai ligar pro Cristiano e conversar com o Herman (membros da Davati) ainda hoje, tá? Ele tá afinando essa compra aí, várias reuniões certificando a turma de que a vacina já está à disposição do Brasil”, diz.
“Tem algum áudio meu?”, questionou Dias, tentando se esquivar da prisão. Sem ceder à pressão por revelar nomes, Aziz prosseguiu com a decisão. “Não aceito que a CPI vire chacota. Temos 527 mil mortos e os caras brincando de negociar vacina. Porque não teve esse empenho para comprar a Pfizer?”, questionou, anunciando, em seguida, a voz de prisão “por mentir, por perjúrio". "E se eu tiver tendo abuso de autoridade, que a advogada dele ou qualquer um dos senadores me processe, mas ele vai estar detido agora, pelo Brasil, pelos que morreram, pelas vítimas sequeladas. Não estamos aqui para brincar não."
"Ele que recorra na Justiça, mas ele está preso e a sessão está encerrada. Pode levar", declarou Aziz antes de encerrar a sessão e Dias ser detido. O trâmite prevê que a testemunha seja conduzida pela Polícia Legislativa até a delegacia, nas dependências do Congresso. No local, é emitido o mandado de prisão. Dias deve ser ouvido e uma fiança arbitrada em audiência.
Um dos áudios foi enviado em 23 de fevereiro, ao interlocutor Rafael. Nele, Dominghetti declara que “a compra vai acontecer” e que quem assinará será Dias, revelação para a qual o cabo pede sigilo. Na mensagem, o representante também diz ter marcado uma reunião na quinta-feira, 25 de fevereiro, para “finalizar com o ministério”. Este seria justamente o jantar que Dias negou ter conhecimento antes de ele acontecer, chegando a declarar durante a sessão que o encontro foi “acidental”.
“Rafael, a compra vai acontecer. Está na fase burocrática. Em off, quem vai assinar é o Dias mesmo, só para você saber, tá? Caiu no colo do Dias e a gente já se falou e quinta-feira temos uma reunião para finalizar com o ministério. Tô em Brasília até agora, entra e sai de reunião no ministério e estamos tentando tirar do Opas para ir para o Dias direto. Te atualizo mais à noite, mas essa conversa que estou tendo contigo é em off. Se quiser gravo outro áudio geral”, diz o referido áudio, na íntegra.
Apoio à decisão
O vice-presidente da CPI da Pandemia, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o integrante da Comissão senador Humberto Costa (PT-PE) afirmam apoiar a decisão de Aziz e dizem que esta é uma forma de evitar novas declarações falsas nos depoimentos.
"É a atribuição legal de Aziz, pode fazê-lo. Ele já vinha dizendo que a paciência estava se esgotando, porque o número de pessoas que vieram e faltaram com a verdade é muito grande. Acho que com isso o presidente dá uma espécie de freio a essa situação. E nós, independentemente de concordarmos ou não, estamos com ele", afirma o senador Humberto Costa (PT-PE), em entrevista coletiva após a prisão.
Colaborou Talita de Souza