O ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde Roberto Dias, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quarta-feira (7/7), sugeriu que o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF) seria o responsável por acusações que pairam sobre ele. O parlamentar e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, relataram suspeitas de irregularidades em relação à negociação da vacina contra covid-19 Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, representado no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos.
Questionado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre uma nota que divulgou após a sua demissão do cargo, na qual afirma que “existem terceiro interessados”, Dias afirmou: “Senador, eu estou avidamente tentando descobrir a quem interessa. Agora, fato é que soa muito estranho, conforme no meu discurso de abertura, que tudo isso, todo esse ciclo, feche no deputado Luís Miranda”.
Dias pontuou que terceiros estão interessados na divulgação da denúncia sobre propina que o envolvem. Em outro episódio, o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, apresentado como um vendedor de vacinas autônomo da empresa Davatti Medical Supply, disse que, ao tentar negociar a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca ao ministério, Dias teria pedido propina de US$1 por dose para fechar negócio.
Perguntado, então, se era o deputado Luis Miranda o interessado a que ele se refere, Dias afirmou: “Não sei, mas parece”. E por fim, frisou: “A minha alusão a terceiros é diretamente ao deputado Luis Miranda”. Logo no início da oitiva, Dias disse achar estranho que “todas as falsas e fantasiosas acusações de alguma forma se liguem ao deputado Luis Miranda”. “A pergunta mais importante que fica: teria eu atrapalhado algum negócio do ilustre deputado?”, questionou. Em outros momentos do depoimento, ele joga suspeitas sobre o parlamentar.
“Até o momento, noticiava-se que o deputado teria sido preterido em expectativas políticas que almejava. Teria, então, tido pretensões negociais e econômicas frustradas também. Confesso que neguei um pedido de cargo para o seu irmão servidor e, por um momento, imaginei que pudesse ser uma retaliação. E confesso que sempre achei desproporcional demais. Mas, agora, o que se deslinda é a possibilidade de ter ocorrido uma frustração no campo econômico também”, afirmou.
Pressão para compra de vacina
À CPI, o deputado Luis Miranda e seu irmão, Luis Ricardo, relataram que o servidor sofria “pressões anormais” para liberar a importação da Covaxin. O mesmo relato foi feito por Luis Ricardo à Procuradoria da República do Distrito Federal, ainda em março. Dentre as pessoas que diz que o pressionavam, está o nome de Roberto Dias, que nega qualquer tipo de pressão. O deputado também disse que ele e o irmão levaram as suspeitas ao presidente Jair Bolsonaro, no dia 20 de março, e que este disse que a situação parecia ser “rolo” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).