O senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) protocolou, nesta segunda-feira (5/7), o pedido para instalação da CPI da Rachadinha por conta das gravações que vieram à tona, nas quais Andrea Siqueira Valle — ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro — afirma que ele sabia e cobrava parte do salário dos assessores de seu gabinete quando era deputado federal, entre 1991 e 2018. Mas a criação de uma comissão de inquérito para o tema não é consenso, pois há quem queira levá-lo para a CPI da Covid, como é o caso de Renan Calheiros (MDB-AL).
Segundo Vieira, a comissão também investigaria outros acusados de também praticarem rachadinha, pois, para ele, as revelações são graves e precisam ser apuradas. “Os fatos são gravíssimos e exigem apuração. O Senado tem legitimidade e estatura para fazer essa investigação, mesmo em um momento tão difícil da nossa história. Ninguém está acima da lei. Os fatos narrados são graves e exigem apuração imediata. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará (João 8:32)”, provocou, citando o versículo bíblico usado por Bolsonaro com frequência.
Os áudios mostram Andrea contando que seu irmão, André, foi exonerado por Bolsonaro de um cargo de confiança na Câmara. O motivo seria a resistência do ex-servidor em repassar ao então deputado toda a parte do salário que combinara em troca da nomeação. O esquema configura peculato — desvio ilegal de verba pública por servidor. Andrea é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda ex-mulher de Bolsonaro.
Saiba Mais
Convocação
Já Renan considera “fundamental” a CPI da Covid convocar Andrea, pois quer que ela explique “se houve espelhamento do esquema das rachadinhas no governo federal”. Ele também citou o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).
Para o relator da CPI, os dois seriam peças fundamentais nas investigações. O primeiro já foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa sob acusação de fazer rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro quando era deputado estadual. O segundo também é investigado, mas as apurações ainda não geraram denúncia.
Em nota, a defesa de Flávio Bolsonaro classificou as gravações como “clandestinas”, mas os áudios estariam nos autos da investigação do MP. “Gravações clandestinas, feitas sem autorização da Justiça e nas quais é impossível identificar os interlocutores não é (sic) um expediente compatível com democracias saudáveis”, rebateu. Segundo os advogados do senador, a denúncia é mais um “ingrediente na narrativa que tentam armar contra a família Bolsonaro”.