Na rua por vacina e impeachment

Manifestações estavam marcadas para o dia 24, mas foram antecipadas devido às suspeitas de corrupção no contrato da compra da vacina Covaxin e ao superpedido para tirar Bolsonaro do poder. Em São Paulo, ato acaba em vandalismo de mascarados e conflito

Pela terceira vez consecutiva em dois meses, manifestantes protestaram em todas as capitais e em várias cidades do interior contra Jair Bolsonaro. Os atos estavam previstos para ocorrer no próximo dia 24, mas foram antecipados por causa das suspeitas de corrupção no contrato do Ministério da Saúde para a compra da vacina Covaxin e também devido ao superpedido de impeachment, protocolado no Congresso contra o presidente, na última quarta-feira, na Câmara dos Deputados. Mas, ao contrário das vezes anteriores, a nota destoante dessa vez foi o vandalismo em São Paulo, já no final da passeata, no começo da noite. Mascarados depredaram uma concessionária de veículos, uma agência bancária, um ponto de ônibus, queimaram lixo e entraram em conflito com a polícia. Uma pessoa ficou ferida.

Os atos começaram pela manhã em algumas regiões e se estenderam até o começo da noite, mas a maior parte começou à tarde. Intitulado #3JForaBolsonaro, foi organizado pelas frentes Povo sem Medo, Brasil Popular, Coalizão Negra por Direitos, além do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), União Nacional dos Estudantes (UNE) e bandeiras LGBTQIA+ apoiado por sindicatos, partidos de esquerda, de centro e até direita. Apesar de manifestar apoio ao impeachment, movimentos organizados como o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua decidiram não participar. Nas redes sociais, os protestos foram um dos assuntos mais comentados.

Mas não foi apenas no Brasil que houve manifestações. Inglaterra, Portugal, Dinamarca, Áustria e Bélgica, Irlanda e Alemanha também registraram protestos contra Bolsonaro. Em Berlim, por exemplo, dezenas de manifestantes se reuniram no Portão de Brandemburgo, onde criticaram a gestão da pandemia no Brasil e pediram o impeachment do presidente, além de denunciarem a violência contra os povos indígenas. A maioria dos manifestantes utilizou máscaras, mas, em alguns momentos, houve aglomeração, apesar de alertas sobre distanciamento social.


Brasília
Na capital, o protesto começou no meio da tarde, com concentração no Complexo Cultural da República, que, em seguida, desceu a Esplanada dos Ministérios. Os manifestantes pediam, em coro, o impeachment de Bolsonaro e levavam cartazes com os dizeres “Fora Bolsonaro”. No gramado central, os organizadores inflaram um boneco inflável retratando Bolsonaro com as mãos sujas de sangue. Além disso, levaram um boneco, no estilo de um dragão chinês, com duas cabeças — uma personificando Bolsonaro e outra, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Segundo a Polícia Militar, o protesto foi pacífico.


São Paulo
As imediações da Avenida Paulista — onde se realizou a manifestação contra Bolsonaro — viraram palco de vandalismo. Baderneiros mascarados promoveram uma série de depredações na Rua da Consolação, por volta das 19h30, e entraram em conflito com a tropa de choque. Os piores conflitos foram na região de Higienópolis, próximo à estação Mackenzie do metrô. Uma pessoa foi detida. Esta foi a nota destoante de um protesto pacífico, cuja concentração ocorreu em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Além do impeachment do presidente da República, os participantes do ato reivindicaram mais vacinas, se posicionaram contra o voto impresso e contra a política do governo para o meio ambiente. Os cartazes tinham dizeres como “Não era negacionismo, era corrupção”, “Amazônia em pé, abaixo Bolsonaro”. Levaram, ainda, bonecos de papelão com o presidente vestido de presidiário e segurando um saco de dinheiro ao lado do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e de Pazuello.


Rio de Janeiro
O protesto se concentrou em frente à Igreja da Candelária, no Centro da cidade, considerada símbolo por ter sido palco de vários manifestações populares, no final da década de 1960, contra o Ato Institucional 5 (AI-5) — instrumento que recrudesceu o regime de força e é habitualmente é pedido por apoiadores de Bolsonaro em suas passeatas. Os organizadores estimaram a presença de 70 mil pessoas. Também houve reações contra a privatização da Eletrobras e da Cedae, a companhia de saneamento do Rio de Janeiro.


Recife
Ao contrário da última vez, quando a Polícia Militar dispersou os manifestantes com balas de borracha — dois homens que não participavam do ato perderam parte da visão ao serem atingidos pelos projeteis disparados pela tropa de choque — e bombas de gás, a passeata na capital pernambucana dessa vez foi pacífica — pediram vacinação rápida contra a covid-19 e testagem em massa da população. Na caminhada, os participantes seguiram em fila indiana, buscando manter distanciamento uns dos outros. Um grupo levou simulações de nota de um dólar, manchadas de vermelho, em alusão à suspeita de propina na compra de vacinas.


Belo Horizonte
Além de exigirem mais rapidez na vacinação, os manifestantes protestaram contra o alto preço dos alimentos no país e a pressão da inflação ascendente. “Vacina no braço e comida no prato, diziam os cartazes. Também lembraram a morte da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março de 2018, no Rio de Janeiro — crime cuja motivação e mandante são desconhecidos até hoje.


Porto Alegre
Participantes percorreram várias ruas do centro da cidade e juntaram colorados e gremistas, tradicionais rivais do futebol gaúcho. Foi exibida uma grande seringa da qual saíam dólares. Entre as pautas, protestaram contra o aumento no desemprego, o atraso na compra de vacinas e as mortes causadas pela pandemia.


Maceió
Mesmo com chuva, muitos manifestantes foram às ruas para pedir a saída de Bolsonaro e em defesa da vacinação contra a covid-19. Houve atos também no interior do estado, como em Arapiraca. Os que estavam marcados para Penedo e Palmeira dos Índios foram cancelados devido à chuva.


Goiânia
Os manifestantes pediam a vacinação em massa no país, a volta do auxílio emergencial no valor de R$ 600 e a defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo os organizadores, todos os participantes foram orientados quanto ao uso de álcool em gel e em relação ao distanciamento social durante o ato.


Florianópolis
Na capital catarinense, considerada reduto bolsonarista, os manifestantes se concentraram na Praça Tancredo Neves e saíram em caminhada pelas principais ruas da região central. Outras 11 cidades também registraram atos contra o governo federal.


Curitiba
Paranaenses foram às ruas em protestos pacíficos e percorreram a cidade com cartazes pedindo mais vacinas e o impeachment do presidente. Houve distribuição de máscaras. Foram registrados atos contra Bolsonaro em outras cidades do estado, como Guarapuava, Cascavel e Foz do Iguaçu.


Salvador
Um dia depois de motociclistas terem realizado um ato em apoio de Bolsonaro, ontem foi a vez de quem pedia o impeachment do presidente. Começou por volta das 14h, no bairro do Campo Grande, e foi finalizado por volta das 17h, no Farol da Barra — os manifestantes levaram bandeiras e faixas, e criticaram a conduta do governo federal no combate à pandemia.


Belém
O grupo se reuniu na Praça da República e seguiu até a Praça do Relógio, no complexo do Ver-o-Peso. Os manifestantes calcularam a presença de 20 mil pessoas na passeata.


São Luís
Na capital maranhense, ato foi liderado por movimentos sindicais e integrantes de partidos políticos. Manifestantes pediram vacina contra a covid-19 e o impeachment de Bolsonaro. A concentração foi na Praça Deodoro, no Centro Histórico da capital, e teve a apresentação do Boi União da Baixada, tradicional na festa de São João do estado.


Fortaleza
Na capital cearense, a manifestação contra Bolsonaro e pela vacinação mais rápida contra a covid-19 começou às 15h, na Praça Portugal, no bairro da Aldeota. Foi organizada pelos movimentos Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo e Fórum Sindical, Popular e de Juventudes de Luta pelos Direitos e pelas Liberdades Democráticas.