Militantes que lutaram na Ditadura Militar de 1964 se manifestarão neste sábado (3/7) contra o presidente Jair Bolsonaro. O movimento é planejado pela Geração 68, um grupo de pessoas que combateram, de alguma forma, o regime ditatorial. Até o momento, 200 pessoas nascidas até 1956 e presentes nas manifestações de 1968 confirmaram a presença no ato de amanhã.
A concentração será no Teatro Nacional Cláudio Santoro, às 15h, e seguirá em direção ao Museu Nacional Honestino Guimarães. Os organizadores recomendam que os manifestantes usem máscaras duplas, levem álcool em gel e “tomem o máximo de cuidado porque nem todos estão vacinados”.
A ex-deputada federal pelo DF Maria Maninha, 72 anos, que faz parte da comissão organizadora da Geração 68, conta que o protesto é uma forma estruturada de manifestar contra a gestão da pandemia, a crise política, a situação econômica e os ataques do presidente à democracia.
Maninha foi estudante da Universidade de Brasília (UnB) e participou do movimento estudantil, convivendo com o Honestino Guimarães. Por conta do regime militar, foi expulsa da universidade e chegou a ser presa política. Em 2003, foi deputada federal e hoje se considera “uma cidadã que luta pelos seus direitos e pelos da sociedade”.
“Nós que estamos participando dessa mobilização da geração 68, na sua maioria, passamos por experiências de organizações naquela época em que lutávamos contra a ditadura militar e nos tornaram presos políticos. Hoje, com o processo democrático, estamos aqui como guardiões desta democracia”, conta.
De acordo com Maninha, a criação da Geração 68 foi espontânea e ocorreu com o auxílio das redes sociais. Eles perceberam a necessidade de continuarem lutando pela democracia no país. “Percebemos que também podemos nos manifestar enquanto um grupo, de forma organizada, para expressar a nossa voz”, afirmou.
A ex-deputada explica: “É um grupo plural suprapartidário e tem gente que nem foi militante durante a ditadura militar, mas todos batalharam pelo Estado Democrático de Direito”.
Rubem Fonseca, 74 anos, fez parte de uma geração com uma rebeldia comprometida e lembra: “A ditadura militar não estava preparada para a rebeldia da minha juventude”. Ele também faz parte da organização do ato da Geração 68 de amanhã (3/7) e comenta que não é fácil, mas não desanima. “Nós estamos sempre dispostos a ir à luta, com qualquer idade. Até o finalzinho, nós vamos estar lutando por um país mais justo, mais igualitário e mais farto”, declara ele, que também foi um militante durante o regime militar.
“Minha esperança é de cada vez mais nós colocarmos mais gente na rua e que essas massas reivindiquem. E que nós possamos colocar o Brasil no caminho certo, no rumo certo. Enfim, essa luta não vai terminar nessa manifestação. Ela vai continuar. A nossa história teve uns momentos parecidos como esse e acredito que nós vamos superar”, afirmou.
Para Hélio Doyle, 70 anos, também um dos organizadores da manifestação do grupo, existe diferença entre os momentos vividos. "Em 1968, lutávamos contra uma ditadura implantada quatro anos antes. Agora lutamos para evitar que Bolsonaro implante uma ditadura com forte tonalidade fascista, que é o projeto dele, e ele não esconde isso", diz.
Ele comenta que o movimento Geração 68 já existe no Rio, em São Paulo e outras cidades. "Os que lutaram contra a ditadura se sentem obrigados a ajudar a impedir a implantação de outra ditadura no Brasil. Muitos de nós estávamos afastados da política, mas nos sentimos na obrigação de nos juntarmos na luta contra Bolsonaro.”
“Filho da geração 68”: o despertar para a luta contra o autoritarismo
Moacyr de Oliveira Filho, o Moa, 68 anos, ex-presidente da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), acredita que a participação de pessoas que lutaram contra a ditadura no ato de sábado (3/7) é essencial. “Nós que participamos da luta contra a ditadura vemos muito claramente uma ameaça concreta da democracia”, diz.
Ele se considera um “filho da geração 68”, porque este foi o ano em que ele começou a se envolver em mobilizações secundaristas contra o regime ditatorial. “Em 1968 eu entrei no segundo grau e comecei a militar. Foi quando eu comecei a minha história com o movimento político”, conta.
Para ele, estar nas ruas contra o atual governo mesmo em meio à pandemia, sendo grupo de risco, é uma atitude necessária. “Temos consciência do risco, mas a situação está tão grave que não tem mais como esperar. Nós já estamos enfrentando uma ditadura disfarçada. O projeto deste governo é de autoritarismo”, pontua.
A fim de diminuir os riscos de contágio pela covid-19, o grupo tem orientado, em todas as peças de comunicação, o uso de máscara e de álcool em gel. “Diferentemente do que vemos nas manifestações pró-bolsonaro, em que todos estão sem máscara, nós zelamos pelas medidas de segurança”, declara Moa.
Ele também afirma que o engajamento da Geração 68 revela o que deve ser feito no momento atual. “Temos gente de todos os perfis ideológicos, tem gente que é do PT, PSOL, PSDB, e quem não é de nenhum partido. Todos estamos juntos para traduzir o que deve ocorrer neste momento: uma união total contra Bolsonaro”, frisa.
* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer
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