O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse na última quinta-feira (1º/7) que o presidente Jair Bolsonaro não falou sobre as afirmações do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) para “não dar visibilidade ao caso”. Questionado pelo Correio sobre o motivo pelo qual o presidente não desmentiu Miranda, caso ele não tenha dito a verdade, Flávio afirmou que o presidente “não quer dar visibilidade ao assunto”. “Ele está muito tranquilo e seguro. Quem pode falar do encontro é ele, eu não estava lá para testemunhar. Ele já declarou que esteve com o deputado”, pontuou.
Perguntado se Bolsonaro falou que havia “rolo” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), Flávio disse: “Não posso afirmar. Que eu saiba, o presidente não teria falado isso. Agora, ele que tem que responder, não eu. Não posso falar por ele”, afirmou. A reportagem, então, insistiu, perguntando se ele não havia falado com o pai, ao que ele respondeu: “Claro que eu falei, mas não vou falar o que eu conversei com ele. Ele que tem que falar, não eu.”
Em entrevista a jornalistas no Senado, o parlamentar ainda frisou que não houve prevaricação por parte do mandatário. Miranda afirmou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 que soube de irregularidades em relação à negociação para importação da vacina indiana contra covid-19 Covaxin em março deste ano. Na ocasião, Bolsonaro teria dito que a questão parecia ser “rolo” de Ricardo Barros e que iria acionar a Polícia Federal — o que não ocorreu. A Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu nesta sexta-feira inquérito contra o presidente por prevaricação.
Flávio afirmou que gostaria que o líder do governo fosse logo chamado à CPI para explicar tudo e "acabar com o mal entendido”. Questionado por jornalistas se acreditava que Miranda havia gravado o presidente, o senador respondeu: “Não sei se ele gravou. Mas se alguém gravou, está cometendo um crime previsto na Lei de Segurança Nacional. Se alguém gravou o presidente tem que ter a consciência de que está cometendo um crime contra o presidente da República previsto em lei com uma punição bastante severa”.
Perguntando, então, se houve algo na conversa que o presidente não quer que venha a pública, negou. “Acredito que não. O presidente é republicano publicamente e reservadamente. Tudo que ele fala em ambiente fechado, ele repete em ambiente aberto”. Flávio Bolsonaro frisou que o presidente não fala publicamente sobre o teor da conversa para não dar visibilidade.
“Na minha cabeça, porque ele não quer dar visibilidade. Ele quer esperar que a CPI destrinche isso tudo. Se tivesse culpa no cartório, seria ruim para o governo. Mas não tem, não estamos temendo nada. Vamos esperar o que a CPI vai fazer, porque eu tenho certeza que não tem o que apurar sobre envolvimento do presidente”, disse.
Sobre a manutenção de Ricardo Barros na liderança, o senador afirmou que “por enquanto, não há razão para retirar” o deputado, ressaltando a vontade de que a oitiva com o parlamentar seja marcada logo. A sua convocação foi aprovada nesta semana. “É importante ele vir e explicar. Todos os parlamentares tentaram ajudar na chegada de vacinas, aceleração da entrega (dos parlamentares) de oposição, situação, todo mundo querendo ‘botar’ vacina no braço do brasileiro. Quando o governo age para dar celeridade, está havendo pressão por motivo escuso. Se não (há celeridade), é omisso. É uma tentativa de contratação de narrativa para tentar imputar ao presidente crimes aos quais ele não cometeu”, disse.
O senador também relembrou a defesa do governo, que tem dito que o presidente repassou as suspeitas ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, e que Pazuello informou o seu número 2, o ex-secretário executivo Elcio Franco. As informações foram passadas inicialmente pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), em sessão na CPI. Pazuello, entretanto, foi exonerado no dia 23 de março, um dia depois da data que Bolsonaro teria informado. E Franco saiu no dia 26, logo em seguida. Questionado se o prazo foi suficiente para a apuração de possíveis irregularidades, Flávio afirmou que a análise de documentos é algo rápido.
“Não houve prevaricação. O presidente falou com quem tinha que falar. Houve o retorno que a princípio não tinha nada equivocado, e vida que segue. Mas logo depois, o próprio MPF ouviu o irmão do deputado, e quando vazou o áudio, o deputado sentiu obrigação de defender, talvez, o irmão e trazer ao público a história que estamos conhecendo melhor. E por enquanto, nada para em pé”.
Precisa Medicamentos
A CPI tem apurado suspeitas de irregularidades na aquisição de vacinas. A história teve início com a Covaxin, e agora envolve suspeita de pagamento de propina no âmbito do Ministério da Saúde. Essa suspeita ocorreu após o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresenta como vendedor autônomo de vacina da empresa Davati Medical Supply, relatar ter recebido um pedido de propina de US$ 1 por dose ao tentar vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca. O pedido teria partido do ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG) Roberto Dias, exonerado no dia em que a denúncia veio à tona em reportagem da Folha de S.Paulo.
Em relação à Covaxin, a vacina é produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, representado no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos. Os senadores na CPI já suspeitavam da negociação, devido à celeridade, ainda que a vacina não estivesse com aval regulatório avançado, como no caso de outros imunizantes. Outras questões foram acrescentadas, e a própria Procuradoria da República no Distrito Federal falou que “não se justifica” o risco que o governo assumiu ao assinar o contrato de R$1,6 bilhão para compra de 20 milhões de doses com a empresa.
O sócio da empresa é Francisco Maximiano, já convocado para depor na CPI. Flávio Bolsonaro nega ser amigo de Maximiano, e afirma que o conhece por meio de amigos em comum. “Não é meu amigo, não frequenta a minha casa”, afirmou o senador. Questionado sobre quantas vezes já se encontrou com ele, disse não lembrar. Reportagem da Veja mostrou que o senador participou de uma reunião com o presidente do BNDES e com Maximiano em outubro do ano passado, para discutir um projeto envolvendo internet. “Isso é público. Não tem o que esconder com relação a isso”, pontuou o senador.
Flávio ainda ressaltou que o contrato para compra da Covaxin foi suspenso, enquanto se apura o caso, e defendeu que o governo agiu — apesar de Bolsonaro estar sabendo das suspeitas desde março, conforme depoimento do deputado Luis Miranda.
Roberto Dias
O ex-diretor de Logística que teria sido a pessoa a pedir propina a Dominghetti, Roberto Dias, havia encarado um pedido de exoneração em outubro do ano passado, mas que acabou revertido. Reportagem da CBN mostrou que o ex-ministro Pazuello buscou a sua exoneração. Sobre isso, Flávio disse que o presidente não interfere nesse tipo de coisa.
“Mas, pelo que eu soube, foi isso mesmo, ele foi demitido e depois voltaram atrás. Mas não sei porque e quem foi que pediu para que ele ficasse lá. Não tenho a menor ideia de quem foi e quem tem interesse lá. O importante é dizer que o presidente está longe dessa confusão. É uma coisa que ocorreu no âmbito do quarto escalão. É humanamente impossível o presidente ter que olhar para isso tão distante”, disse.
O presidente, entretanto, sempre disse que no seu governo não tem corrupção, o que ele costuma repetir em discursos e conversas com apoiadores. Sobre isso, Flávio defendeu que Bolsonaro sempre disse que tomaria providência. “Algum governo está alheio a algo acontecer no quarto, quinto escalão?”, questionou o filho do mandatário.