Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19, nesta quinta-feira (1º/7), o policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que se apresenta como um vendedor de vacinas autônomo da empresa Davati Medical Supply, afirmou que o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF) tentava negociar compra de vacina junto a Cristiano Alberto Carvalho, que seria um representante da empresa Davati. Depois, voltou atrás.
Dominghetti foi convocado a prestar depoimento na CPI após dizer, em entrevista à Folha de S.Paulo, que tentou vender vacina ao Ministério da Saúde, mas que lhe foi pedido uma propina de US$ 1 por dose. O vendedor buscava negociar 400 milhões de doses de imunizante e o pedido de propina teria partido do ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG) da pasta Roberto Ferreira Dias, exonerado na última terça-feira (29) após publicação da reportagem.
O áudio, segundo Dominghetti, lhe foi enviado no dia 24 de junho, às 13h, por Cristiano. O vendedor afirma que não conhece Luis Miranda. “A informação que eu tenho… Inclusive, com áudio dele tentando negociar vacina, a princípio, para o ministério”, disse, se referindo a Miranda.
No áudio, deputado fala em um comprador a todo momento, mas não cita vacina. “Vou falar direto com o cara, o cara vai pedir toda a documentação do comprador. Meu comprador já está de saco cheio disso, ele vai pedir prova de vida antes e a gente não vai fazer negócio. Então, isso, nem perde tempo, porque você sabe que eu tenho um comprador e com potencial de pagamento instantâneo. Compra o tempo todo lá, em quantidade menores, obviamente”, disse.
No áudio, Miranda ainda diz: “Se o seu produto estiver no chão, cara fizer meu vídeo, falar meu nome ‘Luis Miranda, tenho aqui o produto e tal‘, o meu comprador entende que é fato e encaminha toda a documentação necessária, amarra, faz as travas, os contratos todos e bola para frente. Não vou mais perder tempo com esse comprador que desgastou muito nos últimos 60 dias. É muita conversa fiada no mercado. E aí eu não me sinto bem confortável — ‘ó, encontrei uma carga, vamos dar prosseguimos, vamos mandar toda a documentação de novo’ (...). O cara faz uma live comigo, um Facetime, Skype, mostra a carga, ou se quiser marcar um vídeo, mostra o produto para mim, e tá tudo certo, bola para frente, mando para o cara na hora e o cara fecha negócio. O cara tem cliente fixo, ele tem recorrência, ele fechou alguns contratos de entrega com Walmart, Walgreens (Pharmacy), rede de restaurantes, hospitais. Ele tem recorrência”.
Questionado pela senadora Eliziane Gama, Dominghetti voltou atrás, afirmando que quando recebeu o áudio de Cristiano, ele colocou um “print” de uma publicação de um deputado e o áudio embaixo. “Eu não sei o teor que ele conversou, não sei o que ele conversou, qual foi a narrativa, de quando foi o áudio, não posso fazer esse juízo de valores. Quem pode responder que tipo de transação, quando foi feita, momento que fez, é somente o Cristiano”, afirmou.
Dominghetti, então, completou, questionado pela senadora: “O modus operandi que se sugestiona no áudio, como eu conheço, ninguém faz prova de vida de vacina. Ninguém pega celular e filma a vacina. Mas como veio sugestionado em cima um print dele, e embaixo do áudio, eu não sei ao certo qual a tratativa comercial estava sendo tratada ali”.
"Aquisição de luva"
Luis Miranda respondeu minutos depois, em entrevista no Senado. Afirmou que o áudio se refere a uma negociação para aquisição de luva de uma de suas empresas nos Estados Unidos. De acordo com ele, Dominghetti é uma figura que surge apenas para prejudicá-lo, por ter feito denúncias que atingem diretamente o presidente Jair Bolsonaro.
O deputado foi à CPI na semana passada, ao lado do seu irmão Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, e afirmou que levou ao mandatário suspeitas do seu irmão em relação à negociação da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos.
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