DEMOCRACIA

Polêmica relação de Bolsonaro com militares vira artigo no New York Times

Cientista político Gaspard Estrada afirma que os militares precisam decidir de que lado estarão: o da lei e o da Constituição ou o lado do chefe do Executivo

Talita de Souza
postado em 22/07/2021 20:26
 (crédito: Marcos Corrêa/PR)
(crédito: Marcos Corrêa/PR)

A relação estreita entre o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) e as Forças Armadas atingiu o debate internacional. Em um artigo publicado no jornal The New York Times, nesta quinta-feira (22/7), o cientista político e diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe no Sciences Po, em Paris, Gaspard Estrada, afirma que Bolsonaro estimula uma “ruptura institucional na segunda maior democracia do continente americano” e que “os escalões superiores das Forças Armadas têm tido papel central nesse objetivo”.

O texto foi publicado em espanhol com o título "O dilema dos militares brasileiros: apoiar Bolsonaro ou a democracia". Nele, Estrada compara o presidente brasileiro a Donald Trump e diz que a única diferença entre eles, no esforço de enfraquecer instituições democráticas, é o apoio dos militares, que “muitas vezes respaldam o ataque autoritário do capitão reformado”, cita o cientista, como os ataques do chefe do Executivo ao sistema eleitoral um ano antes das eleições.

Para Estrada, a ação é incompatível com o papel das Forças Armadas e que é preciso observar que o futuro do país também está nas mãos dos homens que juraram servir o país.

Ele lembra, ainda, da nota assinada pelo ministro da Defesa, Braga Netto, divulgada no início do mês, em repúdio às declarações do presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), que afirmou que durante muitos anos o país “não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”.

Na ocasião, Braga Netto afirmou que os militares não aceitariam “qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. Sobre o assunto, o cientista político afirmou que a ação foi uma maneira de exigir a impunidade dos colegas e apoiar, novamente, os “desejos golpistas de Bolsonaro”.

"As altas autoridades militares exigiram publicamente a impunidade para os seus próprios. Ao fazer isso, o Exército duplica sua aposta a favor dos desejos golpistas de Bolsonaro contra a democracia brasileira", diz.

Para ele, apoiar “cegamente um governo que realiza um dos processos mais extremos de destruição da democracia no mundo” fará com que as patentes militares estejam, historicamente, associadas à Bolsonaro.

Estrada, então, diz que só há um caminho para que as instituições militares recuperem a plena integridade: o rompimento com o presidente da República. "Se as Forças Armadas querem manter a adesão às leis e à Constituição, devem decidir se estão com Bolsonaro ou com a democracia". 

 

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