CPI da Covid

Citado na CPI, coronel Guerra diz que é amigo de CEO da Davati

Coronel da reserva, que mora nos Estados Unidos, diz que, por vezes, atua como tradutor para Herman Cardenas, sem remuneração. Militar foi citado em depoimento de Cristiano Carvalho, representante da empresa americana no Brasil, como uma das pessoas que atuou na negociação de vacinas com o Ministério da Saúde. Ele também trocou mensagens com o cabo Dominghetti, que denunciou suposto pedido de propina

Sarah Teófilo
postado em 21/07/2021 16:07 / atualizado em 21/07/2021 16:09
 (crédito: CB/D.A. Press)
(crédito: CB/D.A. Press)

O coronel da reserva remunerada da Força Aérea Brasileira (FAB) Glaucio Octaviano Guerra, citado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 nas apurações envolvendo a empresa americana Davati Medical Supply, disse aos senadores que é amigo do CEO da empresa, Herman Cardenas, há dois anos, e que, por vezes, a pedido dele, atua como tradutor nas ligações comerciais “com pessoas que não dominam a língua inglesa”.

“Não possuo vínculo empregatício, não possuo contrato assinado e não sou porta-voz da empresa, pois nunca recebi nenhuma remuneração por qualquer tipo de negociação ou serviço prestado”, afirmou Guerra, em documento enviado à comissão. O coronel disse, ainda, que apresentou Cardenas a Cristiano Carvalho, compartilhando o telefone de um com outro, no dia 25 de fevereiro deste ano. Cristiano é o representante da Davati no Brasil, e disse à CPI que foi apresentado a Cardenas por intermédio de Guerra.

O coronel tem sido citado na CPI e foi apontado por Carvalho como porta-voz de Cardenas. A Davati passou a ser um dos focos da comissão depois que o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais (PM-MG) Luiz Paulo Dominghetti, apontado como vendedor de vacina autônomo da referida empresa, disse que, ao tentar vender 400 milhões de doses da vacina da Astrazeneca ao governo brasileiro, recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, exonerado após o escândalo, que nega acusação.

Os senadores afirmam que o governo negociava vacinas que nem sequer existiam com uma empresa intermediária, quando a própria AstraZeneca já afirmou que faz as negociações diretas com o governo, e não com intermediários. À CPI, questionado sobre a disponibilização dessas doses, o próprio Cristiano disse que vinha pedindo à empresa uma explicação sobre a disponibilidade das doses, e que até então não havia recebido a informação.

Troca de mensagens no celular

Guerra passou a ser citado depois que o celular de Dominghetti foi periciado. No telefone, aparecem trocas de mensagens entre o cabo e o coronel, que mora nos Estados Unidos, nas quais falam sobre vacinas. O nome de Guerra começou a ser apontado como mais um que atuou na negociação das vacinas. Aos senadores, Cristiano Carvalho citou o coronel em diversos momentos, dizendo que ele dava um apoio tanto para Cardenas, nos EUA, quando para as pessoas que atuavam pela empresa no Brasil. Segundo Cristiano, foi Guerra que o apresentou à empresa e deu referências a respeito do CEO, Herman Cardenas.

O executivo disse que conheceu Guerra por meio de um amigo do Brasil e outro dos EUA, em 2020. “Ele estava intermediando algumas situações de outros produtos, era a respeito de luvas, e me apresentaram a ele. E eu criei uma relação um pouco mais próxima com ele e um pouco menos comercial. Por isso que eu, inclusive, entrei na relação das vacinas, porque eu desconhecia a Davati, nunca tinha ouvido falar”, afirmou.

Coronel serviu na Base Aérea de Brasília

Em documento enviado à comissão, Guerra esclareceu ainda que, em relação à sua carreira, serviu na Base Aérea de Brasília, de 2004 a 2011, quando atuou no Grupo de Transporte Especial, transportando autoridades do primeiro e segundo Escalão dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário pelo Brasil e para o Exterior. Em 2013, ele foi selecionado para exercer a função de chefe da Divisão Logística da Comissão Aeronáutica Brasileira em Washington, nos Estados Unidos. Em 2016, voltou ao Brasil e no mesmo ano foi para a reserva, e retornou aos Estados Unidos. Segundo ele, atua como consultor para empresas americanas que desejam ampliar o mercado para a América do Sul, Central e Ásia e Oriente Médio.

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