A CPI da Covid começa a formar a convicção de que havia no Ministério da Saúde um suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares e servidores da pasta, e que a empresa VTC Operadora Logística (VTCLOG) seria a chave para trazer à tona a estrutura ilegal. Ontem, o presidente da comissão de Inquérito, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse ter certeza de que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias era o “grande operador” da organização que funcionava dentro na Pasta.
Segundo Aziz, o esquema começou em 2018, na gestão do deputado e atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), no Ministério da Saúde, e continuou a partir de 2019, com Dias. O hoje parlamentar extinguiu a Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi), responsável pela distribuição de vacinas e de outros insumos pelo governo federal, e a substituiu pela VTCLOG.
“Tenho certeza de que o Roberto Dias era o grande operador dentro do Ministério da Saúde, não só naquela famosa reunião na mesa de bar no shopping (relatada por Luiz Paulo Dominghetti sobre a propina de US$ 1 por dose de vacina), como também em outros contratos que o Ministério da Saúde assinou nos últimos dois anos”, afirmou.
Já outro integrante do colegiado, o senador Humberto Costa (PT-PE), foi mais cauteloso e ressaltou a necessidade de coletar mais informações a atuação de Dias: “Há forte suspeita de que há ali um grupo de parlamentares que se beneficia de recursos gerados pela VTCLOG. Todo mês teria um valor. Mas tem que chegar mais informações”, explicou.
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Busca de nomes
Aziz, porém, relatou que, por muito tempo, Dias ficou no comando de todas as licitações e foi retirado durante a pandemia apenas no que se referia às vacinas contra covid-19, cujas negociações foram centralizadas na Secretaria-Executiva — controlada pelo coronel Elcio Franco. O senador disse, ainda, que é preciso saber “para quem ele operava”. A CPI suspeita que havia disputa entre dois grupos no ministério pelas negociações dos imunizantes.
“Ele controlava todo o ministério desde 2018. Há fortes indícios, segundo está sendo apurado, de que haja esse tipo de comportamento (propinas mensais). Vamos continuar investigando para que a gente possa, em cima dos fatos, chegar aos nomes, sem ter a irresponsabilidade de acusar A ou B. Mas há um forte indício, sim”, afirmou o presidente da comissão de inquérito.
Aziz ressaltou que Dias foi mantido no cargo, apesar de, em outubro do ano passado, terem tentado demiti-lo — a exoneração foi revertida após intervenção que teria partido do DEM. “Ele foi nomeado pelo Mandetta (ex-ministro Luiz Henrique Mandetta) e depois não saiu. Houve mudanças em vários cargos. Ele foi sair depois que a CPI o denunciou. Até então, ele era intocável”, atacou Aziz.
Indicações
O site da transparência do governo aponta que a VTCLOG firmou, ao menos, 16 contratos com o ministério, sendo que sete foram no período em que Ricardo Barros era ministro da Saúde. “A VTCLOG não está somente no Ministério da Saúde. Está em outros órgãos que nós estamos investigando também. Temos indícios também que foi colocado por meio de indicação”, observou.
A empresa de logística VTCLOG possui contratos com a União desde 2009, segundo informações do Portal da Transparência do governo federal. Atualmente, atende aos ministérios da Saúde e da Defesa. Reportagem de ontem, do site UOL, apontou que a prestadora de serviços pagaria propinas mensais de quase R$ 300 mil a servidores e políticos. A CPI pretende investigar a empresa após o retorno do recesso, em 3 de agosto, e a principal executiva da companhia, Andreia Lima, está convocada a prestar esclarecimentos.
Em nota, a VTCLOG disse que “repudia, com veemência, todos os fatos imputados a ela que tenham o condão de macular a sua imagem e reputação”. “Essas acusações são irresponsáveis e, quanto a todas elas, a empresa adotará todas as medidas judiciais cabíveis”, salientou. Já a defesa de Roberto Dias disse que não comentaria as declarações “por serem denúncias inexistentes com intuito de gerar factoides”.
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