Prestes a prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, o representante da empresa Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, negou que o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti tenha mencionado qualquer pedido de propina por parte de servidores do Ministério da Saúde quando tentou vender vacinas contra covid-19 ao governo. Disse, no entanto, que lhe foi mencionado um pedido de “comissionamento das pessoas que apresentaram o senhor Roberto Dias ao senhor Dominghetti”.
“Pelo que me recordo, foi a mim mencionado pelo Rafael Alves na época do jantar, que era um pedido de comissionamento das pessoas que apresentaram o Sr. Roberto Dias ao Sr. Dominghetti, mas como não existia comissão a ser negociada suplementar, já mostrei a inviabilidade de qualquer coisa nesse sentido desde então”, disse. Dominghetti afirmou em depoimento à CPI que no dia 25 de fevereiro, houve um jantar em um restaurante de Brasília com o ex-diretor do Departamento de Logística do ministério Roberto Dias, quando tentava vender 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao governo. Na ocasião, segundo ele, Dias teria pedido propina de US$ 1 por dose para fechar.
Questionado sobre de quem partiu o pedido de comissionamento; se teria partido de Dias, Cristiano negou. “Não, absolutamente não acredito nisso. Deve ter partido do empresário que estava no jantar ou quem os aproximou e marcou o encontro”, afirmou. O “empresário” em questão é José Ricardo Santana, amigo de Dias. Em depoimento, Dias afirmou que marcou de se encontrar com Santana (que, segundo ele, não é empresário) no restaurante, para tomar um chope, e Dominghetti chegou acompanhado por Marcelo Blanco, ex-assessor do DLOG, caracterizando o encontro como “incidental”. Dominghetti, por outro lado, disse que estava marcado, e que Blanco já estava no local.
Sobre o nome de quem teria pedido o comissionamento, e se achou o pedido estranho, Cristiano respondeu que achou de “tão mau gosto, por se tratar de vidas das pessoas”, que sequer levou o assunto em consideração. Perguntado se essa pessoa que teria pedido o comissionamento seria Blanco, que segundo Dominghetti o apresentou a Roberto Dias, Cristiano disse achar que é o Odilon, mencionado por Dominghetti. O cabo, entretanto, disse que uma pessoa identificada como "Odilon" o apresentou a Blanco, e Blanco o apresentou a Dias.
Ao Correio, Rafael Alves, que disse atuar como intermediário e representante comercial, negou que tenha mencionado a Cristiano qualquer pedido de comissionamento. “Em nenhum momento foi mencionado comigo qualquer comissionamento desse caso”, afirmou.
Cristiano Carvalho será amplamente questionado sobre as tratativas da Davati com o governo federal. À reportagem, ele afirmou que Dias jamais lhe pediu qualquer tipo de favorecimento, e que “não existe muito mais a acrescentar do ponto de vista da denúncia do Dominghetti e da negociação junto ao Ministério”. “A versão do pedido no jantar mencionado na denúncia do senhor Dominguete, cabe aos participantes esclarecerem pois eu nunca estive presencialmente com o senhor Roberto Dias ou coronel Blanco. É importante esclarecer e mencionar isso, pois existe uma expectativa de novos fatos que não tenho como produzir, provar ou comprovar”, disse.
Bomba
Trocas de mensagens entre Dominghetti e Cristiano, obtidas pela reportagem após perícia do telefone, mostram um diálogo no qual Cristiano fala em "jogar uma bomba em Brasília". Os dois conversavam sobre as negociações, que não avançaram mais após a saída do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, e falavam em procurar jornalistas, em meados de março. "Você falou com a turma do Elcio lá?", pergunta Dominghetti, referindo-se ao ex-secretário-executivo Elcio Franco, ao que Cristiano diz que eles não o respondem mais.
Ao Correio, Cristiano disse que se referia "ao sentido figurado de ter ido em vão em uma reunião em Brasília proposta pela Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, do reverendo Amilton Gomes de Paulo) a qual era para conclusão de uma negociação, e nada ocorreu".
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