O presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), e os militares entraram em rota de colisão, ontem, por conta de um comentário do parlamentar, na sessão da comissão de inquérito que ouviu o depoimento de Roberto Ferreira Dias — ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde —, que acusou “membros do lado podre das Forças Armadas” de estarem “envolvidos com falcatrua dentro do governo”. Ele se referia as suspeitas de irregularidades envolvendo os egressos da caserna nas negociações de compra de vacinas contra a covid-19.
No final da tarde, o Ministério da Defesa emitiu uma nota de repúdio, assinada pelo ministro da pasta, Walter Braga Netto, e pelos três comandantes militares, rebatendo Aziz e tachando as acusações de serem “levianas”. “Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável”, diz o texto. O presidente Jair Bolsonaro compartilhou a reação na sua conta particular do Twitter.
Aziz, porém, voltou ao ataque, durante a sessão do Senado. “A nota é muito desproporcional. Façam mil notas contra mim, mas não me intimidem. Se me intimidam, intimidam esta Casa aqui”, reagiu, no plenário. Após o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmar que os senadores prezam pela harmonia e pela estabilidade, e dizer que o Parlamento não tentou ofender as Forças Armadas, Aziz indignou-se: disse que esperava uma posição firme do colega contra a “intimidação” dos militares.
“Muitos que estão aqui, hoje, na década de 1970, 1980, estavam lutando para a gente estar aqui falando o que quer. Então, senhor presidente (Rodrigo Pacheco), o Senado somos nós”, rebateu.
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Irritação
Mais cedo, durante os trabalhos da CPI, irritado com o depoimento do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias — que terminou preso —, o senador amazonense fez o seguinte comentário: “Vou dizer uma coisa: os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que, hoje, estão na mídia. Porque fazia muito tempo, fazia muitos anos, que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo”, observou, por conta da suspeita dos integrantes da CPI que há uma disputa entre os militares e o Centrão pelo controle dos contratos da Saúde.
Aziz citou os nomes do ex-ministro e general Eduardo Pazuello; do ex-secretário-executivo da pasta, coronel Elcio Franco; e de um certo coronel Guerra — citado nas mensagens do cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que acusou o ex-diretor de Logística de ter pedido propina para aprovar a compra de vacinas.
Dominghetti disse, ainda, ter sido apresentado a Ferreira Dias por mais um militar: o tenente-coronel Marcelo Blanco, que era assessor do DLog até janeiro deste ano, e também tinha a função de diretor substituto do departamento.
Além desses, o responsável pelas importações do Ministério, Luis Ricardo Miranda — que disse à CPI ter sofrido “pressões anormais” para agilizar a importação da vacina indiana Covaxin —, apontou outros dois militares: o tenente-coronel Alex Lial Marinho, ex-coordenador-geral de Aquisições de Insumos Estratégicos para Saúde, e o coronel da reserva Marcelo Bento Pires, ex-diretor de Programas.
“Infelizmente, o que nós temos ouvido aqui nos relatos do depoente (Ferreira Dias) é que, geralmente, tem alguém das Forças Armadas. Isso não é bom para o Brasil”, disse Aziz. E acrescentou: “Fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo. Eu não tenho notícia disso na época da exceção. O (ex-presidente João Baptista) Figueiredo morreu pobre, o (ex-presidente Ernesto) Geisel morreu pobre. Agora, a Força Aérea Brasileira, o coronel Guerra, general Pazuello... Membros militares das Forças Armadas”.
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