Apontado como figura próxima ao presidente Jair Bolsonaro, o reverendo Amilton Gomes de Paula entrou nos holofotes da Comissão Parlamentar de inquérito (CPI) da Covid-19 após revelações de que teria papel central na negociação de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, fazendo o intermédio entre o Ministério da Saúde e a Davatti Medical Supply, empresa que também levanta suspeita dos senadores. Em depoimento nesta quarta-feira (7/7), o ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias confessou ter se encontrado com o reverendo para tratar de vacinas.
“Eu lembro de tê-lo recebido em agenda oficial, na minha sala”, respondeu Dias ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB/AL). Esse encontro, segundo o ex-diretor, teria ocorrido uma única vez, no Ministério da Saúde. “A retórica era a mesma: possuía "x" doses disponíveis e não possuía a carta de representação do fabricante. E aquilo acabou ali”, disse, explicando o motivo de ter tido uma única visita do reverendo. Por outro lado, afirmou não se lembrar de quem teria marcado esta reunião nem se teria sido uma iniciativa que partiu da Casa Civil.
Diante do esquecimento, o relator pediu a Dias que fizesse um esforço de memória, já que o reverendo é uma figura que “se dizia ter acesso ao Presidente da República e que iria ao ministério representando a vontade do Presidente para negociar vacinas”. O depoente reafirmou não saber. “Vocês podem requisitar essa informação, inclusive, no Ministério da Saúde”, respondeu Dias.
Apesar de ter confirmado o encontro com Amilton, tratar de vacinas não era uma competência de Dias, como ele mesmo afirmou em diferentes momentos do depoimento. Segundo o ex-diretor, durante a pandemia, as negociações foram concentradas na secretaria-executiva da pasta. A mesma incoerência ocorreu em relação ao encontro com o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais e representante comercial da Davatti, Luiz Dominghetti. Eles se reuniram em um jantar de negócios em 25 de fevereiro, ainda que Dias não tivesse responsabilidade sob as negociações.
Dominghetti foi o responsável por trazer o nome de Dias ao foco na CPI. O representante afirmou que partiu do ex-diretor de Logística o pedido de propina de U$ 1 por dose de vacina que fosse negociada com o governo federal. Mas, foi ao lado do reverendo Amilton que Dominghetti tive acesso ao ministério. Os dois estiveram com Dias em março para tratar sobre a aquisição das vacinas.
Amilton dirige a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma entidade privada. Revelado o envolvimento de Amilton nas negociações, a CPI da Covid-19 aprovou a convocação do reverendo. Ainda não há data marcada, mas a expectativa é de ouvi-lo já na próxima semana.
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