O ex-diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde Roberto Dias disse, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quarta-feira (7/7), que nunca houve pedido de propina ao cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que se diz vendedor autônomo de vacinas da empresa Davatti Medical Supply, com sede nos Estados Unidos. “Esse episódio nunca ocorreu”, disse, ao ser questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).
Na última semana, Dominghetti afirmou à CPI que se encontrou com Dias por intermédio do tenente-coronel Marcelo Blanco, que era assessor do DLOG até janeiro deste ano e tinha a função de diretor substituto do departamento. De acordo com o cabo Dominghetti, na ocasião, ele tentou negociar 400 milhões de doses de vaicna da AstraZeneca, a US$ 3,50 por dose, e Dias teria pedido propina de US$ 1 por dose para fechar negócio.
Roberto Dias afirmou que, na ocasião, 25 de fevereiro, estava tomando um chopp com um amigo, José Ricardo Santana, quando Blanco chegou com Dominghetti. O ex-diretor disse que orientou o cabo a marcar uma reunião oficial no Ministério da Saúde, no dia seguinte, para levar documentação mostrando que a empresa poderia representar a AstraZeneca. O encontro se deu às 15h de 26 de fevereiro. Segundo Dias, foi apresentado “mais do mesmo”, e nunca mais falou com o cabo sobre o assunto.
“Nunca houve nenhum pedido meu a esse senhor, além de documentos que nunca foram apresentados. O mesmo já reconheceu à CPI que nunca, antes daquela data, havia estado comigo. (...) Foi constatado ser (Dominghetti) um picareta, que tentava aplicar golpes em prefeituras e no Ministério da Saúde e, durante sua audiência, deu mais uma prova de sua desonestidade, mostrando não ser merecedor de nenhum crédito por parte desta Casa”, afirmou, referindo-se ao áudio, apresentado pelo cabo, com falas do deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF), que provou-se ser editado e fora de contexto.
Covaxin
Dias também está envolvido nas suspeitas relativas à negociação do governo para compra da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, representado pela empresa brasileira Precisa Medicamentos. Um contrato foi assinado em fevereiro para compra de 20 milhões de doses por R$ 1,6 bilhão. À CPI, o deputado Luis Miranda e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, responsável pela área de importação da pasta, relataram que o segundo sofreu “pressões atípicas” para acelerar a importação dos imunizantes, com erros na invoice (fatura internacional).
Roberto Dias criticou a dupla, e disse que foi injustamente acusado de pressionar um funcionário, ressaltando que a única mensagem apresentada como prova mostra Dias perguntando sobre o Licenciamento de Importação (LI) da vacina, em 20 de março. Segundo ele, “a mensagem em nada se referia à Covaxin”, mas sim a vacinas da Astrazeneca que chegariam no dia seguinte.
“Não tive participação alguma na escolha da empresa, do produto, dos quantitativos disponíveis, do cronograma de entrega ou da definição de preço, nem tampouco nas condições contratuais, a mim cabendo, no âmbito das vacinas covid-19, atos ordinários para a consecução do processo administrativo e medidas operacionais de logística. Friso: nunca houve pressão minha sobre o funcionário, muito menos aquela mensagem retrata tal fato”, disse.
No caso envolvendo Dominghetti, apesar de dizer que não cabiam a ele as negociações sobre vacina, Dias afirmou ter pedido ao cabo para ir ao Ministério da Saúde levar a documentação a respeito da proposta de 400 milhões de imunizantes da AstraZeneca. “Pedi que encaminhasse um pedido formal de agenda ao ministério. Se sua documentação fosse consistente, um processo seria aberto e encaminhado Secretaria-executiva para providências, uma vez que a ela cabia toda a negociação de vacinas covid-19”, afirmou.
Dias ainda disse achar estranho que “todas as falsas e fantasiosas acusações de alguma forma se ligam ao deputado Luis Miranda”. “A pergunta mais importante que fica: teria eu atrapalhado algum negócio do ilustre deputado?”, questionou. Em outros momentos do depoimento, ele joga suspeitas sobre o parlamentar.
“Até o momento, noticiava-se que o deputado teria sido preterido em expectativas políticas que almejava. Teria, então, tido pretensões negociais e econômicas frustradas também. Confesso que neguei um pedido de cargo para o seu irmão servidor e, por um momento, imaginei que pudesse ser uma retaliação. E confesso que sempre achei desproporcional demais. Mas, agora, o que se deslinda é a possibilidade de ter ocorrido uma frustração no campo econômico também”, disse.
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