Um estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em parceria com a startup Arena Digital, revela pontos importantes sobre a relação entre redes sociais e atividade política. A pesquisa analisou as interações e média de seguidores de nove senadores envolvido na CPI do Covid nas últimas semanas. E chegou a duas conclusões relevantes. A primeira: nem todo político que atrai holofotes na CPI tem projeção equivalente no ambiente digital. E a segunda: a militância bolsonarista permanece rápida e ativa nas redes sociais.
De acordo com a pesquisa, realizada pelos departamentos de Informática e de Comunicação da PUC-RJ, a visibilidade política proporcionada pela CPI não se traduz automaticamente em crescimento na mídia digital. Dos nove políticos com perfis analisados, com a exceção do senador governista Marcos Rogério (PP-RO), houve ligeiras modificações na média semanal de interações por postagens.
O relatório analisou os perfis no Facebook de Humberto Costa (PT-PE), Otto Alencar (PSD-BA), Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Randolfe Rodrigues (REDE-AP), Simone Tebet (MDB-MS), Renan Calheiros (MDB-AL), Omar Aziz (PSD-AM) e Marcos Rogério (PP-RO), durante os meses de abril, maio e junho de 2021. Nesse período, Marcos Rogério cresceu quase 75% no número de seguidores, com um aumento absoluto de mais de 40 mil seguidores. Além disso, o senador passou de uma média de 600 interações por postagem, na primeira semana de maio, para uma média de quase 5.500 interações por postagem. Ainda assim, Marcos Rogério está entre os parlamentares da CPI com número mais baixo de seguidores, na faixa de 100 mil.
Entre os senadores analisados, Humberto Costa (PT-PE) é o mais popular no Facebook, com praticamente 1 milhão de seguidores. O parlamentar petista foi quem demonstrou posicionamento mais consolidado na rede social, com médias semanais de 6 a 8 mil interações por postagem. O perfil do senador, no entanto, não demonstrou variação significativa no que se refere a interações ou número de seguidores durante o período analisado no relatório — apenas 2,5%. Os números indicam que o parlamentar se encontra em um patamar estável no ambiente digital.
Segundo o senador petista, esses números são resultado de um trabalho prolongado. “Na verdade, esse é um trabalho que estamos fazendo há mais ou menos uns cinco anos de efetividade nas redes sociais”, afirmou Humberto Costa ao Correio.
Comunicação política
Um dos responsáveis pela estudo sobre o desempenho dos integrantes na CPI no ambiente digital, o professor da PUC-RJ Arthur Ituassu explica que, apesar do avanço extraordinário das redes sociais, muitas vezes um evento presencial não se propaga tão rápido na internet. “Há uma tendência de imaginar a internet e a política como dois universos separados, como um mundo online e mundo offline. Isso, do ponto de vista da comunicação política, não faz mais sentido", ressalta o acadêmico, em primeiro lugar.
"Porém, quem está ganhando visibilidade na CPI não ganha automaticamente destaque nas mídias sociais, pois, muitas vezes, é perceptível uma dificuldade dos políticos tradicionais de trabalhar esse tipo de comunicação de forma efetiva de modo a ter benefícios com a visibilidade que ganha em eventos como esses no mundo político”, acrescenta.
Ituassu pontua que a alteração linear nas médias semanais é típica entre políticos que investem na presença online com mais dedicação. “Um posicionamento prévio mais consolidado nas mídias sociais, como o do senador Humberto Costa, não é condição suficiente para melhor se aproveitar a visibilidade proporcionada pela CPI e gerar crescimento no número de seguidores ou na média de interações por postagem”, explica.
Outros políticos, porém, ganharam destaque por sua participação no tema da CPI. Observado isoladamente, o senador Otto Alencar (PSD-BA) obteve destaque pontual no período analisado, com um pico na média semanal de interações por postagem entre 30/05 e 05/06. O senador, que é médico, ganhou grande visibilidade na CPI durante esta semana, com discursos fortemente críticos à condução da política contra a pandemia pelo governo Bolsonaro, entrevistas à imprensa e atuação contundente no depoimento da médica Nise Yamaguchi.
Ao fim do período analisado, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) também demonstrou um ganho de posicionamento no Facebook. Tebet cresceu de aproximadamente 260 interações por postagem na semana de 06 a 12/06 para mais de 700 interações. A senadora também ganhou mil novos seguidores entre 19 e 26/06, em especial entre 25 e 26/06, após a performance durante os depoimentos dos irmãos Miranda.
Efeito manada
O senador Marcos Rogério, um dos mais ardorosos defensores do governo Bolsonaro na CPI, obteve maior crescimento no Facebook entre os parlamentares analisados no relatório. Ele angariou um crescimento expressivo de seguidores e na média semanal de interações por postagem. De abril a junho, Marcos Rogério cresceu quase 75% no número de seguidores, com um aumento absoluto de mais de 40 mil seguidores. Além disso, o senador passou de uma média de 600 interações por postagem, na primeira semana de maio, para uma média de quase 5.500 interações por postagem entre 20 e 26/06
“Como já percebemos em outros relatórios produzidos, os perfis de políticos bolsonaristas têm apresentado altíssimo grau de eficiência nas mídias sociais, especialmente no Facebook. Neste relatório, novamente, um perfil apoiador do governo Bolsonaro demonstrou um grau de aproveitamento da visibilidade política propiciada pela CPI muito maior que o dos outros senadores analisados”, descreve o documento.
De acordo com Arthur Ituassu, esse tipo de resultado é cada vez mais comum no grupo aliado ao governo. “Temos percebido isso em vários outros estudos. Há um predomínio muito forte dos políticos bolsonaristas, com níveis de interações muito maiores que de oposição. Muitos deles, inclusive, são investigados na CPI das Fake News”, observa o professor da PUC-RJ.
Na opinião do especialista, porém, o alto engajamento desses grupos na internet não vem de um esforço profissional da equipe dos políticos em si, mas sim por parte da população — fator que ele chama de “militância voluntária”. “Não acredito que o próprio Marco Rogério e sua equipe tenham investido nesse posicionamento dele nas redes sociais, mas sim que, com o destaque do senador como principal defensor do governo na CPI, sua linha de militância o buscou para reforçar posição também naquele ambiente. Não houve mudança na quantidade e qualidade das postagens, mas sim um movimento por parte de seus apoiadores ”, comenta Ituassu.
No caso específico do senador Marcos Rogério, o estudo caracteriza a simultaneidade entre o aumento de seguidores e o crescimento expressivo da média semanal de interações por postagem como “efeito manada bolsonarista”.
“Isso se tornou um ambiente de comunicação política dominado pelo bolsonarismo. O que é prejudicial para o ambiente político, pelo fato de você se ter uma única visão muito predominante”, afirma Ituassu. “O próprio Bolsonaro fez um investimento de dez anos nas mídias sociais, não foi algo que surgiu em 2018. O engajamento bolsonarista se consolida por uma mistura de um trabalho profissional e de militância voluntária”, acrescenta.
Presença de Bolsonaro
O estudo também registra a presença do presidente Jair Bolsonaro na internet durante o período analisado. Perto de alcançar 40 milhões de seguidores em seus perfis oficiais no Facebook, Twitter, Instagram e Youtube — hoje são 39,5 milhões —, o atual fluxo de informação digital sobre o presidente começa a se aproximar dos níveis registrados na campanha de 2018.
Desde 13 de abril de 2021, quando o Senado instalou a CPI, Bolsonaro ganhou mais de 220 mil novos seguidores, e os seus posts alcançaram 92 milhões de interações. No período anterior à instalação da CPI, entre 1º de janeiro e 12 de abril, a média de interações por post de Bolsonaro era de 1 milhão por dia. Hoje está em 1,6 milhão, variação de 60%. Para o especialista, essa é uma prova clara do volume desse “efeito manada”.
A assessoria de Marcos Rogério não quis comentar os resultados da pesquisa.
* Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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